Nos primeiros dias, enquanto ainda estava me habituando à presença dele, várias vezes me peguei observando coisas que uma irmã não deveria observar, pensando coisas que uma irmã não deveria pensar, sentindo coisas que uma irmã não deveria sentir. Foi complicado entender o que estava acontecendo. Até porque aquilo não poderia estar acontecendo. Me esforcei bastante para colocar a cabeça no lugar e não deixar que ninguém percebesse a confusão que estava a minha mente.

Felipe era o tipo de cara que conquistava a todos que o conheciam. Era educado, extrovertido, engraçado, comunicativo. Não era difícil as pessoas gostarem dele e se tornarem suas amigas. Quanto a isso, meu pai poderia ficar sossegado: o filho dele jamais seria um cara solitário e recluso.

Thalita, uma das meninas mais irritantemente lindas do colégio e, infelizmente, moradora do mesmo condomínio em que morávamos, fez 15 anos e resolveu dar uma festa. Quase toda a turma da escola estava lá. Oferecida, ela fez questão de ir lá em casa para convidar Felipe, que aceitou o convite na hora. "Se quiser, você e a sua irmã também podem ir" ela disse para mim, antes de virar as costas e sair da nossa sala de estar. Vaca! Felipe riu com a careta que fiz e quis saber se eu iria. Ainda irritada com a maneira como aquela infeliz havia falado comigo, disse que era pouco provável que eu fosse, já que ela deixou claro que a minha presença era desnecessária. "Se você não for, também não vou", ele disse, fazendo com que eu perdesse um pouco do ar. Eu retruquei, dizendo que não fazia sentido ele perder a festa só porque a irmã caçula não iria. "Ou você vai comigo ou eu também não sairei de casa. Você decide." Ri, mas, por fim, acabei cedendo.

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