Saindo com um estranho.

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O final de semana logo se aproximava. O compromisso com Christopher pairava incessantemente em minha mente, não apenas por conta da insistência dele, mas também pela estranheza do encontro. Ele havia se tornado uma presença constante na minha semana, e essa constância estava me incomodando. Eu me sentia vigiada, uma sensação desconfortável que parecia se infiltrar em todos os meus momentos.

Meu pai adentrou o quarto, interrompendo meus pensamentos. Seu olhar brincalhão me fez esboçar um sorriso involuntário.

— Vai sair? — perguntou, lançando-me um olhar cúmplice. — Minha princesa tem um encontro?

— Eu não chamaria de encontro. Veja isso como um ato de caridade, um menino me impediu de sangrar até a morte, e agora estou retribuindo o favor.


Ele soltou uma risada calorosa e sentou-se na beirada da minha cama, seu olhar preocupado transparecendo.

— Por falar em salvar sua vida, me ligaram hoje da sua escola. Eles ainda não acharam quem fez isso com você, mas eu te prometo que eu não vou descansar até que eles encontrem.

Engoli em seco, tentando evitar reviver aqueles momentos angustiantes.

— Pai... — comecei, respirando fundo. — Esquece isso.

O silêncio preencheu o quarto por alguns instantes, carregado de preocupação e incerteza. Minha mente estava presa no emaranhado de sensações do incidente, as vozes ecoando, os passos rápidos no vestiário, o medo cortante...

Desviei o olhar, fugindo das lembranças. Minha mente estava dispersa em pensamentos sobre Christopher. Ele era um enigma, um mistério que pairava sobre a minha vida recente. Por mais estranho que fosse, ele havia surgido em um momento crítico e parecia disposto a estar presente em outro.

O que ele queria? Será que ele tinha alguma conexão com o que aconteceu? As perguntas ecoavam, mas as respostas pareciam estar além do meu alcance.

O som da campainha ecoa pelo andar de baixo. Com um suspiro, pego minha jaqueta jeans e desço as escadas para atender a porta. Assim que abro, deparo-me com Christopher, segurando uma caixa de bombons.

— Bom saber que você ainda está viva — ele brinca, abrindo um sorriso.

— Obrigada — respondo, sorrindo também.

Ele estende a caixa para mim.

— Trouxe para você. Espero que goste.

— Você salva minha vida, me chama para sair, me dá bombons... — brinco, pegando a caixa de suas mãos.

Christopher me olha de forma debochada.

— Não gostou? Posso pegar de volta se assim achar melhor.

Faço uma expressão de pouco caso e coloco a caixa de bombons em uma mesa de canto ao lado da porta.

Então, meu pai aparece atrás de mim.

— Não vai me apresentar? — diz ele, e Christopher imediatamente ajusta sua postura.

— Olá, Sr. Bannet. Me chamo Christopher — ele diz, estendendo a mão para meu pai, que a aperta.

— Olá, Christopher, é um prazer conhecê-lo pessoalmente. Obrigado por ter ajudado a Casey aquele dia na escola

Christopher assente em concordância. O silêncio paira por alguns minutos, a atmosfera se tornando um tanto desconfortável. Decido quebrar aquele momento.

— Tudo bem — interrompo o constrangimento. — Hora de ir — dou um beijo em meu pai e saio, com o garoto seguindo atrás de mim.

O clima parecia um pouco estranho na despedida, deixando uma sensação ambígua no ar enquanto saíamos de casa.


XXX

A tarde estava permeada por uma brisa suave e o sol começava a perder sua intensidade quando avisto a moto preta estacionada do outro lado da rua.

— Você veio de moto? - pergunto, apontando para o veículo.

— Não gostou dela? - ele responde, enquanto íamos em direção ao transporte. Chegando lá, ele para, levanta o banco e tira um capacete extra.

— Você é um clichê ambulante. - reviro os olhos. - Esse seu visual, sempre de preto, jeans e jaqueta de couro... parece saído de um filme adolescente.

— Você não curte esses filmes? - ele lança um olhar irônico, entregando-me o capacete.

Faço cara de pouco caso pegando o capacete da mão dele

— Tudo bem, "senhora sou boa demais para um cara como você". Como a senhorita quer que eu venha te buscar da próxima vez? 

— Quem disse que haverá uma próxima vez? - desafio.

— Admite logo, Casey, esse meu estilo de filme adolescente te atrai - ele sorri de lado e sobe na moto colocando o capacete em sua cabeça e assim que ele o faz eu subo também. — Caso contrário, você não estaria aqui. — Finaliza ligando a moto. 

— Isso é só por causa da sua "boa ação". E a gente mal se conhece. Você deveria ficar feliz, porque eu não costumo sair com estranhos. 

— Não sou estranho, Casey. Eu te conheço melhor do que você pensa - ele arranca com a moto, deixando a frase pairando no ar, uma atmosfera carregada de mistério e tensão.

Caído para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora