Capítulo 01

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"Apenas tenha certeza de que onde quer que vá,

Você sempre poderá voltar para o seu lar"

- 93 Million Miles, Jason Mraz.

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ALANA

Um riso nervoso e estranho, bem parecido com o som que uma garça engasgada faria, saiu da minha garganta assim que eu e Arthur entramos num táxi, após desembarcarmos do nosso voo.

Imaginei, por um instante, a minha versão de dezessete anos encarando a minha atual versão de vinte e sete e balançando a cabeça, como se estivesse muito decepcionada. Afinal, como eu havia conseguido transformar uma vida supostamente promissora num filme de sessão da tarde?

Ergui os olhos para o Arthur, sentado ao meu lado no banco de trás, e tentei repassar o texto outra vez:

— Oi, família. Esse daqui é o meu magnífico namorado, Arthur. — sorri e movimentei os braços, apontando-o. — Nós nos conhecemos em... Ai, céus!

— O que foi? — ele me encarou, tirando os olhos da tela de seu celular.

— É que assim... Eu não queria dizer que a gente se conheceu tomando um porre por causa de chifre, né? Pensei, sei lá, em algo mais chique. Tipo cena de filme. Que tal essa: eu estava andando na rua, era um dia frio, a gente se esbarrou e os meus livros caíram. — pausa para mudar a entonação de voz. — "Oh meu Deus, me perdoe! Eu deveria olhar por onde ando!" — outra pausa para encarar o Arthur. — Essa sou eu falando, lógico. Mas então, você ergueu seus belos olhos provocantes e a gente se fitou por alguns segundos, como se o tempo congelasse. Você sorriu e falou, num duplo sentido implícito: "Eu também deveria olhar por onde ando. A-ten-ta-men-te".

O taxista tossiu.

Arthur riu e olhou pela janela.

— Bravo, incrível! Você dará todos esses detalhes para a sua família?

— Não, não! — balancei as duas mãos. — Mas posso dizer a eles que foi bem romântico. Não é assim que muitos casais se conhecem nos filmes?

— Não faço ideia. Odeio romances.

— Amargurado. — zombei. Em seguida, abri a minha bolsa e procurei pelo pacote de salgadinho que havia me custado espantosos dez reais no aeroporto de São Paulo. Eu estava nervosa, e uma Alana nervosa só quer se entupir de porcarias.

— Você deveria se alimentar melhor. Seu colesterol agradece. — Arthur opinou, torcendo o nariz para as minhas bolinhas de queijo fedorentas.

— E você deveria passar o texto comigo. Já pensou no que dizer, caso o pai queira saber quais são as suas intenções?

— Ele não faria isso, não é possível! — Arthur riu, despreocupado. — Pais fazem esse tipo de coisa com namorados adolescentes. Você é uma mulher de vinte e sete anos, mora sozinha, já foi casada...

Ha-ha-ha. Aquele ali realmente não fazia ideia de quem era o meu pai. De todo o modo, achei melhor não deixá-lo a par naquele momento. Quanto mais tranquilo o Arthur estivesse, melhor seria para nós. De nervosa bastava eu.

Afinal, jurei para mim mesma que evitaria ao máximo colocar os meus preciosos pés na praia do pôr-do-sol novamente, mas eu sabia que, a partir do momento que fizesse isso, seria como voltar no tempo. Não só há quase três anos, que foi quando parti, mas também há um tempo bem mais distante...

Pega, Laninha! a Tati gritou, depois de lançar o frisbee.

Corríamos pela praia e era um dia de sol das férias de janeiro. Eu, muito magrela, de aparelho nos dentes e no auge dos meus onze anos, dei apenas dois passos antes de topar com o Beto.

Um Acordo Imperfeito | Completo na AmazonOnde histórias criam vida. Descubra agora