Antes de se casar com minha mãe (Paula), meu pai (Fernando) teve um relacionamento. Ele e Letícia, sua ex, ficaram juntos por quase cinco anos. Quando se conheceram, Letícia era uma menina de 17 anos, que há pouco mais de seis meses dera à luz a um menino (Felipe), fruto de um relacionamento anterior. Quando soube da gravidez, Luiz, o pai da criança, desapareceu. Como se nada tivesse acontecido. Babaca.

Apaixonado por Letícia, meu pai decidiu que, a partir do momento em que os dois se casaram, Felipe passaria a ser, oficialmente, seu filho. Foda-se o pai biológico. Ele queria ser pai daquele menino. Os dois realizaram todos os trâmites legais necessários para que a adoção fosse realizada e, no dia em que o casal completou um ano de casado, o processo de adoção foi concluído. Felipe era, enfim, filho de Fernando.

No entanto, passados quase três anos, o casamento começou a não dar certo por conta do trabalho de meu pai, piloto de avião comercial. As constantes viagens, as viagens realizadas de última hora, os muitos dias longe de casa... fizeram com que Letícia começasse a se questionar sobre sua vida de casada-quase-solteira até que, um dia, os dois decidiram se separar. Foi tudo amigável, felizmente, por causa do filho.

Meu pai acabou se mudando de São Paulo para o Rio de Janeiro, passando a ver o filho com menos frequência do que o desejado, embora ambos estivessem sempre em contato. Letícia, cerca de dez meses depois, mudou-se de São Paulo para Miami, com seu novo marido, um antigo colega de escola, e levou consigo Felipe. Apesar de odiar a ideia, meu pai acabou cedendo, com a condição de que o menino sempre viesse passar as férias com ele – o que aconteceu por um tempo, até mais ou menos os dez anos.

Nesse meio tempo, Paula, minha mãe, conheceu meu pai. Ela estava em um voo internacional, vindo de Newark, nos Estados Unidos para o Rio de Janeiro, cidade para onde havia se mudado há pouco mais de dois meses, por conta de seu trabalho como jornalista em um grande jornal. Naquele dia, meu pai estava voltando como hippie (como são chamados os membros da tripulação que voam como passageiros comuns). Sentados na primeira classe, próximos um ao outro, eles começaram a conversar. E conversaram muito, visto que a viagem entre essas duas cidades leva em torno de 17 horas, com direito a uma parada. Falaram sobre trabalho, sobre o que achavam do Rio e de São Paulo, sobre música, livros, filmes... e combinaram um café no dia seguinte, numa confeitaria que os dois adoravam. O primeiro beijo aconteceu naquele dia, na saída da cafeteria, enquanto os dois riam e falavam sobre alguma bobagem que tinham visto na televisão. Dali em diante, eles não se desgrudaram mais.

Dois anos depois, já casados, nascemos eu (Julia) e minha irmã Gabriela, gêmeas. Apesar de morarem no Rio, os dois decidiram que nós duas deveríamos nascer em São Paulo, cidade natal deles. Apesar de gêmeas, somos completamente diferentes. Eu sou morena, como minha mãe, olhos castanhos, cabelo ondulado; já Gabi é tem os cabelos castanhos claros, quase loiros, e os olhos azuis de meu pai.

Laços de famíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora