Pouco tempo depois de ver a matéria sobre a explosão do Spa e já mais calma, ainda no conforto dos braços de Beatriz, ouço o telefone tocar.
-- Quer que eu atenda?- pergunta Beatriz apontando para o telefone tocando em uma mesinha perto do sofá.
-- Não, não... Deixa que eu atendo- digo me levantando e olhando meu reflexo no vidro da janela.
Eu estava horrível, havia duas olheiras bem roxas abaixo de meus olhos, meus cabelos estavam parecendo um ninho de passarinho e meus olhos tão sem vida...
-- Alô?
-- Senhorita Alice Cavalcante Albuquerque?- pergunta uma voz feminina do outro lado da linha.
-- Eu mesma, quem fala?- pergunto impaciente. Chorei tanto que acabei ficando com dor de cabeça.
-- É do necrotério, pedimos que por favor venha reconhecer o corpo da sua mãe - diz a voz e outra vez me vem à vontade de chorar.
-- Tudo bem, eu...eu já estou indo , me passe o endereço por favor...
-- Ok... obrigada- digo e desligo
-- Quer que eu vá com você?- pergunta Beatriz se levantando do sofá e pegando su bolsa creme em cima da mesinha de centro.
-- Eu adoraria - digo indo em direção ao carro.
Fomos a viagem inteira em silêncio, sem conversa, sem rádio, sem nada.
Eu nunca havia ido a um necrotério antes, quando meu pai morreu, foi minha mãe quem foi fazer o reconhecimento do corpo. La é um local frio, com as paredes pintadas de branco, piso branco, pessoas todas vestindo roupas brancas, luvas, toca e máscaras. Logo na recepção vejo algumas poucas pessoas que não faziam parte da equipe do lugar. Alguns estavam de cabeça baixa, outros choravam, em sua grande maioria mulheres, talvez até parentes das outras vítimas do incêndio.
— Com licença - digo chamando a atenção da recepcionista, uma mulher de mais ou menos 30 anos, de longos cabelos e olhos castanhos e um pouco acima do peso, que estava lendo uma revista de fofocas.
-- O que você quer?- pergunta a mulher virando a página da revista.
-- Eu vim reconhecer um corpo...
— Todos aqui vinheram- diz ela fazendo pouco caso e voltando a olhar sua revista.
— Como eu ia dizendo, vim reconhecer o corpo da minha mãe, Helena Cavalcante Albuquerque.
Assim que termino de falar o nome da minha mãe, a mulher larga a revista de lado e arruma a postura.
-- Por aqui Senhorita Albuquerque - diz ela me indicando para segui-la.
-- Pode ir despreocupada. Eu te espero aqui - diz Beatriz se sentando em uma das cadeiras de estofado azul claro da sala de espera.
Passamos por alguns médicos e mais algumas pessoas chorando, dava pra sentir a tristeza no ar, aqueles longos corredores inteiramente brancos chegavam a doer a minha visão, e o ar frio do ar condicionado me fazia me amaldiçoar por não ter colocado um casaco.
Finalmente paramos em frente a uma porta branca, a mulher que eu ainda não sei o nome bate duas vezes na porta antes de abrir uma pequena frestinha e colocar a cabeça para dentro da sala.
-- Com licença doutor?- pergunta ao médico.-- Sim Tatiana.
-- A Senhorita Albuquerque está aqui para fazer o reconhecimento do corpo da senhora Helena.
-- Ah sim mande ela entrar.
-- Pode entrar Senhorita- diz ela abrindo mais a porta.
Entro no cômodo e de cara vejo várias macas com corpos, alguns dentro de sacos negros, outros não.
Tatiana fecha a porta me deixando a sós com todos aqueles corpos e um homem alto, negro, careca e musculoso, aparentando ter mais ou menos uns 40 anos e com orelhas um tanto pontiagudas.
-- Muito prazer Senhorita Albuquerque, sou o doutor Daga. Francisco Daga - diz ele e nos comprimentamos com um aperto de mão - Sinto muito pelo que aconteceu com a sua mãe, mas principalmente por ter sido um incêndio e os corpos das vítimas terem ficado em péssimo estado, preciso que faça o reconhecimento do corpo da sua mãe. Duas das cinco vítimas já foram reconhecidas por seus familiares.
Assinto com a cabeça e caminhamos até três macas, com um corpo cada uma.
-- Fique a vontade e leve o tempo que precisar- diz ele e sinto o toque da palma de uma das suas mãos frias em minhas costas, por cima do tecido da blusa.
Olho para o primeiro corpo, era uma mulher de cabelos castanhos como os da minha mãe, mas sua altura menor que a minha entregava que não era ela.
O segundo corpo era de uma mulher, um pouco mais alta do que eu, com longos cabelos loiros.
Já a terceira, era uma mulher de estatura mediana, cabelos castanhos até a altura dos ombros, muito parecidos com os meus... Enfim era a minha mãe.
-- É essa - digo chamando o doutor que examinava outro corpo do outro lado da sala.
-- Muito bem, obrigada pela ajuda e novamente sinto muito pela dua perda Senhorita Albuquerque.
Saio da sala o mais rápido possível e faço o mesmo caminho que fiz para chegar aqui ao contrário, até chegar a recepção.
-- Alice...
Me viro e vejo meu irmão Felipe, desesperado, usando uma camisa jeans amassada assim como suas calças. Mais atrás vejo minha cunhada Isabela, usando um macacão jeans com uma blusa de manguinha branca.
-- Felipe...
Recebo de meu irmão um abraço apertado, que me passa familiaridade e um conforto sem igual.
-- Me diz... Me diz que não é verdade... Me fiz que ela não morreu...- pede meu irmão e sinto suas lágrimas molharem minha blusa.
-- É verdade meu irmão... Parece que foi um acidente...
-- Não, não foi um acidente. Foi assassinado- diz Isabela.
-- Como tem tanta certeza?- pergunto.
-- Nós ouvimos uns policiais conversando... Disseram que parece que alguém colocou fogo intencionalmente no local- responde ela.
-- É verdade irmã... Eu também ouvi- diz Felipe se desvencilhando de mim.
Era exatamente isso que eu temia, primeiro o meu pai, depois sua amante e agora sua esposa, minha mãe. Quem será o próximo? Felipe? Isabela? Eu? Quem está fazendo isso? O que quer? E quando vai parar.
-- Quem é ela?- pergunta Isabela apontando para Beatriz e só então me lembro de que ela ainda está aqui.
-- Está é Beatriz, uma amiga.
-- É um prazer conhece-los- diz ela estendendo a mão para cumprimentar Isabela mas a mesma faz pouco caso e meio sem jeito Beatriz recolhe a mão.
-- É um prazer conhece-la Beatriz - diz Felipe.
-- Bom acho que ja podemos ir pra casa. Eu ja fiz o reconhecimento do corpo - digo louca para sair daquele lugar.
Felipe foi em seu carro com Isabela, e pode ser impressão minha mas eu achei ela um pouco mais gordinha que o normal. Já eu fui em meu carro com Beatriz.
-- Amanhã depois do enterro vamos começar o meu treinamento- digo olhando fixamente para a estrada com poucos carros a minha frente.
-- Tudo bem - é a única coisa que ela diz.
Talvez esse treinamento me ajude porque no momento eu estou realmente sem esperança.
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Capítulo meio bosta eu sei mas é que eu tenho várias idéias e estou sem saber como encaixa-las no enredo da história.
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O grito da morte
Science FictionSinopse: Alice é uma garota aparentemente normal, até ter sua vida virada de ponta cabeça com a morte de seu pai e a descoberta de estranhos poderes sobrenaturais. Um assassino está a solta e cabe a Alice, com a ajuda de seu namorado Lucas e o irmão...