Cama?

1.4K 75 63
                                    

— Acho melhor eu ir lavar logo a louça. — Afastando o rosto rapidamen­te, levantei. Ela não se moveu, enquanto me encaminhei à área da cozinha. — Você comeu? — perguntei por sobre o ombro, sem olhar para trás para lhe observar a reação à minha fuga.

— Hã... não. — Eu a ouvi levantar do sofá.

— Sobrou macarrão, se quiser um pouco. — Pegando um prato do armá­rio, preenchi-o com macarrão e cobri-o com molho caseiro de tomate que ha­via deixado aquecendo. Emma pegou o prato que lhe estendi com seu jantar e foi até a mesa. Fez menção de pegar um garfo e, dando-se conta de que não tinha um, virou-se no exato momento em que eu a oferecia. Abrimos um sor­riso íntimo uma para a outra, do tipo que casais trocavam, e fui tomada por aquela sensação outra vez: mais do que desejo, menos do que amor; um co­quetel desenfreado de emoções que acabaria em sexo fantástico... e problemas.

Dois minutos depois, coloquei luvas de borracha, liguei a torneira elétrica e comecei a preparar a pia para lavar a louça. Emma apareceu logo ao meu lado, estendendo-me o prato vazio, com apenas alguns vestígios de molho de toma­te no fundo.

—  Meteu tudo goela abaixo sem mastigar, ou algo assim? — perguntei, pegando o prato e mergulhando-o na água com detergente na pia.

— Só percebi como estava faminta depois que comecei a comer... e, embo­ra seu macarrão mereça ser degustado, não consegui me conter. Nunca consigo, aliás. A cada vez que como, é tão bom que tenho de devorar tudo rapida­mente.

O quê? Lancei-lhe um olhar desconfiado.

— Essa é a sua maneira de dizer que cozinho bem?

Emma encontrou meu olhar, seu rosto cândido e inocente.

— Não que cozinha bem, mas maravilhosamente bem.

Ela está flertando comigo, pensei, contendo um sorriso. Aquilo por si só já era cômico. O fato de a mulher ser tão ruim em suas tentativas era hilário.

— Quer que eu ajude a lavar ou secar? — perguntou depois que me abstive de responder a seu comentário. Com dedos grandes, ágeis, desapertou os botões da camisa azul e dobrou os mangas.

— Nem uma coisa, nem outra. Você deve estar exausta. Por que não apro­veita para ir? — Era melhor que Emma saísse agora e poupasse a ambos do constrangimento dos meus sentimentos e do flerte dela.

— Nem quero ouvir. Eu comi e, portanto, ajudarei com a louça.

— Está bem, seque. — Entreguei-lhe um pano de prato e comecei a lavar a louça com uma esponja, enxaguando o primeiro item e dando-o a ela para que  secasse. Cuidamos da tarefa em meio a um silêncio tranquilo por um total de trinta segundos antes de ela rompê-lo.

— Você é tão boa mãe. Não sei como alguém poderia duvidar disso.

Olhei-a de soslaio e vi que enxugava vigorosamente um prato. Estava ner­vosa. A sra. Arrogância em pessoa estava nervosa ao flertar comigo.

— Laura é uma criança tão incrível, e isso é, em grande parte, graças a você. É uma ótima influência, importa-se tanto com ela e a encoraja. É...

— Está bem. — Deixei o prato que lavava na pia. — Pode parar. Está fazendo com que eu pareça Mary Poppins, Maria de A Noviça Rebelde e uma mamãe leoa, todas em uma só. Eu não sou isso. Sou Regina. A que vive estragando tudo.

— Você é dura demais consigo mesma. — Ela sacudiu a cabeça. — Notei isso logo de início. É muito crítica e exigente demais em relação a si. E não precisa ser. Você é uma excelente pessoa e mãe.

A Filha Onde histórias criam vida. Descubra agora