Um Beijo Encantado

Capítulo 25

Emma narrando
O Castelo Bellair nunca mais foi o mesmo desde que Rudolph caiu doente. Na verdade, ficou ainda pior depois do coma. Aquele grito parecia aterrorizar a mente de cada indivíduo que estava naquele castelo. O simples fato de lembrar da dor de Rudolph e do desespero de Catherine provocava arrepios em qualquer um.

Como se não pudesse piorar, os preparativos para Coroação começaram, pois não podia atrasar. Estava uma correria muito pior do que a que eu havia presenciado em minha festa de noivado. O Castelo estava uma zona de guerra. Um campo de batalha. Uma disputa. Certas coisas estavam dando super certo enquanto outras estavam indo por água abaixo.

E era compreensível. Toda Coroação coloca certa pressão sobre os funcionários de qualquer castelo. O fato era que aquela Coroação vinha em seguida de um dia que ficaria marcado em Bellair como o dia mais triste e desalentador de todos. Tudo naquele dia marcou todos que estavam presentes e estaria para sempre guardado em suas memórias.

Foi quase como presenciar a morte de alguém. Na verdade, nós presenciamos a morte. Não de alguém, mas de seu interior. Catherine morreu por dentro. A partir daquele dia, ela começou a definhar-se interiormente. Cada vez mais.

E mesmo com tudo o que tínhamos que organizar, ela não saiu do quarto. Ninguém viu seu rosto, ninguém viu seu choro, ninguém viu seu desespero. Assim como ninguém sabia o amor que eles tinham um para com o outro. Um amor puro, inocente, livre de desejo ou segundas intenções. O amor que você só encontra em verdadeiras amizades. O sentimento de confiança que eles dividiam, o fato de um ajudar o outro quando necessário, tudo contribuiu para a devastação de Catherine. Todos os momentos, todas as lembranças. O seu passado.

Foi um dia longo, cheio de decisões sobre decorações, buffet, organização, convidados, entre outros. Eu não conseguia lidar com aquilo tudo sozinha. Eu estava começando a desacreditar e era o primeiro dia ainda. Eu dormi mais tarde do que o esperado e, no outro dia, não apareci no desjejum, o que insatisfez muitos nobres que haviam chegado naquela manhã bem cedo.

Gaia me manteve a par de todas as notícias, comentários, imprevistos, ocupação de quartos e, juntas, trabalhamos na organização das mesas de acordo com o afeto que cada nobre tinha entre si. Era como organizar uma grande festa de casamento, só que essa festa seria muito mais importante. Um reino inteiro estaria sob minhas costas.

No segundo dia, Catherine saiu do quarto. Ela parecia estar tendo total controle da situação, como se o mundo estivesse em suas mãos, porém seus olhos ainda estavam demonstrando emoção e fraqueza para aqueles que quisessem enxergá-la de verdade. O que realmente me surpreendeu foi que ela veio diretamente à mim e segurou minha mão com força, como se estivesse me passando todo seu poder, tudo que ela tinha, tudo que ela era.

-Você estava se saindo muito bem, mas agora chegou a hora de eu te ajudar.

Eu sorri naquele momento, pois eu tive certeza que ela estaria ali por mim sem se importar com quem fosse contra, com quem discordasse. Ela me ajudaria de verdade, como uma mãe, como uma amiga, uma conselheira, alguém que eu poderia confiar.

O que, às vezes, nos proíbe de nos aproximarmos de alguém sentimentalmente é por que nós mesmos nos prendemos. Uma prisão da qual escondemos a chave e somos orgulhosos demais para pedir à alguém para ajudar-nos a encontrar a chave perdida. E, quando superamos esse orgulho, quando o colocamos de lado, amar alguém se torna tão fácil que até estranhamos. É um sentimento completamente novo. Foi o que aconteceu com Catherine. Ela me deixou ajudá-la a procurar a chave e tirá-la dessa prisão interior onde ela foi mantida cativa por muito anos.

Foram tantos sentimentos que vieram à tona que, por um momento, achei que ela fosse chorar. Claro que não chorou. Apesar de que, ali, ela estivesse praticamente entregando seu amor e lealdade à mim, ela se manteve firme para me passar forças para continuar segura em todas as minhas decisões.