Capítulo 6
Assim que alcançamos a entrada da casa dos nossos novos vizinhos, minha mãe toca a campainha. É relativamente maior que a nossa, pintada em um tom bege claro diferente do nosso branco. Além disso, não possui uma sacada como a nossa. O caminho de pedras leva diretamente para a porta, elevada por três degraus.
"Alice?" Ouço a voz do meu pai enquanto esperamos que a porta seja atendida. "Você não tomou banho?"
"Que tipo de pergunta é essa?" Questiono confusa. "Claro que tomei."
"Então por que sua mão está toda manchada de preto?"
Levanto minhas mãos à altura dos olhos depois que ele fala. A esquerda possui apenas algumas manchinhas no polegar e no indicador. O problema real está na direita. Todos os meus dedos estão com as pontas tingidas de preto, sobrando ainda um pouco espalhado pela minha palma.
"Acho que a marca nova de giz que eu comprei não tem uma boa relação com a água."
"Não tem uma boa relação? Eles se divorciaram faz tempo." Meu pai complementa em um tom sério. "E ele se recusa a pagar pensão."
Nós dois caímos na gargalhada. Minha mãe parece prestes a dizer alguma coisa, mas ao invés disso, suspira e revira os olhos, não conseguindo segurar uma breve risada.
"Vocês dois não têm jeito."
A porta é aberta sem que tenhamos a chance de terminar a conversa, revelando uma Ruth vestida em calças jeans caqui e uma blusa rosa claro. O rosto dela se ilumina ao nos ver, e ela é rápida em nos convidar para entrar. Preciso admitir que, mesmo tendo a conhecido mais cedo e visto como era uma pessoa simpática, uma corrente de alívio percorre meu corpo quando ela parece não se importar de Thunder estar conosco.
"O jantar já está quase pronto. Entrem, entrem!"
Ruth nos guia pela casa, passando por uma sala de estar simplista, mas muito elegante, e uma sala de jantar igualmente bonita. Meus pais a acompanham de perto, conversando animadamente sobre alguma coisa do bairro, enquanto eu ando logo atrás com Thunder ao meu lado, tentando absorver o máximo sobre essa família com o que posso ver da casa deles. Eu chamo isso de síndrome do artista. Eu realmente acredito que você pode saber muito sobre uma pessoa baseado na imagem que ela lhe fornece, desde a decoração que escolhe colocar na parede até a expressão que carrega sob os olhos.
Fico confusa quando estramos na cozinha e não vejo ninguém. Pensei que estariam aqui, ajudando a preparar a comida. No entanto, tudo está vazio, e não enxergo nada que indique um jantar. Isso até Ruth dar mais alguns passos e abrir uma porta corrediça.
Meu corpo se enche de entusiasmo quando vejo o lugar maravilhoso que a porta estava escondendo. Atrás da casa, eles têm um longo deque de madeira que dá para um gramado. Uma mesa comprida está posta com sete lugares, divididos entre os dois bancos. O cheiro de churrasco inunda meus sentidos e percebo Thunder se agitar, mexendo o rabo de um lado para o outro. Ele sabe que eu sempre acabo dando metade do meu prato para ele.
Para completar, várias lâmpadas estão penduradas por uma sequência de fios a alguns metros do chão, dando a impressão que vamos jantar ao meio de estrelas.
"Olá, meu nome é Daniel." O homem que estava preparando as carnes cumprimenta, deixando a grelha de lado para vir até nós, e abraça Ruth de lado. "Os meninos já vão descer. Ruth contou que vocês acabaram de se mudar. Sejam bem vindos a San Diego."
"Muito obrigada, Daniel." Minha mãe responde simpática. "Meu nome é Monica. Esse é meu marido, Joshua. Essa é minha filha, Alice. E esse é Thunder." Ela finaliza as apresentações apontando para meu pastor alemão, sentado pacientemente ao meu lado. A única indicação do seu animo para o jantar é o movimento frenético do rabo, que ele mantem balançando sem nenhuma pausa.
"Vocês querem alguma coisa para beber?" Ruth oferece e quando minha mãe se voluntaria para ajudar, meu pai se une a Daniel ao lado da churrasqueira e eles engajam em uma conversa animada.
"Oi, Alice!" Uma voz animada chama minha atenção e eu viro a tempo de ver Theo atravessando a porta pela quando minha mãe e Ruth haviam acabado de passar. Ele não me dá a chance de responder antes de apontar para Thunder e voltar a falar "Posso fazer carinho nele?".
"É claro, que pode Theo." Respondo com uma risada e peço para Thunder se deitar, deixando sua barriga livre para o garoto afagar a vontade. Ele se senta ao lado do meu cachorro imediatamente, parecendo extremamente feliz apenas por poder toca-lo.
"Sabe, a mamãe não deixa a gente ter um cachorro." Ele comenta distraído.
"Você sabe o porquê?"
"Sei." Ele gesticula para que eu me aproxime dele. Ajoelho-me ao seu lado e espero enquanto ele passa as mãos na barriga de Thunder mais uma vez antes de juntá-las e traze-las para a minha orelha. "Meu irmão morre de medo de cachorro." A cara séria que ele faz torna quase impossível para eu segurar a risada. Isso explica muita coisa.
"Ah é?" Eu incentivo que ele continue a falar, me afastando um pouco para poder olhá-lo nos olhos.
"Aham! Teve uma vez que-"
"Falando de mim?" Nick surge por trás de nós e coloca ambas as mãos na cintura. Um sorriso presunçoso brinca em seus lábios.
"Não! Claro que não." Theo responde ligeiro antes de me dirigir uma piscada nada discreta.
Eu rio ao me levantar, deixando-o sentado no chão brincando com Thunder.
"Seu irmão é uma graça." Digo parando ao lado de Nick, de forma que nós dois ficamos observando o menino e o cachorro.
"Quer para você? Eu não cobro nada." Ele responde brincalhão.
Eu olho para ele enquanto rio, encontrando seu olhar preso em mim. Sob a luz das várias lâmpadas, percebo que seus olhos castanhos possuem riscos verdes espalhados por toda a íris. Fico hipnotizada por alguns instantes, imaginado quais cores eu precisaria usar para conseguir captar com perfeição o olhar intenso que Nick está me mandando.
Marrom escuro. Bege. Verde musgo. Esmeralda.
"A comida está pronta, crianças. Vamos sentar?" Daniel anuncia, carregando um prato cheio de carnes enquanto meu pai carrega outro. Minha mãe e Ruth aparecem nessa mesma hora, trazendo duas jarras de suco.
Eu saio do transe e sorrio levemente constrangida para Nick, que ainda me olha. Seu olhar não diz 'ela é maluca', como acontece geralmente quando fico presa em alguém. Eu não consigo evitar. Quando vejo uma característica marcante, minha mente viaja para como eu desenharia aquilo, sem nem sequer pedir permissão, e eu acabo encarando a pessoa discriminadamente.
Nick parece apenas... Curioso.
Eu quebro nosso olhar e me volto para a mesa, escolhendo um lugar na ponta para que Thunder pudesse sentar ao meu lado. Theo se senta a minha direita logo depois de eu chamar meu cachorro, iniciando uma série de perguntas sobre pastores alemão.
Todos se acomodam nos bancos, os adultos se concentrando em uma ponta e nós em outra. Nick se senta à minha frente e enquanto me esforço para responder todas as perguntas de Theo, sinto seu olhar penetrante voltar para mim.
Olá, olá! Mais um capítulo de "A Garota com o cachorro de vermelho" para marcar a quarta feira.
Espero que estejam gostando da minha história. Se estiverem, por favor, não se esqueçam de votar.
Muito obrigada pela atenção, significa mais que tudo para mim.
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Com todo meu amor, Júlia Romanholi
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A Garota com o Cachorro de Vermelho
Teen FictionAh, Nova York! A cidade onde as diferenças reinam. Andando por qualquer avenida, vê-se pessoas de todos os jeitos, classes, costumes, prazeres. E é claro que Alice amava isso. Aliás, como não gostar de um lugar onde a diversidade é abraçada? Ainda m...