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Um dia, quando eu já estava com 16 e Felipe com 20, ele quis conversar sobre nossa situação. Estávamos vivendo na clandestinidade há três anos e aquilo estava acabando com ele. Ele não queria mais mentir, não queria mais esconder nosso relacionamento e estava disposto a encarar nosso pai, custe o que custar. Me apavorei com aquela ideia. Imagina! Meus pais – meu pai, principalmente – me odiariam para o resto da vida. Minha irmã ficaria com raiva de mim. Todos os nossos familiares me desprezariam. Não aceitei. Não queria falar nada. Pelo menos naquele momento. Eu estava terminando o Ensino Médio, Felipe estava no terceiro ano da faculdade de Arquitetura. A gente não poderia fazer bobagem. Mas ele bateu o pé e disse "Ou a gente enfrenta a porra toda de frente, ou eu estou fora. Eu te amo mais do que tudo na vida, mas não posso mais viver assim. Estamos vivendo como criminosos, escondidos, mentindo para todo mundo, mentindo para as pessoas que nós mais amamos. Não quero mais fazer isso." Mas eu não voltei atrás na minha decisão. Felipe apenas balançou a cabeça, chateado, e saiu do meu quarto, batendo a porta atrás de si, e foi para o seu quarto. Chorei, arrasada, com medo de perder o amor da minha vida e a minha família. Merda, eu tinha apenas 16 anos, não sabia como lidar com tudo aquilo.

Durante a madrugada, desci a escadaria da sala e fui até o quarto dele, no cômodo onde ficava o escritório do papai até a mudança de Felipe para nossa casa. Bati de leve na porta, mas ninguém respondeu. Para não acordar ninguém, fui até a cozinha, peguei um pouco de água e voltei para o meu quarto. De lá, mandei uma mensagem para o celular dele. Demorou alguns minutos até ele responder "Acho que não temos nada para conversar, Julia. Você já tomou a sua decisão". Acho que nunca senti tanta dor na vida como naquele momento. Meu peito parecia estar dilacerado, o medo tomou conta de meu corpo, um arrepio percorreu minha coluna. Eu não poderia viver sem o Felipe. Não saberia viver sem o amor dele. Por que diabos ele não entendia que aquela decisão não poderia ser tomada de uma hora para outra? Era uma coisa muito séria, porra.

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