E que tudo está dando errado,

63 2 0
                                    


No dia do baile

A garota deixou que o pincel beijasse sua face enquanto colocava alguma cor em suas bochechas. Seus olhos grandes observavam cada detalhe, cada pequena imperfeição coberta, cada belo traço.

— Oh! Minha querida, você está linda! — a menina virou-se e viu a mãe parada na porta do quarto com as mãos no rosto e lágrimas nos olhos. — Você parece uma princesa!

— Eu me sinto como a Cinderella — a garota sorriu, alisando o vestido.

Havia trabalhado tanto nisso, havia construído cada pedaço dessa imagem, tinha dado tão duro para isso que agora estava começando a ficar aflita que tivesse esquecido alguma coisa, que tivesse deixado algo passar. Tudo tinha que ser perfeito, sua vida dependia disso.

— Estou pronta — construiu seu melhor sorriso e desceu as escadas. Sim, ela estava pronta.

58 dias antes

Em retrospecto, Lily podia dizer que sua vida tinha dado uma guinada violenta. De solteira ela tinha passado a ter o garoto mais cobiçado da escola. Seu cabelo estava mais hidratado e com um bom corte, as cores sempre vivas. Sobrancelhas desenhadas, pele bem cuidada, unhas bem feitas, até seu corpo estava mais magro e forte. Não era incomum ela ficar em frente ao espelho do quarto e admirar sua nova aparência. Eu estou mudando, ela pensava. O pensamento nem sempre era bom.

Pegou o casaco e saiu. O céu estava aprontando uma chuva tremenda, e Lily sorriu um pouco, era quinta-feira, ela se lembrou de praticamente dois meses atrás, quando aquele casal estranho entrou na loja e propuseram um plano absurdo. Ela não estava arrependida de ter aceitado, já tinha cumprido metade do percurso, mais dois meses e estaria livre.

— Sinto muito, Evans — disse seu chefe quando ela entrou na loja e fez menção de pegar um avental.

— Como? — perguntou a garota do cabelo colorido, empertigando-se.

— Você está demitida, Lily — explicou ele, com um meio sorriso. — Você era legal, garota, mas agora só sabe se atrasar, faltar... Está tão cheia de si, é um saco.

Lily corou de raiva, fechando as mãos em punhos. Nem se deu ao trabalho de mendigar o emprego, estava tão brava. Por que ainda estava ali, afinal? Não precisava do dinheiro, não mais.

— Ótimo, faça bom proveito dessa espelunca, não preciso disso — ignorou o cheque que continha uma miséria do tanto que havia trabalhado aquele mês e saiu batendo a porta no caminho. Ela definitivamente não precisava daquilo.

Estava chovendo, Lily suspirou fundo, protegeu a bolsa com o casaco e marchou pela rua. Aquela semana só piorava e piorava...

***

Sirius desmarcou o encontro pela segunda vez, Lily estava começando a achar que o ritmo alucinante com que essa relação corria teria a ver com a duração dela também. Estava morrendo de medo de que o namoro não chegasse ao baile.

Uma semana após dizer sim ao pedido inesperado de Sirius, ela foi levada para conhecer a família dele. Aquela com certeza estava entre as dez piores experiências de sua vida. A mãe de Sirius havia preparado — o que queria dizer que, na verdade, ela tinha mandado alguém preparar — frutos do mar. Lily era alérgica, o assunto com toda certeza tinha sido repassado em alguma conversa com o moreno. Então ela se serviu de sopa de tomate e passou a noite toda sob o olhar duro de Walburga como se fosse muito rude da parte de Lily ser alérgica ao prato principal. O pai de Sirius havia se mostrado uma pessoa extremamente silenciosa e alheio a tudo, surgindo na conversa apenas para concordar com a esposa. Regulus era um pedaço inconveniente de ser humano, que se alternava entre olhares de desprezo e olhares desejosos para a garota. Sirius havia se comportado tão bem que merecia um prêmio, realmente tinha se esforçado para que a família aceitasse Lily, não parando de tecer elogios sobre a garota. Quando ele lhe agradeceu pelo jantar, sorrindo aquele sorriso de menino, Lily quase pensou que a noite havia valido a pena.

5 Colours in Her HairOnde histórias criam vida. Descubra agora