Capítulo 4
Quando entro em casa, estou faminta.
"Mãe, chegamos!" Grito assim que passo pela porta.
"Estou na cozinha, querida!"
Depois de ouvir a resposta, me abaixo para tirar o colete de Thunder, largando-o na soleira. O pelo está molhado onde antes estava o tecido. Acho que vou ter que tosá-lo. O clima da Califórnia não parece adequado para o casaco natural que havíamos deixado crescer para o inverno nova-iorquino. Afago a cabeça dele e por, alguns minutos, somos apenas um cachorro e sua dona.
"Vamos almoçar, garotão? O que você acha?" Thunder responde minha pergunta com um latido e eu rio, me levantando. Enquanto vou para a cozinha, noto que muitas coisas já estão em seu devido lugar. Os caras da imobiliária devem ter vindo durante a manhã. Todos os móveis já estão posicionados e são poucas as caixas que ainda não foram abertas.
"Mãe, eu disse que te ajudaria a desempacotar." Exclamo no momento em que entro na cozinha. No entanto, paraliso assim que noto que a mulher que se vira ao ouvir minha voz não é a minha mãe. A que está parada ao lado do balcão tem cabelos muito loiros, quase brancos, ao contrário do preto marcante da minha mãe. Ela é mais velha, também. Pelo menos é isso que a expressão cansada por trás de seu sorriso me diz. Ela parece tão... Derrotada.
"Olá! Você deve ser a Alice. E essa garotão deve ser Thunder. Sua mãe falou muito sobre vocês." Ela diz animada apontando para minha mãe, que finalmente percebo estar mexendo em algo no armário embaixo da pia. Thunder nem chega a ameaçar um rosnado. Olho espantada para meu cachorro. São raras as pessoas para quem ele não rosna à primeira impressão. Ela é uma boa pessoa.
"Oi, querida. O almoço já está quase pronto." Ouço sua voz abafada e, depois de alguns instantes, ela se levanta com um pote de tempero à mão. "Comprei algumas coisas para o almoço agora há pouco, mas vamos precisar voltar ao mercado para comprar o restante."
"Sem problemas." Concordo.
"Essa é Ruth. Nossa nova vizinha. Ela me ajudou a encontrar o mercado e arrumar algumas coisas."
"Muito prazer, Ruth." Eu digo com sinceridade.
"O prazer é todo meu, Alice." Ela sorri ao responder. "Bem, preciso voltar para casa. Tenho que preparar o almoço dos meninos. Vejo vocês hoje à noite. Às sete, certo Monica?"
"Isso mesmo, Ruth. Até mais tarde!"
Depois de um abraço rápido em mim e na minha mãe, Ruth vai embora, seus cabelos claros balançando atrás de si.
"O que vai acontecer hoje à noite?" questiono assim que ela desaparece da minha vista.
"Ruth nos convidou para um jantar de boas-vindas na casa dela." Minha mãe se volta para o fogão e passa a mexer o conteúdo de uma panela. "Você pode colocar a mesa para mim, querida?"
Procuro nos armários até encontrar aquele em que elas guardaram os copos e pratos e começo a arrumar a mesa. Coloco apenas dois pratos, como na maioria dos nossos almoços. Meu pai geralmente passa o dia inteiro no hospital, então quase nunca almoça em casa. Minha mãe, por outro lado, se recusa a me deixar comer sozinha. Ela é arquiteta. Em todos os escritórios em que já trabalhou, nunca deixou de voltar para casa em seu intervalo de almoço. Ela fala que é porque não há nada melhor do que comer em família. Eu sei que é porque ela não gosta de ficar o dia todo sem checar como eu estou.
"Sabe, querida, Ruth tem dois filhos. O mais velho tem a sua idade e frequenta a escola em que te matriculamos. O nome dele é Nicolas." Com essa frase, minha mãe consegue tirar toda minha atenção dos talheres e guardanapos. "Não é ótimo? Assim você já vai conhecer alguém antes mesmo do seu primeiro dia de aula."
"Espera um segundo, mãe. A Ruth mora na casa logo em frente a nossa?" Pergunto enquanto as peças se juntam na minha cabeça.
"Isso mesmo."
Então a vizinha simpática é a mãe de Nick. Interessante.
Quando tudo fica pronto, nos sentamos à mesa. A comida, como sempre, é muito saudável. Eu não posso me dar ao luxo de comer muita besteira. A pizza da noite passada? Rara exceção. Por recomendações do meu médico, que, por coincidência, também é meu pai, eu vivo em uma dieta à base de legumes, carnes magras, arroz integral e muito exercício físico.
"Como foi seu passeio, querida?"
"Foi legal, mãe." Respondo com sinceridade enquanto penso em Margot e no Le Parnasse. No entanto, o sorriso escorre dos meus lábios quando me lembro do que aconteceu pouco antes, na lanchonete. Desvio meu olhar para o prato à minha frente e cutuco um brócolis com meu garfo. A fome desapareceu, de repente. Escorrego o legume até de baixo da mesa, deixando Thunder tirá-lo da minha mão.
"Mas..." Ela deixa o questionamento claro em sua fala.
"Sem 'mas'." Volto meu olhar para ela e me esforço ao máximo para trazer o sorriso de volta ao rosto. Ao longo dos anos, fiquei muito boa nisso.
"Agora que passamos pela mentira, eu gostaria da versão sincera para o que eu te perguntei."
Ela me conhece bem demais.
"Nada demais. Tivemos um probleminha em um restaurante."
"Alice." Seu tom acolhedor se transforma sob meus ouvidos, exigindo a verdade com a voz que ela só usa em momentos que precisa ser rigorosa.
"O atendente ameaçou chamar a polícia se eu não saísse da lanchonete. Todo mundo ficou encarando. Parecia que eu era um alien puxando um animal de estimação extraterrestre pela coleira." Fixo meus olhos no prato mais uma vez. Eu não quero deixa-la preocupada. Ela não precisa de mais estresse.
Ouço seu movimento antes de senti-lo. Minha mãe arrasta a cadeira e se levanta, apenas para vir até mim, empurrando Thunder delicadamente com a perna, e se agachar ao meu lado. Ela traz uma das mãos até meu rosto e, lentamente, me força a encarar a imensidão castanha que são seus olhos.
"E o que você fez?"
"Eu fui embora." Ela suspira pesarosa com a minha resposta.
"Você sabe que tem tanto direito de frequentar aquele lugar quanto qualquer outra pessoa, certo?" Eu assinto com a cabeça. "E você sabe que não tem nada de errado com você, não sabe? Você precisa andar com Thunder. Essa escolha não foi sua. A vida escolheu por você. Não há absolutamente nada de errado nisso." Eu concordo novamente.
"Às vezes é difícil me lembram disso, mãe."
"Não tem problema, querida. Eu estou aqui para lembrar você quantas vezes forem necessárias."
"Eu te amo, mãe."
"Eu também te amo, Alice." Ela se levanta e volta para seu lugar à mesa. "Agora termine de comer." Ela pausa antes de completar. "E sem dar metade do seu almoço para Thunder."
Olá, olá! Esse capítulo está mais chatinho, mas precisamos dele para dar continuidade em "A Garota com o Cachorro de Vermelho". Prometo que coisas interessantes estão por vir!
Obrigada por estarem acompanhando minha história. Espero que estejam gostando do que leem. Não esqueçam de votar e comentar! Eu adoraria ouvir a opinião de vocês.
Obrigada novamente.
Com todo meu amor, Júlia Romanholi
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A Garota com o Cachorro de Vermelho
Novela JuvenilAh, Nova York! A cidade onde as diferenças reinam. Andando por qualquer avenida, vê-se pessoas de todos os jeitos, classes, costumes, prazeres. E é claro que Alice amava isso. Aliás, como não gostar de um lugar onde a diversidade é abraçada? Ainda m...