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Despertou, de súbito

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Despertou, de súbito. Relutou em abrir os olhos, experimentando uma intensa sensação de estranheza sobre o tempo e o espaço. Contraiu o corpo e não sentiu nenhuma superfície à sua volta, como se estivesse flutuando em um vazio incompreensível.

Da pele para fora, nada ali lhe era familiar ou acessível, especialmente de olhos fechados. No entanto, pele adentro, existia um complexo universo se agitando e se contorcendo, em absoluto desiquilíbrio. O sangue borbulhava, o coração palpitava, o estômago contraía e o cérebro pulsava. De forma dolorida e desarranjada, experimentava o caos se estabelecendo em suas funções corporais mais primitivas.

Enquanto sua percepção atordoada tentava processar todas as impressões que a invadiam, um som bastante singular se sobressaiu a tudo mais e depressa lhe tomou toda a atenção. Era um ruído próximo, fluído e constante, mais intenso que a chuva, como uma bica aberta. Intrigada, entreabriu suavemente as pálpebras.

A primeira coisa que enxergou foi uma das paredes do quarto, que estava seriamente danificada. Esfregou o rosto com força e tornou a olhar. Um grosso filete de água descia do teto, desaguando por trás da cômoda, afofando uma boa parte do papel rosa chá florido. Bolhas escuras e irregulares explodiam em uma faixa vertical, absorvendo e cuspindo o fluxo em uma cadência repugnante e hipnótica.

Uma estranha tristeza tomou conta de si, como uma sombra densa que a abraçava por inteiro. É claro que uma parede avariada não poderia ser um bom sinal, mas, não entendendo o porquê, sentia-se vitimada por um estrago irreparável carregado por uma espécie de saudosismo profundo.

Em meio à melancolia, deu-se conta de que via sobre a cômoda e não poderia estar, naturalmente, naquele ângulo tão elevado. Mesmo de pé, nunca alcançaria toda aquela altura. A não ser que estivesse... Suspensa! 

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