Peço que me desculpe, está bem? — falei a Laura, enquanto despejava cereal matinal numa tigela branca e a colocava diante dela. — Não voltará a acontecer.
A menina não disse nada; apenas ficou olhando para seu desjejum e esperou que eu acrescentasse o leite. Uma vez que o fiz, ela levou uma colherada de cereal até a boca e mastigou-o como se eu não existisse.
Tinha cinco anos e já era uma especialista em dar um gelo nos outros. Eu já havia sido submetida ao seu queixo teimoso e silêncio altivo por mais de catorze horas àquela altura. A atitude fria de Laura transmitia toda sua indignação, mágoa e raiva. Minhas desculpas eram sinceras. Não havia dormido na noite anterior por causa da culpa, mas não conseguia fazê-la entender aquilo. Nada do que eu dissesse parecia ser capaz de expressar quanto eu lamentava e que, de fato, não tornaria a acontecer. Eu não poderia suportar mais uma hora daquele silêncio, quanto mais dias. E se Laura nunca mais me perdoar?, pensei, observando-a comer. Viveríamos nesse clima pelos quinze anos seguintes ou mais. Anos.
— Ouça. — Puxei uma cadeira para perto dela. — Lamento demais o que houve e peço que me desculpe. Não acontecerá mais, prometo. Eu... sinto muito. Sabe, há uma mulher má no meu trabalho chamada Emma que não gosta de mim. Não há problema, porque não gosto dela também, mas tenho de trabalhar com ela. É a minha nova chefe. Assim, estou f... frita, morrendo de medo.
Com toda a indiferença, Laura levou mais uma colherada de leite e flocos de milho à boca.
— Tive de jantar com ela, e é uma mulher detestável. Tão arrogante. É horrível.
— Como uma bruxa? — ela perguntou, parando finalmente de me ignorar. Eu estava evidentemente falando sua linguagem agora.
Uma imagem de Emma com sobrancelhas mal feitas, nariz grande e com verruga, cabelo assanhado e garras imensas presas passou pela minha mente.
— Sim, exatamente como uma bruxa.
— Oh. — Ela balançou a cabeça numa demonstração de certa simpatia pela minha tribulação.
Uma batida à porta da frente sobressaltou-nos. Trocamos um olhar, perguntando-nos quem poderia ser. A pessoa tornou a bater, e adiantei-me depressa para ir atender.
Emma, alta e imponente, estava diante do meu apartamento. Vestia jeans e uma camiseta branca que lhe moldava os seios. Os óculos escuros D&G estavam presos na camiseta.
— Emma! Oh, mer... droga! — Eu me esquecera por completo de que a largara sentado num restaurante depois de ter pedido uma refeição cara.
— Sim, esse é o efeito que gosto de causar nas mulheres — especialmente em uma que apreciou tanto a minha companhia que fugiu do restaurante em que estávamos. — Ela segurava uma capa de chuva vermelha e, pelo botão faltando na manga, parecia-se muito com a minha.
Antes de eu poder começar a explicar, Laura apareceu ao meu lado, abraçou-me pela perna e olhou fixamente para Emma.
— Quem é esta? — perguntou ela, agachando-se diante da menina.
— É Laura — respondi. — Laura, esta é Emma, do meu trabalho.
Emma abriu um sorriso, um sorriso sincero que mudou a expressão em seu olhar, tornando-a amistosa, uma expressão que ainda não fora dirigida a mim. Laura exercia aquele efeito nos adultos. Olhavam para ela e sorriam, porque seus olhos eram de um azul incomum, a pele, perfeita como porcelana, os lábios eram rosados como algodão-doce. As pessoas olhavam para Laura e sorriam porque não podiam se conter.
— Prazer em conhecê-la, Laura.
Ela piscou duas vezes, estudou o rosto de Emma, os cabelos loiros cacheados, os traços fortes e ainda assim delicados, os olhos verdes. Depois, virou-se para mim, a testa ligeiramente franzida.

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A Filha
RomantikDesde que descobriu que seu noivo, Robin, tinha lhe traído com sua melhor amiga Kathyrin, há 4 anos atrás, Regina mudara totalmente sua personalidade. A noite de sexo entre seu noivo e sua melhor amiga, aparentemente inconsequente, gerou Laura, afil...