Capítulo 10
Meu nervosismo aumenta a cada metro que nos aproximamos da escola.
Pela maior parte de tempo em que dirigimos, Nick e eu mantemos um silêncio muito agradável. Ele pode não saber, mas eu realmente preciso disso. O silêncio me ajuda a pensar. Esse é um habito que emprestei da pintura. Quando estou com um pincel, um giz ou mesmo um lápis na mão, o mundo fica em silêncio. Não importa onde eu esteja. Tudo fica quieto. Quando eu não estou pintando, no entanto, preciso que a quietude seja real, quase palpável. Acho que Nick percebe isso, pois nem sequer liga a música.
Alguns minutos se passam e eu tento me agarrar a eles, mas não adianta. Já vejo ao longe um complexo de prédios e tenho certeza que é ali que passarei o próximo ano da minha vida. Quando paramos em um semáforo, a voz de Nick interrompe o silêncio que preenchia o carro.
"Ei, Alice."
Eu desvio o olhar da janela e me volto pra ele, que tem seus olhos fixos em mim. Acho que, a essa altura, já posso dizer que estou apaixonada pelos olhos desse garoto.
Sem deixar esse pensamento se alastrar na minha mente, maneio a cabeça em sua direção, incentivando-o a falar.
"O pessoal da escola sabe sobre Thunder?"
À menção de seu nome, meu cachorro se levanta de sua posição, deitado no banco de traz, passando para uma postura mais alerta.
"Sim, eles sabem. Meus pais trouxeram os documentos do hospital quando vieram fazer a matricula."
"Entendi." Ele responde e o semáforo muda para verde. Sei que Nick precisa voltar os olhos para a rua para que consiga dirigir, mas não posso deixar de sentir uma leve decepção quando a confusão de castanho, verde e dourado me deixa. "E como isso funciona? Você precisa levar esses documentos para todo lugar que vai?"
"Não, não necessariamente. Thunder é um cão de serviço, então, por lei, ele pode ir comigo aonde quer que eu vá. Trazer os documentos não é mais que uma mera formalidade. Só pra garantir que nenhum professor ou algo assim surte por eu estar levando um pastor alemão para a aula."
"Ah, cara! Isso seria engraçado. Sabe aquele negocio de cão raivoso que o Thunder fez quando me conheceu? Será que você consegue fazer com que ele faça aquilo de novo com nosso professor de física?" A seriedade em sua voz me faz querer explodir em risadas. Ele fala como se eu devesse mesmo considerar a ideia. No entanto, mantenho-me séria por tempo o suficiente para responder.
"Hoje ainda é meu primeiro dia de aula, preciso de ao menos duas semanas antes de poder aterrorizar alguém com Thunder."
"Bem, isso é uma pena. Conheço algumas pessoas que definitivamente merecem o que eu passei naquela noite."
Nesse momento, não aguentamos mais e começamos a rir. O que acontece exatamente quando ultrapassamos a entrada da escola. A conversa serviu para me deixar mais calma, então, ao invés de começar a surtar, provoco Nick assim que estacionamos o carro.
"Ah, vamos lá! Aquilo nem foi tão ruim! Thunder estava à dez metros de você. Daria tempo de você ter corrido de volta até sua casa."
"Daria mesmo?"
"Não."
Com uma risada, saio do carro.
O estacionamento está cheio. Adolescentes andam de um lado para o outro se cumprimentando enquanto outros se juntam em grupos para conversar. Não é como nos filmes. Ninguém para o que está fazendo para prestar atenção em mim. Todos continuam falando, andando, rindo. Eu recosto na porta do carro e respiro fundo.
"Está tudo bem, Alice?" Ouço a voz de Nick e não preciso virar para saber que ele está do meu lado.
"Sim, sim. Estou bem."
"Então... Vamos entrar?"
"Só um minuto." Respondo, ainda olhando para a movimentação à minha frente. "Eu quero ser só uma aluna nova normal por mais um minuto."
Penso que Nick estranhará minha ideia, ou talvez apenas diga que já vai entrar e depois nos encontramos. Ele não faz nada disso. Muito pelo contrário. Ele se aproxima mais alguns passos de mim e recosta ao meu lado. Eu consigo sentir seu braço encostando de leve no meu. A sensação é boa. E por alguns minutos tudo o que fazemos é isso. Ficamos ambos parados, sem falar nada e encarando as outras pessoas, com nada além do contato singelo entre nós.
Eu respiro fundo e declaro:
"Ok, acho de podemos ir."
"Tem certeza?"
"Não, mas só temos mais dez minutos antes da aula começar e eu não faço a mínima ideia de onde devo ir."
Dito isso, quebro o contato entre nossos braços e me movo em direção à porta traseira. Sinto um arrepio onde antes Nick estava me tocando, mas faço o que posso para ignorá-lo. Então, respiro fundo e abro o carro, dando de cara com um Thunder aparentemente animado olhando para mim. Ele move o rabo de um lado para o outro rapidamente e sua expressão está leve.
Eu sorrio e grande parte do peso sobre meus ombros vai embora.
Se preciso fazer isso, pelo menos vou fazê-lo com Thunder ao meu lado.
"Está pronto, garotão?" Sussurro ao acariciar a cabeça peluda dele. "Vamos conhecer muita gente nova hoje. Mas fique tranquilo, não tem por que ficar nervoso. Eu vou estar com você o tempo todo, ok?"
Thunder continua abanando o rabo e eu pego a guia na minha mochila para conectá-la ao colete vermelho do meu cachorro. Asseguro-me de prendê-lo bem antes de permitir que saia do carro. Ele não precisa realmente de uma guia para andar comigo. Ele sabe que deve me acompanhar de perto, a menos que eu diga o contrario. Foi treinado para isso. Além do mais, tenho a impressão de que, com a relação que temos hoje, ele não pararia de andar ao meu lado mesmo se não precisasse mais.
Portando, a guia não é para Thunder, é para os professores, alunos, funcionários e qualquer outra pessoa que possa se assustar com meu pastor alemão.
Com uma ultima respiração profunda, dou um passo para o lado e permito de Thunder desça do carro. Ele logo assume seu lugar imediatamente à minha direita enquanto Nick fecha a porta atrás de nós.
"Vamos?" Ele fala assim que tranca o carro.
"Vamos."
Começamos a andar e é então que as cabeças viram em nossa direção.
Olá, olá! Finalmente consegui postar na data certa! Espero que estejam gostando de "A garota com o cachorro de vermelho". Muito obrigada pela atenção. Significa o mundo ter alguém lendo minha história.
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Muito obrigada por tudo!
Com todo meu amor, Júlia Romanholi
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A Garota com o Cachorro de Vermelho
Teen FictionAh, Nova York! A cidade onde as diferenças reinam. Andando por qualquer avenida, vê-se pessoas de todos os jeitos, classes, costumes, prazeres. E é claro que Alice amava isso. Aliás, como não gostar de um lugar onde a diversidade é abraçada? Ainda m...