O misterioso salvador da Casey

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— Finalmente você acordou. - Joey murmurou ao ver meus olhos se abrirem, seus olhos  estavam fixos em mim, cheios de preocupação. Ao lado, Andy também me encarava, uma mistura de angústia e raiva em seu olhar.

— O que... o que aconteceu? — minha voz soava confusa, ainda tonta. — No vestiário...?

— Alguém te empurrou lá dentro. — Andy respondeu, irritação transparecendo em sua voz. — Você desmaiou. Foi um susto!

Meu coração acelerou, sentindo-se como se quisesse saltar pela boca. Olhei em volta, tentando juntar as peças em minha mente. Tudo estava turvo, como se eu estivesse tentando encontrar uma saída de um labirinto escuro e confuso.

— Como cheguei aqui? — minha voz soou trêmula, ecoando como um sussurro frágil.

A enfermaria se desdobrava diante de mim, um espaço estéril preenchido com o zumbido distante das luzes brancas. Minha cabeça latejava, uma sensação de pressão que parecia preencher todo o espaço ao meu redor. Joey e Andy estavam à minha frente, seus rostos embaçados como sombras distantes em meio à névoa.

— A enfermeira disse que você chegou desmaiada nos braços de um garoto — Joey explicou, sua expressão tensa, suas palavras soando distantes.

Eu tentava desesperadamente juntar os fragmentos soltos de memória. Tudo parecia embaçado, uma teia de confusão entrelaçada em minha mente. Uma lembrança vaga, um vislumbre fugaz de um vestiário, e então... escuridão.

— Lembro-me vagamente... mas não sei quem é... — uma onda de desorientação me atingiu, como se estivesse presa em um turbilhão de imagens incertas, flutuando entre sonho e realidade.

A sensação era de estar à deriva, de não ter chão sob meus pés, e isso me envolveu em um medo paralisante. Minhas mãos tremiam involuntariamente, meus olhos fixos no vazio, buscando compreensão em um labirinto de lembranças fragmentadas.

— Conseguiu ver o rosto dele? Sabe quem é? — Pergunta Andy, seus olhos refletindo a confusão e preocupação que eu sentia.

— Não, nunca o vi na minha vida. No entanto, ele sabe quem eu sou.

×××


Permaneci na enfermaria até o intervalo. A sensação de desconforto e confusão ainda me acompanhava quando finalmente me liberaram. Cambaleante, direcionei-me à área de alimentação do lado de fora. O dia parecia menos iluminado, mais sombrio do que o habitual, e cada som ao meu redor ecoava como um sussurro distante em meus ouvidos. Cada passo era um esforço para dissipar a nuvem que parecia pairar sobre mim.

Chegando à área de alimentação, as mesas estavam preenchidas com estudantes, conversas animadas e risos abafados preenchiam o ar. Eu, porém, escolhi uma mesa mais afastada, procurando isolamento para tentar acalmar a dor persistente em minha cabeça.

Meus olhos buscavam o horizonte, tentando fazer sentido do turbilhão de pensamentos que inundava minha mente. Fragmentos desordenados de lembranças, uma mescla borrada de flashes do incidente no vestiário e da figura misteriosa que me resgatara.

Estava em um mar de indagações. Quem poderia ter me empurrado no vestiário? O que essa pessoa ganharia com isso? E o garoto desconhecido que me ajudou, por que se importaria comigo?

Minha cabeça latejava como se cada pulsar fosse um eco dos segredos que pairavam ao meu redor. Aquela atmosfera tensa pairava, um enigma esperando para ser desvendado, mas os fragmentos dispersos da minha mente não se encaixavam. Fiquei ali, tentando afastar a confusão que parecia abraçar cada pensamento, enquanto o alvoroço do ambiente me deixava ainda mais perturbada.

 Meus pensamentos, no entanto, foram puxados de volta para aquele tormento noturno. Era como se o tempo tivesse congelado naquele momento fatídico. 

A imagem da estrada aberta diante de nós parecia uma pintura serena contrastando com o caos iminente. O carro em que estávamos parecia pequeno e vulnerável na imensidão da estrada. Meu pai estava ao volante, cantarolando uma música antiga que sempre o fazia sorrir. Minha mãe, ao lado, estava concentrada no mapa, planejando nossa rota. Eu, no banco de trás, absorta em um livro.

De repente, tudo mudou. Um som ensurdecedor irrompeu, uma cacofonia metálica e gritos, o impacto violento que lançou nosso carro para fora da estrada. Foi uma força incontrolável, um frenesi de metal retorcido, vidros estilhaçados e o grito desesperado da minha mãe. O mundo girava, tudo se misturava em um turbilhão de cores e sons. O impacto foi um golpe contra a minha consciência.

Naquele momento, eu senti um medo intenso, uma sensação de impotência diante da devastação que se desdobrava diante dos meus olhos. A confusão de sentimentos era avassaladora: desespero, angústia...

A cena do acidente continuava a assombrar meus pensamentos, cada detalhe parecia fresco e vívido.

As memórias se tornavam um fardo pesado e doloroso, um filme terrível que se repetia em minha mente. Como sobrevivemos àquela tragédia permanecia um mistério, uma questão que assombrava não apenas os outros, mas também a mim.

— Casey, você não faz ideia de quem poderia ter feito isso com você? — a voz de Andy interrompeu meus pensamentos. Sacudi a cabeça, tentando me concentrar. —Você não acha que poderia ter sido a Taylor?

—Por que a Taylor faria algo assim comigo, Andy?

—Nosso time acabou com o dela hoje e você sabe como ela é com derrotas — sentou-se no outro banco, jogando a mochila sobre a mesa. —Eu observei a reação dela e ela não parecia nem um pouco feliz.

— Não acredito que tenha sido a Taylor... — minha voz vacilou. — Vi alguém, um vulto masculino...

— E o garoto que te ajudou? — Andy questionou, enquanto pegava seu lanche. — Você sabe quem é? Como ele descobriu seu nome?

— Não faço ideia. — suspirei. — Mas ele sabia quem eu era.

— Poderia ser alguém do time de vôlei... — Joey sugeriu, interrompendo nossa conversa.

Deixei-os debatendo sobre o garoto que me resgatou e mergulhei em lembranças dolorosas do acidente. Revivi mentalmente a sensação de estar naquela estrada, o desespero consumindo-me enquanto tentava salvar minha mãe. A lembrança do caminhão se aproximando...

E então, os braços que me seguraram com firmeza, impedindo o pior... Era ele!

Os olhos azuis do salvador misterioso que me resgatara hoje se entrelaçavam com a visão do anjo do meu sonho. Uma conexão estranha entre o passado e o presente. A ligação era clara, embora eu ainda não conseguisse entender completamente. Aquelas íris azuis não eram desconhecidas; elas estavam gravadas em minha memória por causa daquela visão angustiante. Mas como ele estava lá, no meu sonho, e agora, me resgatando na vida real? Era algo além da compreensão.

Uma onda de perplexidade se misturou com o medo, um eco inquietante da conexão entre a visão e a realidade. No entanto, o mistério sobre o rapaz permanecia, como se fosse uma peça crucial em um enigma que eu ainda não conseguia decifrar completamente.

Caído para mimOnde histórias criam vida. Descubra agora