A Garota No Manicômio - Completo

Capítulo 12

*****Melinda*****

Eu passei por um momento de transição, uma espécie de metamorfose. Como uma lagarta que vira uma linda borboleta, eu me tornei mulher. Não sei dizer qual foi o momento exato, mas essa mudança radical me fez perceber que eu nunca estive doente. Eu nunca fui doente.

Eu tinha uma clara obsessão, mas fui negligenciada ao ser obrigada a viver num manicômio e eu admito que foi a melhor coisa que me aconteceu.

A vida e rotina monótonas me fizeram aprender o calor que o diferente trás. Eu resolvi deixar de lado parte daquela menina que eu fui e mostrar para o mundo que eu sou uma mulher e tenho opinião e voz.

Não vou deixar o amor da minha vida pagar por algo que ele não fez; não vou deixar ele se afastar de mim mais uma vez.

Eu cresci e foi com essa maturidade repentina que eu liguei para Josh e pedi sua ajuda. Num primeiro momento ele exitou. Mas logo aceitou que meu amor por Miguel não desistiria de me manter perto dele.

Depois que o plano foi colocado em prática e conseguimos sair do manicômio, fui com Miguel para o apartamento dele. Não era algo grande, nada que eu esperasse de um médico renomado como ele.

As estantes cheias de romances fantásticos, ficções, literatura de todos os países possíveis, não condiziam com sua pose de homem sério, mas condizia com sua pose de homem culto e que sabe das coisas.

Agora, olhando ao redor enquanto ele prepara meu chá favorito, percebo que estamos totalmente à sós. Totalmente diferente de quando estivemos à sós no manicômio, aqui realmente estamos à sós. Isso me deixou nervosa a princípio.

Mas eu o amo demais para sentir medo. Eu o amo demais para temer ultrapassar os limites. Eu o amo demais para dizer não quando ele me tocar. Eu o amo demais.

- Aqui está seu chá. Vou ficar devendo os biscoitos.

- Não precisa se incomodar.

Sorrimos um para o outro, talvez pelo desconforto, talvez pela simples presença. Miguel sempre tirou o melhor de mim em todos os sentidos e nesse exato momento não é diferente.

- É...

- Então...

Dissemos ao mesmo tempo e sorrimos como bobos.

- Eu vou falar primeiro. - ele disse antes que eu pudesse formular qualquer frase. - Antes de ir trabalhar no manicômio eu não tinha nenhuma aspiração. Eu só queria me formar e depois ver o que ia ser. Mas foi justamente no meu primeiro dia de estágio que eu conheci você. E quando eu pude te conhecer melhor, me senti completo como nunca antes. É até estranho, mas é verdade... - ele pausou um instante e tomou fôlego novamente - Eu comecei a viver depois de você aparecer na minha vida. Você foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. E neste momento eu nem sei o que estou querendo dizer.

- Miguel, eu sei exatamente o que você sente, pois eu sinto o mesmo. Eu já posso tomar minhas próprias decisões, sempre pude. Mas agora é diferente. Eu quero e preciso de você mais do que nunca.

- Eu posso ser condenado por estupro. Vou perder minha carteirinha médica e não vou poder exercer minha profissão tão cedo, talvez nunca mais. Vou perder tudo que eu já consegui por um capricho daquela mulher.

Me aconcheguei um pouco mais no sofá e segurei em suas mãos.

- Olhe para mim, acha mesmo que eu me importo com isso? Eu só quero ser feliz com você. Você não será condenado por crime nenhum, porque você é inocente. Você vai encontrar outro emprego. Isso é o de menos.