Capítulo 31

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Narrador
As árvores deixavam ir suas folhas e, com elas, ia o tempo passado. Tempo de divisão, de fração, de metades. Tempo que ninguém era completo e que os amores não transbordavam. Tempo onde não reinava a paz.

A queda das folhas daquele outono simbolizava mudança, crescimento, amadurecimento. Era o casamento de todas as coisas boas, a evolução de tudo o que se tinha adquirido e aprendido.

A capela pequena, mas sofisticada, que ficava no Castelo Bellair estava cheia. Cheia de amor, e de pessoas que acreditavam nele. Porque o amor move nações, o amor move o mundo. Pela força do amor, atinge-se alturas absurdas e capacidades inimagináveis. Com o amor, encontra-se a completude de si mesmo.

Que o amor é misturar-se ao outro sem temer os efeitos colaterais. E, por isso, falam que o amor é química. Está em nossas entranhas, no mais íntimo de nossos seres, em todas as nossas moléculas (até mesmo as menores). O amor está naquela adrenalina toda que percorre o corpo e causa eletricidade, até porque seus elétrons não cabem em suas órbitas de tanta atração.

Os opostos não só se atraem, mas se complementam, como num quebra-cabeças. O mais belo deles. O mais complexo deles, onde, muitas vezes, as peças podem se perder e, então, tudo estará perdido. Porque nem todas as coisas são simples e nem todas as equações químicas do amor são fáceis de se entender.

Que o amor é uma sina, nós sabemos. E que bate como os sinos da capela quando está prestes a ser celebrado, também. E que faz barulho e mágica e faz chover arroz. E faz planos por si próprio, ainda preocupando-se com aquele que ama, sua prioridade. Parece tão fácil quando os poetas falam, mas não somos poetas, somos mortais.

E, na caminhada lenta e nervosa do cavalheiro ao altar, percebemos que ele sabe que aquele pode estar sendo seu ato mais heroico e que lhe exigiu mais bravura, pois muitos o vieram prestigiar. E espera, tenso, pela entrada triunfante da mais linda dama pelas portas da capelinha, mas que poderia muito bem simbolizar as portas da sua vida, da sua alma, do seu amor.

Então, tocam as trombetas e a banda comemora a entrada da noiva. Rainha do amor. Princesa da noite. E caminha sobre o extenso tapete de rosas, é a Majestade, com seus olhos de nozes e cabelos de chocolate escorrendo por debaixo do véu. A noiva em toda a sua beleza magnífica, adornada pelos acessórios dourados, parecia ser o próprio Sol a iluminar a capela. E o vestido branco que deslizava sobre o mar de pétalas era deslumbrante, com sua seda macia a derramar seu feitiço encantador sobre os olhos dos espectadores.

Harry pensou consigo mesmo que nunca, pelo resto de sua vida, outra mulher pareceria tão bonita a seus olhos. Seu coração medieval saltava dentro de seu peito e a euforia platônica de estar ali prestes a declarar, oficialmente, seu amor eterno àquela mulher. Palavra de entusiasmo ou felicidade nenhuma poderia descrevê-lo naquele momento. Se sua vida era preto e branco e sua mente uma tela vazia, ele tinha certeza que agora sua vida carregava cores e sua mente uma pintura clássica e digna de Botticelli.

E Emma, bem, não estava nervosa. Não tinha como estar quando seu ponto de paz já estava à sua espera, dando-lhe a certeza de que assim seria para todo o sempre. Porque sempre pode ser um tempo muito curto ou muito longo, só depende da intensidade do sentimento. O sempre pode ser vivido em qualquer período, em qualquer milésimo de segundo, desde que se tenha certeza de que aquele sentimento é verdadeiro, que a sensação de segurança é tão real quanto o abraço, o enlaço do amor à sua volta.

E a Natureza bate palmas para aquela cena. E a Vida aplaude aquele amor que, por ter um final feliz, permite-nos saber que se trata de Emma e Harry e mais ninguém. Não é a tragédia de Romeu e Julieta, ou a emoção de Daisy e Gatsby. Não tem magia, como A Bela e a Fera. Mas, certamente, é tão verdadeiro quanto.

Um Beijo EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora