CAPÍTOLO 4

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— Estamos aqui no local de onde o que parece ser um dos maiores ataques que já teve nesta cidade, pelo estimado foram mais de seiscentos mortos, oitenta feridos, algumas pessoas conseguiram escapar ilesas, estamos aqui com um dos sobreviventes desse atentado. Como foi estar em meio a todo aquele caus? -Disse o repórter.

— horrível! De repente as pessoas começaram a correr, achei que era por causa que tinha chegado o momento da virada, e que os estouros eram fogos, mais de repente as pessoas começaram a cair mortas. Logo me desesperei e comecei a correr, foi quando tomei um tiro no ombro, ainda não sei como estou aqui, a bala acertou em uma artéria importante, perdi parte da sensibilidade dos dedos. - respondeu o entrevistado.

Assistir aquela reportagem só me deixava mais nervoso, meu pai levou um tiro de raspão na cabeça, e já estava a dois dias em coma, naquele dia iríamos visita-lo, os médicos achavam que ele estava tendo uma boa recuperação, e tinha uma pequena chance dele acordar naquele mesmo dia, minha mãe estava bastante abalada com tudo que tinha acontecido, foi a pior maneira do ano começar. Iriamos visita-lo pela tarde, minha mãe antes iria pegar algumas flores para levar, o doce aroma delas lembravam ao meu pai o dia que eles se conheceram. Foi em uma bela manhã, em um parque de gramado verde e úmido por causa da neblina, o vento transportava o doce aroma das mais lindas flores que alí tinha. Minha mãe iria pegar as flores daquele mesmo parque, as flores de lá eram as mais bonitas e aromatizantes da região.

Minha mãe então sai de carro para ir buscar as flores, fiquei em casa com meu irmão e a chata da babá. A babá continuava viciada na TV, não entedia esse vício dela, seus olhos não eram mais brancos, não dava para encarar ela sem começar a rir, parecia um zumbi depois que sai do túmulo. A casa estava quieta, menos pelo barulho da TV, eu precisava me distrair, aquela angústia misturada com nervosismo estava a me enlouquecer. Fui até o quarto do meu irmão ver se ele estava jogando, para eu me juntar a ele, cheguei ao pé da porta e fiquei parado por alguns segundos, não estava ouvindo barulhos de tiros vindo do vídeo game, então abri a porta lentamente para tentar não incomodar. Me surpreendi com o que eu vi, meu irmão estava sentado no sofá olhando fixamente para o controle que estava em suas mãos, e a TV estava fora de sinal, apenas com aqueles monte de rabiscos.

— O que você está fazendo? -pergunto a ele.

— Não sei. -responde com uma voz trêmula.

— Porque não esta jogando?

— Perdi a vontade. -responde colocando o controle sobre o sofá.

Ele olha Para a TV como se alí estivesse uma simples parede.

— Meu pai poderia ter morrido. E eu estava alí apenas com o desejo de voltar para casa para jogar nesta merda de TV!! Ele pode ficar até paraplégico e eu aqui com essa merda ligada!!

Neste momento ele desliga a TV e joga o controle em sima da TV fazendo seu vídeo game de última geração cair da estante.

— Calma! Você ainda precisará disto! -falei assustado pela reação dele.

— Pouco me importa! Só quero que meu pai fique bem!! - responde pulando sobre a cama e encobrindo seu leve choro com o travesseiro.

— Ficar aí choramingando não irá ajudar em nada não. -falo tirando-lhe o travesseiro.

— Levanta daí! A mamãe está pará chegar, nós vamos visitar o papai. -digo a ele.

Espírito de GanânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora