Eram cerca de 19 horas e o jardim do condomínio já estava escuro; as únicas luzes eram das casas, há uma boa distância do passeio por onde andávamos, e uma ou outra luminária de piso, ao lado do caminho, claras o bastante para iluminar o local onde colocávamos os pés. Ao longe, ouvíamos um ruído que parecia ser música eletrônica. Faltavam umas 10 casas ainda para chegarmos – maldito condomínio gigantesco! – e eu já sentia meus pés começarem a doer por causa do salto e do piso irregular. Ao perceber que diminuí meu ritmo, Felipe também passou a caminhar mais lentamente, o que foi agradável e, ao mesmo tempo, assustador. Por dentro, eu gritava comigo mesma para ser menos frouxa e andar normalmente, para que chegássemos logo e eu não tivesse que ficar mais tempo sozinha com ele. Naquela hora, eu sentia tudo, menos que aquele garoto lindo era meu irmão. Bom, tecnicamente ele era meu irmão, mas, na prática, não tínhamos vínculo sanguíneo nenhum. Ao me dar conta do que eu havia acabado de pensar, sem perceber, dei um suspiro exasperado, indignada com as bobagens que eu andava pensando. E ele percebeu... "Está tudo bem?", Felipe perguntou, olhando-me do alto de seu 1,90 cm para os meus, agora, 1,75 cm. "Ah, sim. Por que?" perguntei, com vontade de dizer que não estava nada bem. "Você está tão calada desde que saímos de casa. Foram menos de 10 minutos, mas parece que estamos há uma hora andando por causa desse silêncio", ele brincou, mas eu continuei séria. Estava tentando controlar meu nervosismo, com medo de falar ou, pior, fazer alguma bobagem. "Eu falei ou fiz alguma coisa que te deixou chateada?", Felipe insistiu, visivelmente preocupado. "Não, imagina! Eu só estou com a cabeça cheia... Pensando na vida, mas não é nada demais", respondi, sendo sincera e evasiva ao mesmo tempo. Felipe deu um passo maior e parou na minha frente, fazendo com que eu assustasse com sua atitude. "Me fala o que está acontecendo", ele pediu, mas sua voz firme soou como uma ordem. "Não é nada, juro", respondi com a voz baixa, desviando o olhar. "Você está sentindo a mesma coisa, não está?" A pergunta me pegou desprevenida, fazendo com que eu recuasse, tentando aumentar a distância entre nossos corpos. "Do que você está falando, Felipe? Que coisa?" Atordoada com aquela pergunta, cruzei os braços sobre o peito, como se aquilo pudesse me proteger daquele sentimento estranho. Ele deu um passo a frente, tornando a diminuir o espaço entre nós, e me tocou o queixo, levantando meu rosto. Seu toque fez com que meu corpo se arrepiasse. "Eu sei que você está sentindo. Isso não é coisa da minha cabeça. Eu tenho certeza que não é, Julia!", ele largou os braços ao lado do corpo, como se estivesse cansado. "Lipe, por favor. Para com isso. Não sei do que você está falando. E se for o que eu estou pensando, para, porque é absurdo. Você é meu irmão, caramba!". Por mais que eu estivesse fingindo, negando aquilo tudo que estava dentro de mim, meus olhos se encheram de lágrimas. Que merda era ser uma adolescente! As coisas eram tão confusas! "Nós não somos irmãos e você sabe disso, merda! Eu não tenho o mesmo sangue que o papai e você e isso não é segredo para ninguém. Então para de fingir que você não está sentindo nada pelo bosta do seu irmão. Só temos o mesmo sobrenome. Só isso!" Se existisse algum jeito de sumir dali, eu teria sumido. Eu não poderia assumir que estava... apaixonada. Apaixonada pelo meu irmão. Inferno! Aquilo era errado. Não interessa que ele era filho adotivo do meu pai; isso não o tornava menos meu irmão. Meu pai nos chamava de filhos, ele nos amava do mesmo jeito. Ele era, portanto, meu irmão. Não dava para fugir disso. Era a nossa cina. "Você é meu irmão, Felipe. Meu. Maldito. Irmão." As palavras saíram quase cuspidas, com raiva, com dor, com amor. Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, e certamente com a maquiagem virando um borrão, dei as costas a Felipe e saí apressada em direção à nossa casa. Queria chegar, tirar aquela roupa idiota e me trancar no quarto, esperando que aquele merda toda sumisse da minha cabeça, do meu coração. Eu era apenas uma adolescente confusa por causa de um cara bonito. Eu tinha que acreditar naquilo. Eu não poderia continuar pensando aquelas bobagens sobre o meu irmão, mesmo que ele também estivesse pensando aquilo sobre mim. Ele também estava confuso, certeza. Felipe ficou parado no mesmo lugar, observando eu me afastar apressadamente. Quando virei à esquerda no primeiro jardim, perto da quadra de tênis, escura e silenciosa àquela hora, ouvi os passos apressados de alguém que só poderia ser Felipe. Droga. Me deixa em paz, por favor! "Julia, por favor. Não foge de mim", ele me puxou pelo braço, fazendo com que eu me virasse para ele e, em seguida, me empurrou contra a grade da quadra e me beijou. No começo, tentei empurrá-lo, afastar sua boca da minha, mas acabei desistindo, me deixando envolver por aquele beijo quente, lento, gostoso. Minhas mãos, que até então ainda estavam pressionando seu peito, empurrando-o para longe de mim, enlaçaram seu pescoço, agora puxando-o para cada vez mais perto. Felipe colou seu corpo no meu e, sem perceber, gemi ao sentir o calor dos dois corpos e, mais adiante, um certo volume que, até então, eu ainda não havia tido contato na vida. As mãos de Lipe vagavam entre os meus cabelos, pescoço e costas, em movimentos suaves, gentis, enquanto seus lábios e língua pareciam querer desvendar cada espaço da minha boca. Enquanto ele beijava, com doçura, meu pescoço, sussurrei, sem pensar: "Eu sinto a mesma coisa". Por poucos instantes, ele parou de beijar meu pescoço e me encarou, com um sorriso lindo no rosto, os olhos brilhantes. "Então a gente se ama", ele concluiu, e eu só conseguir sorrir e beijá-lo novamente.

Enquanto a festa acontecia do outro lado do condomínio, com um grupo de adolescentes ansiosos por beijar todas as pessoas que conseguissem, Felipe e eu ficamos ali, no canto daquela quadra de tênis, na penumbra, desejando que aquela noite nunca mais acabasse. Aquele sentimento, ainda confuso para nós dois, era real e puro. Nós estávamos verdadeiramente apaixonados um pelo outro, por mais que o mundo pudesse dizer que aquilo era errado, pecado, imoral. Nós tínhamos a consciência disso e, apesar do bom senso, não conseguimos resistir. Para alguns, aquilo poderia ser entendido como um surto adolescente, como bobagem ou coisa passageira, mas, no fundo, eu sabia que Felipe e eu não sucumbiríamos ao tempo. Aquilo era de verdade para nós dois.

Laços de famíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora