"A morte é apenas o ponto final da primeira frase do primeiro livro de uma enorme biblioteca."
Já não cabia em mim a ansiedade que prensava meu coração, uma angústia imensurável, eu havia permanecido com aquela horrenda sensação de que algo estava errado o dia todo, aquele nó, que se tornava cada vez maior em minha garganta não importasse o quanto eu tentasse me desentediar.
O cair da noite vinha chegando majestoso, se desfazendo do sol com agilidade. Meu telefone toca e meu coração se aflige ainda mais. Eu acabara de receber a notícia mais aterradora de minha vida, meus pais de sua breve viagem de carro a cidade vizinha, jamais voltariam para a casa. O telefone escapara de minha mão, sem ao menos eu perceber, por alguns instantes, parei de respirar, senti a cabeça doer e tudo a minha volta estava girando, as lágrimas caiam involuntariamente, eu não sabia o que fazer ou para onde ir agora, tudo doía tanto, o nó em minha garganta se resolvera, mas agora havia outra confusão de nós que se enroscava em minhas entranhas fazendo-me enjoar, quando dei por mim estava sentada embaixo do chuveiro entre soluços, meu rosto branco agora estava vermelho pela água quase fervente que caía diretamente nele.
Mesmo completamente atordoada percebi barulho de passos correndo escada a cima, era Elise Brown minha melhor amiga, desde que me entendo por gente, ela entrou escancarando a porta do banheiro e correndo até mim, nós ficamos ali debaixo do chuveiro abraçadas por um certo tempo que pra mim pareceu a eternidade, eu me perdi ali dentro daquele abraço, eu não podia sair dali agora, não estava pronta para encarar as pessoas com seus olhares de pena que durariam apenas até o sepultamento, a tal cerimônia de encerramento, Elise entendia isso melhor do que ninguém, seus pais e seu irmão mais novo morreram em um acidente de avião seis anos atrás e meus pais que tinham um carinho muito grande por ela, a adotaram e somos irmãs desde então, ela é minha cúmplice, nós não precisamos falar para que saibamos o que queremos dizer, e nesse momento ela era a única pessoa com quem eu queria estar.
No dia do funeral me vi caminhando com Elise ao meu lado, segurando minha mão todo o tempo e logo a frente os dois caixões brancos com dobradiças de ouro lacrados que carregavam as pessoas mais importantes de minha vida, os tons de cinza e preto deste dia tão lastimoso eram os tons que comandavam meus pensamentos, o som mortuário tomava conta do ar, o cheiro sufocante daquela terra carregada de almas levadas e atormentadas, a música fúnebre saia chorosa do violino e chegava até meu interior, a voz do padre fazendo sua cerimônia de exoneração ecoava em minha cabeça, ao fim do dia malcontente, todos vieram à minha casa prestar suas condolências à família, mas não havia mais família, era só eu a última dos Williams, apenas eu Amely Williams. Elise tentava ser o mais simpática possível com aquelas pessoas, mas eu percebia o quanto ela estava de saco cheio tanto quanto eu, daqueles olhares penosos que eu já esperava, daqueles que nem sentiam tanto o quanto diziam, e aqueles que só queriam uma boca livre, amanhã todos seguiriam com suas vidas, mas eu ainda estaria ali, magoada, sem saber o que fazer com a minha vida.
Quando dei por mim já estava colocando todos para fora, gritando
" Saiam, vão embora, não aguento mais, saiam. " - Como nunca antes.Após o último ser atravessar a porta tranquei-a e recostei-me ali meio jogada e exausta.
Meus olhos cansados, meu rosto pálido e meu estomago parecia não estar mais ali, havia apenas um buraco negro. Elise me pegou pelos braços e levou-me até a cama, apagou a luz e saiu, não havíamos trocado nenhuma palavra desde o acontecido, nos entendíamos apenas pela troca de olhares, eu caí em um sono profundo, mas não muito depois despertei-me, senti minha garganta muito seca, quando ia até a cozinha pegar um copo de água, ouvi Elise chorando baixinho em seu quarto, olhei pela porta entreaberta e ela estava sentada em sua cama aos prantos, entrei e me sentei a seu lado, tentando lhe dar apoio.
Era a segunda vez que ela perdia seus pais, era tão doloroso para ela quanto para mim.Desde a morte de meus pais, eu vinha tendo pesadelos dos quais acordava todas as madrugadas aos berros, me pareciam vislumbres de algo macabro que acontecera em algum lugar, próximo a uma floresta, eu não entendia bem o que eu testemunhava em minha utopia. Eu estava sempre abatida meus olhos fundos, minha face mais pálida, a cada dia que se passava eram mais preocupantes, Elise havia tentado de tudo para me ajudar, mas eu só piorava a cada dia, fui levada a psicólogos, psiquiatras, ingeria doses cavalares de medicamentos fortes e não obtinha nenhum avanço.
Com o desespero tomando conta de mim comecei a me medicar para não adormecer, pois meu pesadelo era tão horrendo que eu preferia me manter desperta, e não aguentava mais acordar desesperada todas as noites, tomava litros de café por dia, vários energéticos, cheguei a ficar uma semana inteira acordada, parecia ter envelhecido uns trinta anos em um mês. Desenvolvi um quadro de depressão severa, definhava prostrada em minha cama, mal conseguindo usar o banheiro sozinha, eu sucumbia lentamente.Semanas se passaram, e minha mente cada vez mais dispersa, eu pertencia a outra dimensão, eu não ouvia mais claramente o que acontecia ao meu redor, apenas ruídos, ao longe, enxergava apenas borrões a minha frente, eu lutava com todas as minhas forças para não fechar os olhos, eu não queria testemunhar aquelas cenas aterradoras dentro de meu inconsciente, os olhos amedrontados dos rebentos e da mulher presenciando a morte iminente de seu esposo, que tentava proteger sua família, do indivíduo que eu não via o cenho, apenas luzes de velas fracas iluminavam o lugar, as sombras predominavam, somente reluzia o brilho de seu facão já ensanguentado, ele empunha o facão e sem nenhum resquício de compaixão, arranca a cabeça do pobre homem, em um golpe certeiro, nesse momento as luzes das velas se apagam, os brados ensurdecedores da senhora me atordoavam, o breu sobressaiu-se e o silêncio ensurdecedor toma conta do lugar, uma única vela se acende subitamente, e eu vejo o facão ainda manando gotas de sangue, erguido em minha direção, e é aí que eu acordo aos gritos, e Elise vem me socorrer.
Eu sinto o desespero dela, com minha situação eu estou tentando sair desse estado, mas não posso dormir é aterrorizante demais, nos últimos dias eu andei escutando coisas, sussurros ininteligíveis, eu não conseguia dizer a Elise, minha boca não se movia mais, eu estava totalmente paralisada de medo, eu tinha crises de pânico, nas quais eu não conseguia me mover.Hoje minha mão deu sinais, e meus olhos não estavam mais tão embaçados eu conseguia ver as coisas a meu redor também ouvia mais claramente.
Elise andava de um lado a outro com uma mala em mãos.
E disse:
" Pensei que dormiria por um ano. Você precisa respirar novos ares, vamos para o Canadá, para a fazenda de seus avós, preciso tirar você daqui."Na madrugada seguinte, eu estava em uma cadeira de rodas embarcando em avião que nos levaria até Darkening City, na província de Alberta, Canadá. Naquelas longas 16 horas de viagem, sem querer adormeci e acordei aos berros como já era esperado, todos me olhando bastante assustados com meu surto, Elise acalmou a todos confirmando que era apenas um pesadelo, 20 minutos depois, desembarcamos em
Calgary, e seguimos por mais quatro horas até Darkening
Eu estava exausta, fraca, e o clima altamente instável daquele lugar era o que mais encantava, porém estava acabando comigo, o frio predominava quase o ano todo, a cidade vivia embaixo de uma nuvem quase permanente de chuva.
Eu não visitava a casa de meus avós a mais de 12 anos, uma fazenda enorme a uma hora do centro da cidade , e era muito, muito, muito velha, presumi que tivesse no mínimo uns 100 anos ou mais, bem rústica, eles haviam feito poucas reformas, a casa era praticamente original, composta por dois andares, três quartos, uma saleta com lareira (mas não acho que ela ainda funcione) cozinha, copa, banheiro e uma biblioteca abarrotada até o teto, em pensar que onde eu morava tinha meu próprio banheiro, (a vida não é muito justa) o quarto que era dos meus avós tinha uma vista linda para a floresta, armários grandes, uma cama gigante, uma cômoda ao lado da cama, ao pé da janela gigante de madeira, havia um baú almofadado, era tudo na cor branca, nunca entendi porque foi o único quarto reformado da casa, mesmo assim a essa altura já estava bem velho.Enfim fomos recebidas por uma pequena placa escrito " welcome to Darkening city". Logo enfrentamos mais uma hora e meia até a fazenda Williams.
O dia cinzento e preguiçoso também havia nos dado as boas vindas em meio as montanhas e a névoa densa, a garoa fina também havia feito sua recepção calorosa, o ar puro daquele lugar dominava meus pulmões. Ao chegarmos, a porteira já estava aberta, paramos em frente a nossa velhíssima e enorme casa, uma crise de tosse me tomou por alguns segundos, teríamos muito trabalho para transformar aquele lugar em uma casa habitável.
OI AMORES ESTÃO GOSTANDO DESSE MISTERIO HORRENDO?
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Os Fantasmas De Amely Williams
HorrorNÃO DEIXEM DE VOTAR E COMENTAR, PARA ME DAR UM INCENTIVO E CRIAR MAIS HISTÓRIAS HORRIPILANTES. Amely é uma garota brasileira que perde os pais e vai de encontro ao seu pior pesadelo em Darkening City na província de Alberta, Canadá onde nada é o que...