SEIS

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Voltou-se novamente para a vidraça

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Voltou-se novamente para a vidraça. Tentou desfocar a sua imagem e focalizar o dia lá fora, que seguia nublado. De onde estava só era possível ver parte do grande muro vermelho do outro alojamento em uma perspectiva mínima e distante. Então, estar diante da janela não a deixava visível o suficiente.

Mas o silêncio sepulcral, este sim, poderia ser um grande aliado. Assim, começou a gritar. Era difícil, a laringe esmagada apenas deixava emitir ruídos estranhos que se assemelhavam a grunhidos. Porém tinha a certeza de que seriam suficientes.

Continuou berrando insistentemente e só parou quando ouviu a porta se abrindo atrás dela. Através da vidraça, pode ver um vulto masculino que se adentrava em seu quarto. De fato, seu chamado fora atendido e bem rapidamente.

Apreensiva, viu que ele fechou a porta com certo cuidado e ouviu seus passos no assoalho de madeira, um a um em sua direção.

- Por... Favor... Ajude... – Implorou, se engasgando com a própria saliva.

O sujeito se instalou atrás dela sem dizer uma palavra. Estava tão próximo e imóvel que ela pode sentir sua respiração em pequenos golpes de ar que acertavam suas costas petrificadas. Algo de muito mau gosto a ser feito com alguém naquela frágil condição.

- Por... Favor... Arg... – Continuou a suplicar.

E o visitante permanecia irredutível, sem se mostrar. Como uma sombra perto de Isabel.

- Me ajude...

Até que ele se colocou à sua frente. Tratava-se de um homem alto e esguio, que aparentava ter em torno de 35 anos. Possuía um semblante enigmático emoldurado por uma barba cerrada cuidadosamente aparada e cabelos negros bem penteados com sebo. Elegante, vestia um terno de linho escuro, impecavelmente vincado, que combinava com os óculos de aro de tartaruga e os sapatos pretos, tão brilhantes, que ela poderia ver sua imagem horrorosa refletida neles, como se fossem bibelôs de vidro negro.

Curiosamente,  o homem não parecia apreensivo com o fato de ver Isabel enforcada à sua frente. Apresentava a fisionomia de quem já havia presenciado algo parecido antes.

Ela o fitou em prantos. Mas, agora, suas lágrimas assumiam o tom de alívio. Afinal, através dele, poderia ser liberta daquele castigo insano.

- Ajude-me...

Ele sorriu. Inclinou-se lentamente e puxou a cadeira do chão. Suspendeu-a no ar, com as duas mãos, defronte ao seu rosto suplicante.

- É isso que você quer? – Ele perguntou. – Sua voz era serena, contudo em seu olhar havia algo de assustador, indefinível.

Ela assentiu piscando os olhos.

O homem, então, baixou a cadeira. Mas em vez de coloca-la sob os pés da moça, sentou-se sobre o móvel, bem na frente dela.

Ela tornou a chorar. Percebeu que ali não estaria a sua salvação e, sim, o início de um sofrimento ainda maior.

- Monstro! – Conseguiu gritar. – Eu vou... Morrer!

Ele sorriu mais uma vez. Cruzou as pernas com elegância e inclinou o corpo esguio para frente dizendo calmamente:

- Você já morreu, Isabel... Você já morreu.

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⏰ Última atualização: Sep 28, 2017 ⏰

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