Capítulo 14

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Um barulho me faz acordar e demoro alguns instantes para me lembrar que estou no quarto de Luke e não no meu. Procuro o interruptor perto da cama e acendo a luz para enxergar Luke.

"Eu tentei não te acordar." Ele diz.

Luke está encharcado. Eu preciso olhar para a janela e me concentrar no barulho para notar que está chovendo, ou melhor, caindo uma tempestade.

Tento não mostrar meu nervosismo com isso, todas as noites de tempestade me lembram o que houve doze anos antes, eu tinha apenas seis anos, mas nunca vou poder esquecer.

Eu não gasto um tempo pensando em Ellie desde o começo da turnê, minha cabeça está sempre a mil. Por um lado é bom, eu não choro mais todas as noites e não fico remoendo. Por outro, é como se eu a estivesse abandonando.

"Tudo bem." Falo ainda sonolenta tentando focar em Luke e abandonar o pensamento. "Que horas são?"

"Mais de uma."

Ele está procurando alguma coisa, eu me levanto, vou ao banheiro e lhe trago uma toalha desconfiando que seja isso.

"Obrigado."

Sento-me na beira da cama e fico observando-o.

"Você está dormindo desde que sai?" pergunta.

Eu bocejo antes de responder.

"Aham." Falo. "Está bem tarde."

Tarde o suficiente para Luke ter tido tempo de sair, ficar com alguém, beber, fumar e sei lá mais o que. O pensamento me incomoda.

Um trovão alto lá fora me faz tremer e soltar um grito. Luke franze a testa.

"O que foi isso?"

"Eu tenho medo de tempestades." Conto uma meia verdade, omitindo a parte real. "Agora que eu acordei e vi que está chovendo vai ser difícil eu conseguir dormir. Normalmente eu preciso ir dormir com Cora para me sentir melhor, quando Riley morava conosco eu ia dormir com ele."

Luke sorri, se aproxima da cama e se agacha na minha frente.

"Você pode dormir comigo." Propõe.

A lembrança do que estávamos fazendo antes dele sair me fazem acreditar que não é uma boa ideia.

"Eu disse que respeitaria seus limites. Vou me comportar." Ele fala como se lesse meus pensamentos.

Um novo trovão e eu tenho outro susto. Droga! Por que isso nunca passa?

"Certo." Digo.

Luke vai até o banheiro se trocar e depois volta vestindo apenas bermuda. Sem camisa.

"Quantas tatuagens têm?" pergunto curiosa quando as observo.

"Nove."

"Nossa."

Uma delas me chama mais a atenção, na lateral esquerda de seu tronco há um pássaro, mais especificamente uma fênix com grandes asas começando a ser consumida pelo fogo.

"Todas têm um significado?" Pergunto.

"Sim."

"O que essa quer dizer?" Digo tocando a fênix.

Luke segura minha mão sobre a tatuagem, a expressão dele tem algo de ruim. Dor. Eu acho.

"Envolve muitas coisas. As asas tão grandes são pela liberdade." Diz. "Eu quis fazer algo que me lembrasse que depois de dias ruins só dependia de mim mesmo me purificar e renovar, assim como a fênix faz ao ser consumida pelo fogo, ela vai e volta. Eu sempre a invejei, essa foi a primeira tatuagem."

Detrás dos holofotesOnde histórias criam vida. Descubra agora