Quebre O Gelo

#12 O Lamento da Chama#

Os poderes de Marcos estavam falhando. A energia que o cobalto o havia dado estava se esvaindo, e tudo porque ele queria parar Lara. A garota estava incontrolável, não parecia estar consciente do que fazia.

A floresta à sua volta estava muito quente. Gritos de animais vinham de toda parte. O fogo consumia tudo. Aquele fogo azul... Os tripulantes do Mega Cargueiro tinham razão. Aquela menina era perigosa. Imagine se ela começasse a derreter as coisas e pessoas à sua volta? Seria bem ruim...
Marcos começou a ter medo de Lara. A menina poderia matá-lo a qualquer momento. Por que motivo ele havia convidado ela para ir embora com ele? Ele devia ter ficado louco. Mas do que estava pensando? Seus poderes também eram perigosos e ele mal sabia controlar. Ele era um perigo. Como estava pensando de forma egoísta! Lara precisava de sua ajuda.

Lara se apagou, facilitando o trabalho de Marcos. Ele conseguiu usar sua energia para terminar de apagar o fogo na floresta. Depois disso agarrou a garota do chão e a carregou para longe. Ela ainda estava bem quente, mas milagrosamente, achou uma caverna após alguns metros. Era pequena e clara, mas dava para deixá-la ali descansando, pelo menos até que se recuperassem. Ansiando para que nenhum monstro faminto aparecesse, ele deixou a caverna para procurar por comida.

Enquanto andava silenciosamente, marcando as árvores com seu pequeno bumerangue de madeira que havia feito, pensava em sua mãe. "Será que ela está realmente viva? Mas como? Porque ele a sequestrou?"

Depois de uma longa caminhada, algo o surpreendeu. Ele encontrou Polônio, e ela estava viva. Marcos sentiu a respiração dela e as batidas cardíacas. Ela estava praticamente intacta. "Qual é o poder dessa menina?", pensou. Perto dali, encontrou o que procurava. Um bando de patos estavam ali bebendo água de um lago e voando pra lá e pra cá. Marcos jogou o bumerangue e conseguiu acertar um. Ele já estava acostumado a caçar com esse tipo de arma. Era assim que sobrevivia.

Carregando Polônio em seu ombro e O pato abatido em outra, Marcos fez seu caminho de volta. A floresta estava muito destruída. O fogo consumiu uma boa parte dela, e até perto da caverna havia ainda faíscas no chão. Marcos estava sem seus poderes. Ele havia usado demais naquele dia. Depois de chegar na caverna, deixou o pato de lado para cozinhá-lo apenas quando todos acordassem. E dormiu, com vontade. Com muita vontade.

Ao acordar o sol ainda estava nascendo. Descobriu que Polônio permanecia imóvel, e Lara havia desaparecido. Ele saiu da caverna no ar frio da manhã, cruzando os braços para aquecer o próprio corpo, e viu Lara observando os restos das árvores que ela havia queimado. Ele se aproximou com cautela para não chamar atenção dela, mas a garota percebeu a sua presença.

_Está vendo só? Entende agora?! - gritou - eu sou um perigo para o mundo, eu nem sei porque a floresta não está completamente destruída.

Ela se ajoelhou bruscamente, chorando.

_É isso que os poderes fazem! Destroem! - ela se virou para Marcos- Eu vou embora, e vou ficar bem longe de vocês! Não quero mais machucar ninguém!- Então lágrimas brotaram de seus olhos. - Desculpe Marcos, mas não posso ajudar vocês e muito menos aquele garoto dentro do gelo. Não posso mais destruir as coisas. Eu sou algo horrível. Essa guerra não trouxe só sofrimento pra quem viveu nela, trouxe pra quem vive até hoje. Eu não quero mais trazer sofrimento para eles e nem para você.

Enquanto ela falva, Marcos se aproximava cada vez mais dela.

_Escuta... Vocês não precisam disso. Vocês - Ela fez uma grande pausa até Marcos ficar de frente para ela. - não me merecem. Não precisam de mim.

Marcos se aproximou mais ainda, até sentir a respiração de Lara. Abandonar alguém nessas condições, não era justo. Não seria bom. Então ele envolveu Lara com seus braços.

_Cale a boca sua estúpida! Não percebe que sou eu que estou tentando ajudar vocês! Sua vida não acabou ainda, e se você negar minha ajuda, nunca vou te perdoar! Ninguém merece ficar sozinho nesse mundo, entendeu? Não seja idiota!

Lara ia dizer algo, mas ela estava chorando. Chorando muito. E os dois ficaram ali. Lara chorando, e Marcos a xingando de estúpida.