E um acontecimento numa tempestade com relâmpagos

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Lily virou o corredor, quase derrapando no piso molhado da escola. Cogitou tirar os saltos, mas correr com eles havia se mostrado mais fácil que tentar desamarrar as tiras. Um relâmpago surgiu no céu, e naquele instante ela era apenas um fantasma pálido, num clarão de luz, uma menina com um vestido bonito, e várias cores para enfeitar. Quando o som do trovão retumbou pelo colégio ela tremeu, e deixou-se estar no corredor, amontoada na saia do vestido, sentindo as gotas de chuva alcançarem a pele nua dos seus braços.

Outro relâmpago apareceu, mas dessa vez ela já estava preparada para o estrondo que vinha a seguir.

— Lily?

Ela o ouviu antes de o ver, o garoto que virava o corredor, com a gravata ainda ao redor do pescoço, e o blazer aberto. Por um segundo ele não a viu, encostada na parede, perdida em tecidos. Talvez se ela ficasse bem quietinha, ele daria meia volta. Outro relâmpago, e ele a viu encolhida no chão.

— Lily? Mas o que...

— Eu não posso mais fazer isso... — chorou a menina, criando uma trilha negra, que serpenteava por entre as sardas do rosto.

Ele se aproximou devagar, como se estivesse tão perdido quanto ela... A menina o viu passar a mão pelos cabelos, e respirar fundo antes de se ajoelhar ao lado dela. Mais um clarão, e Lily pode ver aqueles olhos tão próximos de si.

— Lily? — o garoto estendeu a mão para o rosto dela, encaixando a palma naquele espaço conhecido, sua mão era a coisa mais quente que ela tinha no momento. — O que aconteceu?

— Eu não consigo... — ela se esticou, e juntou seus lábios ao dele, pela última vez, provavelmente. Lábios macios e quentes, como da primeira vez. — Sinto muito, mas eu não consigo mais fazer isso...

Ela juntou as saias do vestido com as mãos e correu novamente. Quando olhou para trás, o relâmpago iluminava perfeitamente o moreno atordoado no meio do corredor. Um trovão ressoou pelas paredes do colégio, mas Lily não ligou dessa vez, ela só correu.

120 dias antes

James observava as gotas de água descendo pelo vidro e apostava qual delas chegaria primeiro. Mário, a do meio. Jorge, a da esquerda. Ou Penélope, a da direita. Jorge tinha estado com uma boa dianteira, até Penélope se fundir com Mário e os dois terminarem o percurso. Quando uma gota vencia, ele recomeçava com outras e dava os mesmos nomes. Às vezes acrescentava uma quarta e chamava de Kevin.

Estava inquieto, quando entrara no carro de Marlene a chuva não passava de um chuvisco, agora o tempo fechara e o céu ameaçava cair a qualquer momento. Não gostava de tempestades. Quando o primeiro relâmpago surgiu, James Potter fechou bem os olhos e se encolheu no banco do passageiro, pronto para se fundir ao assento se preciso. Quando o trovão veio, ele não pode deixar de se encher de lembranças.

Lembrava-se do clarão do relâmpago e do barulho que os pneus fizeram no asfalto. Sua cabeça havia batido com força suficiente para que os óculos tivessem cortado seu nariz. Sangue escorria pelo seu rosto, mas havia mais sangue no vidro do carro, que a chuva lavou rapidamente, aquele sangue não era dele. "É uma emergência, em frente a Zonks, ele está caído, eu não sei o que fazer!" Ele nem havia notado que o celular estava molhando, não se lembrava de como sinalizar uma via em caso de acidente, e nem uma manobra de primeiros socorros. Tudo que James conseguia pensar é que havia um corpo inconsciente no chão, que podia muito bem estar morto.

— James? Você estava me escutando? — quis saber Marlene, quase tirando as mãos do volante para dar um tapa no colega. James foi puxado de volta para a realidade, abrindo os olhos e mandando embora as lembranças.

5 Colours in Her HairOnde histórias criam vida. Descubra agora