Três anos depois...
Estávamos com a lareira acesa na sala de estar, vendo as crianças brincando no tapete. Ser pai me fez ser diferente, pensar diferente. Eu olho para essa cena agora e me lembro do dia em que eles nasceram.
Melinda olha terna para eles e eu só posso sorrir. Hoje eles fazem três aninhos e cada dia desses três anos foram os melhores de toda a minha vida.
Deixo eles na sala e vou até a varanda, observo a neve caindo e as sensações daquele dia me invadem.
As primeiras sensações foram horríveis. O pânico de vê-la sentindo dor e eu sem poder fazer nada e enfim o choro de Angelo, o meu pequeno. Lembro das lágrimas de Melinda ao sentir ainda mais dor.
Quando o médico disse que seriam dois bebês, meu pânico aumentou ainda mais. Minha pequena não aguentaria tanta dor. Ela precisou passar por uma cesária e vê-la tão frágil e com risco de morrer me tirou o chão. Lembro-me do meu desespero, tanto que tive que sair da sala e esperar do lado de fora. Chorei como menino até uma enfermeira aparecer.
- Senhor, quer segurar seu filho? - ela me perguntou e ao ver o meu estado, pareceu se arrepender do que disse.
- Por favor.
Peguei ele no colo e foi como se eu segurasse o mundo nos braços. Meu mundo, meu menino, meu filho. Ele abriu os olhinhos tempestuosos e fez um biquinho adorável.
- Olá, eu sou o seu papai. - disse como bobo e sorri em meio ao choro. Ele sorriu para mim e fechou os olhinhos se aconchegando em meu colo. - Sua mamãe ficará muito feliz quando puder ver você.
- Senhor, preciso levá-lo para a maternidade, logo vocês poderão ir para casa.
- E minha esposa, ela vai ficar bem? - perguntei com medo de ouvir a resposta.
- Vai, eu tenho fé que vai dar tudo certo. Ela é forte, e acredite: quando uma mulher se torna mãe, ela adquire uma força ainda maior. Fique tranquilo.
Ela pegou meu filho e o levou e eu me sentei no chão, aguardando alguma notícia.
Mais de duas horas depois e eu já estava sem forças para qualquer coisa, o doutor apareceu e me deu a melhor notícia que eu poderia receber:
- É uma menina, está saudável e sua esposa está muito bem. Vai precisar ficar alguns dias internada, mas apenas em observação. Quer vê-las?
Assenti sorrindo como um idiota e ao chegar no quarto vi Melinda amamentando nossa menina. Alice.
- Miguel? Está tudo bem? - ela se aproximou de mim, me arrancando momentaneamente das lembranças e me abraçou por trás depositando um beijo em minhas costas.
- Está sim meu amor, só estou relembrando o dia em que eles nasceram.
- Você sempre fica deprimido quando se lembra disso sozinho, vamos entrar, logo a família vai chegar para o almoço.
- Eu sei, mas eu senti tanto medo naquele dia. Você estava tão fraca, pensei que fosse..
- Shhh. - colou seus lábios nos meus me fazendo calar e esquecer o que estava dizendo. Nunca mudaria, a sensação sempre seria a mesma.
A correspondi com certa urgência, lembrar de que quase a perdi, me fazia aproveitar cada segundo e o medo de a perder novamente me fazia apertá-la contra mim e não querer soltar nunca mais.
********
Miguel está pensativo, olhando para o nada e eu sei bem o que habita sua mente nesse momento. O mesmo medo que ele sentiu, eu também senti. Lembrar-me de que hoje eu poderia estar morta e ele sozinho com nossos filhos, faz meu coração doer. Mas o que realmente importa é que eu estou aqui.
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A Garota No Manicômio - Completo
RomanceMelinda Knight tinha 15 anos quando foi para uma clínica psiquiátrica tratar de um grave distúrbio obsessivo. Ela tem a obsessão de observar animais. É até uma coisa comum, mas ela praticamente vivia em função disso, então os pais dela - ocupados d...