Capítulo 24

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*Catherine narrando*
Ser uma rainha não é algo fácil. Sempre terão pessoas que irão olhar para você e julgá-la. Pessoas que pensarão que tudo que você faz é para dar vantagens à si e às pessoas que você se importa.

Não nego que em algumas situações, não poucas, eu corrompi algumas decisões do parlamento a fim de adiantar alguns processos ou satisfazer as vontades de alguns lordes que são muito importantes para o reino.

Tomar decisões é muito complexo para uma rainha. Você deve ser imparcial, ver de todos os lados e, ainda assim, corre o risco de tomar a decisão errada. E ninguém, ninguém no reino, realmente entendia a situação e só se preocupava em julgar.

Quando eu não consegui gerar um herdeiro para o rei Rudolph, todos caíram matando. Como uma mulher tão jovem, tão saudável não conseguiu fazer isso? Existe uma justificativa. Existe sim.

A gravidez de Emma foi muito complicada e minha família tinha condições, mas eles não queriam me ajudar, afinal era um bebê antes do casamento, uma bastarda. E, como eles não queriam a menina, não faltaram tentativas de me convencer a abortar. Tantas foram que, uma vez, eu quase me convenci, mas desisti de ultima hora, o que trouxe mais complicações para a gravidez.

O fato é que eu ainda não estava pronta para ser mãe e isso era uma verdade, por isso deixei a minha menina com o pai. Quando me casei com Rudolph, eu não conseguia nem pensar na possibilidade de ter que dormir com ele e o sentimento era recíproco.

Ninguém sabia, mas Rudolph não gostaria de dormir comigo ou com qualquer outra mulher. Aquilo não era algo de seu feitio. Mas ele não era homossexual. A verdade sobre Rudolph é que ele era o irmão mais novo e teve de assumir o trono quando o primogênito caiu doente e faleceu. Rudolph estava no seminário naquela época, a poucos meses de se tornar um padre e, secretamente, ele fez o juramento de que nunca iria dormir com uma mulher.

Quando ele me contou isso, eu resolvi ser honesta também e contei a ele que eu tinha uma filha e que eu a havia abandonado em Méssia. Ali encontramos a nossa saída. Emma sempre foi a herdeira e nunca nem cogitamos a ideia de tentar gerar um varão. Rudolph cuidou para que ela fosse aceita em uma escola, apesar de sua renda.

Ela não sabia, mas estudava política avançada e hoje sabe tudo que uma rainha deve saber. Tudo graças à Rudolph.

Depois do primeiro ano de casamento, o povo começou a se levantar contra nós, questionando onde estava o tão esperado herdeiro de Helsken. E então, Rudolph nos salvou. Em um comunicado público, ele assumiu que era estéril, mas que, quando necessário, cuidaríamos da questão do herdeiro.

E então, ele caiu doente. Eu cuidei dele por muito tempo, até que em um fatídico dia, o médico contou a ele que a doença era transmissível e por isso eu não entro em seu quarto hoje em dia. Ele me proibiu. Mas ainda me mandava cartas, falando como está e pedindo para que continue ciente de tudo o que acontece no reino. E eu o respondia. Toda vez.

Quando Emma chegou, ele me mandou a última carta.

"Querida Cath, me contaram que Emma está aqui. Estou muito feliz! Ela deve ser tão inteligente e bonita quanto você. E tenho certeza que será uma boa rainha para meu povo, uma rainha que saberá lidar com todas as implicâncias dos lordes, com a manha dos duques e com a necessidade do povo. Ela será amada pelos habitantes desse reino, assim como Vitória foi amada. E será inteligente, forte e tornará nosso reino impenetrável apesar de todas as ameaças, assim como foi Elizabeth. E encontrará o amor, apesar de todas as dificuldades pelas quais uma rainha passa, assim como fez Maria da Escócia. Leia isto e saiba que eu te amo e te considero muito, você foi a minha melhor amiga e confidente durante todos esses anos e eu te agradeço muito por tudo o que fez junto a mim. Esta é uma carta de despedida, os médicos me disseram que eu tenho mais alguns dias de vida, no máximo quinze e não terei mais condições de lhe escrever. Não quero que me responda, pois me causaria muita dor, não física, sentimental, se eu soubesse que sentirá minha falta. Não quero que sinta. Quero que sorria toda vez que se lembrar de mim e de nossas conversas e de quantas vezes nós fazíamos os empregados pensar que estávamos tentando de novo, mas na verdade ficávamos só conversando naquele quarto. Você sabe muito bem que meu amor maior é a minha igreja, o meu Deus e que fui fiel à esse amor durante toda a minha vida e nunca desejei nada mais que amizade contigo, mas, mesmo assim, sei que você foi minha alma gêmea, pois me entendia e me aceitava como eu era, assim como eu te entendia e te aceitava como você é. Meu último desejo, Cath, é que você ame novamente. Você merece, apesar de o povo não pensar isso. Fique bem e esteja sempre lá quando sua filha precisar de você, pois você perdeu momentos preciosos da vida dela. Com todo amor, seu melhor amigo. Ruddie."

Um Beijo EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora