- Um dia comum para mim? Geralmente sou eu gritando com cinco pessoas diferentes, sendo grossa com mais oito e chutando pelo menos uma.
Digo ironicamente, porém sincera, para a estranha que os meus pais tinham colocado na minha frente. Era uma psicologa e aparentemente ela estava me examinando ou avaliando, como se eu fosse uma maluca. No fundo do meu coração eu sabia o que eu era, só estava assustada demais para admitir, mas depois do que houve hoje eu sabia o que iria acabar acontecendo comigo.
- Então você se considera uma pessoa agressiva?
Ouvi a voz aguda dela perguntar séria, e simplesmente não aguentei mais aquela baboseira, explodindo de vez. Chutei a mesa que estava na minha frente com toda força que consegui reunir, fazendo a mulher pular da cadeira e correr em direção a porta muito assustada e de olhos arregalados.
- Eu... Não... Sou... Doida... MERDA!
Falo pausadamente, quase sílaba por sílaba, para ver se ela me entendia. Saio da sala bastante revoltada e vou para o meu quarto, mas consigo ouvir a briga dos meus pais se desenrolar no andar de baixo. Eles estavam decidindo o que fazer comigo. Me encolho na cama e abraço meus joelhos tentando não chorar. De repente ouço duas batidas abafadas na porta do meu quarto.
-Será que dá para ler essa placa enorme escrita com letras vermelhas e claras, "não entre"?
Grito sem me dar ao trabalho de ir abrir, mas a pessoa volta a bater na porta insistente e eu resolvo ver quem era, vejo que era a psicologa. Sério? Ela tenta entrar no quarto mais eu seguro a porta.
-O que você quer?
-Conversar...
Como se eu fosse cair nessa. Ela queria era saber se iria me levar numa camisa de força dali.
-Não to afim, volta depois.
Ela tenta novamente forçar a porta e sem pensar seguro em seu braço para tentar tirar sua mão da maçaneta.
-DROGA!
Falo em completo terror, porque na mesma hora que a toquei ela começou a ficar branca igual a um papel e caiu no chão, aparentemente inconsciente.
-De novo não...
Sussurro petrificada, e quase me desmanchando em lágrimas. Penso em tentar ajudar ela, mas isso só iria piorar as coisas, dou vários passos para trás cobrindo meu rosto com as mãos. Meus pais sobem correndo e veem a mulher no chão, branca, meio mole e desacordada.
-O que aconteceu? De novo Julia?
Meu pai fala com uma expressão preocupada, claramente sem saber o que fazer, minha mãe tenta se aproximar de mim para me confortar, mas eu me afasto apressada com medo de machucar ela também e vou até o outro lado do quarto.
-Mãe, pai... desculpa, eu não quis... eu esqueci... eu...
Começo a falar, mas não sei bem o que dizer e me calo, começando a chorar baixinho.
-Eu não queria...
Olho para as minhas mãos com raiva e eles tentam se aproximar novamente de mim.
-NÃO! SAIAM DAQUI, SAI DE PERTO DE MIM!
-Julia minha filha, calma! Nos só queremos te ajudar.
Diz minha mãe chorando também, mas eu via o medo no olhar dela, meu lugar não era mais ali. Os dois ficam me olhando de longe, meu pai passa a mão nos cabelos em desespero e minha mãe chorando baixinho, me olha nos olhos com uma expressão quase de derrota. Uma campainha toca no andar de baixo, quase como um despertar do transe em que nos encontrávamos. Eles sem dizer nada, continuavam tentando levantar a moça no chão. Será que eu matei ela? Será a polícia na porta? Penso em pânico. Eu não poderia mais ficar ali. Eles levam a moça para o andar de baixo e eu fecho a porta já traçando planos de fuga. Escuto uma voz de mulher no andar de baixo. Bem, não deve ser a polícia, não ainda. Começo a fazer as malas, eu precisava sair daquela casa de todo jeito.
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Crianças Bizarras!
General FictionUm lugar onde pode ser decidido o futuro do planeta e a luta entre o bem e o mal.