Capítulo 06 - Irmãs

16 2 0
                                    

Levo Larissa para minha casa onde lhe empresto roupas novas, já que as dela estão sujas de sangue.

Sinceramente ainda estou tentando entender porque estou ajudando ela. Para proteger o segredo dos vampiros talvez? Ou talvez eu esteja me sentindo de algum jeito conectada a essa menina mas por que? Por que eu a transformei? Talvez. Mesmo depois de tantos anos não sei quem me transformou, foi tudo muito rápido, estava escuro...

Afasto as lembranças de um passado doloroso que teimam em me perseguir e aproveito que Larissa está no banho para pesquisa um pouco mais sobre ela.

Como sou uma boa hacker não Demorô muito para acessar os registros do governo e descubro que Larissa é órfã, criada no orfanato Maria da Penha, na região norte do rio, não se sabe quem são seus pais biológicos.

— Pesquisando sobre mim?- pergunta ela me surpreendendo.

Larissa estava atrás de mim, secando os longos cabelos castanhos com uma toalha branca e  vestindo um vestido florido, formando um X em suas costas.

— Gosto de saber sobre quem eu abrigo na minha casa- digo dando de ombros.

— Poderia simplesmente ter me perguntado- diz ela estendendo a toalha molhada na porta que separa um dos quartos da sala.

— E então o que você pretende fazer a partir de agora?- pergunto tentando puxar assunto.

— Ainda não sei, acho que vou viajar o mundo....- diz ela se sentando no sofá branco de couro falso.

— Que lugares exatamente você gostaria de conhecer?- pergunto interessada, rodando minha cadeira giratória para ficar de frente pra ela.

— Ah vários lugares, deixa eu ver.... França, Inglaterra, Austrália...- fiz ela dando de ombros.

— Eu já estive na França e na  Inglaterra, se tiver oportunidade eu recomendo uma comida chamada  fish and chips é uma delícia- digo sentindo os últimos raios de sol sobre a minha pele, causando um certo desconforto e percebo que Larissa sentia o mesmo, abaixando a cabeça, com os cabelos cobrindo o rosto.

Levanto e puxo as longas cortinas pretas que iam até o chão, tampando a janela impedindo a luz de passar. Vampiros jovens principalmente são extremamente sensíveis a luz do sol.

-- Obrigada- diz ela colocando o cabelo atrás da orelha onde havia um brinco de prata com uma pedra azul clara que eu não sabia ao certo se era legítima ou bijuteria.

— Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam nós vampiros não queimamos se expostos ao sol, mas principalmente os mais jovens que tem a pele mais sensível costumam ficar muito encomendados se expostos por muito tempo- explico- É normal com o tempo você se acostuma.

— Tudo bem mas alguma coisa que eu deva saber?- pergunta ela se abraçando de um jeito protetor.

— Bem é sem bom tomar cuidado na hora de se alimentar, tanto para não deixar rastros quanto para não ser vista. Ainda hoje existem aqueles que teimam em nós casar- digo relembrando o motivo de eu estar aqui.

— Bom você não parecia estar tomado cuidado hoje, afinal eu encontrei você- diz ela se gabando como se fosse uma detetive que havia acabado de solucionar um grande crime.

— Aquilo foi um acidente, não vai mais se repetir- digo mais pra mim do que pra ela, numa forma de me convencer de que estou no controle outra vez.

Ligo a TV e ja estava passando o jornal nacional:

— Foi encontrado agora a pouco o corpo do arquiteto Rodrigo Siqueira de 32 anos em um beco perto da praia de Copacabana. Rodrigo teve o sangue do corpo drenado, a polícia desconfia que tenha sido algum tipo de máfia mas há aqueles supersticiosos que acreditam que o crime tenha sido cometido por vampiros- anuncia William Bonner.

Suspiro e desligo a TV, vou até o quarto em que Larissa estava e a vejo olhando para o nada, perdida em lembranças e de repente ao me dar conta de que ela estava quase indo embora sinto uma estranha sensação de solidão, como nunca antes havia sentido, como se faltasse uma parte de mim.

— Bom, você tem algum lugar para passar a noite? Se quiser pode passar a noite aqui- digo tirando-a de seus devaneios.

— Obrigada mas não quero incomodar...- diz ela se levantando e me surpreendendo com um abraço- Obrigada.

Sinto a necessidade de cuidar dela mas não posso se ela estiver longe, talvez eu veja nela um novo recomeço, o início de uma nova família ou talvez ela me lembre as boas lembranças com minhas antigas irmãs.

— Eu insisto por favor fique, não será encomodo nenhum- digo me sentando de frente para ela na cama de casal com lençóis brancos, segurando suas mãos geladas e olhando no fundo de seus olhos castanhos- Eu não quero que você vá embora, normalmente eu me dou muito bem com a solidão mas só de pensar em ficar longe de você, eu me sinto sozinha como nunca antes- resolvo abrir o jogo- Talvez seja algum tipo de ligação criador e criatura, eu não sei....

Ficamos um tempo em silêncio enquanto Larissa absorvia minhas palavras, com o tempo percebo que ela estava com lágrimas nos olhos, emocionada.

— Eu também sinto uma ligação com você e não quero ficar sozinha, como você já sabe eu cresci em um orfanato para meninas, não sei quem são os meus pais ou o porque que eles não me quiseram mas ouvir você dizer que me quer por perto me fez sentir uma alegria que nunca antes eu havia experimentado- neste momento ela já chorava- Eu vou ficar, talvez possamos até ser uma família.... Irmãs?

— Nois já somos uma família- digo secando suas lágrimas- Somos irmãs- digo sorrindo e vejo o sorriso dela também.

Nós abraçamos e passamos um tempo abraçadas até vou para o meu quarto descansar depois desse dia longo e cheio de surpresas...

A caçadora de caçadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora