Capítulo 9
Eu perco tempo demais encarando meu armário.
Até tenho boas opções, mas nada parece certo. Cada combinação que tento fazer grita Nova York. E o problema é que hoje eu gostaria de ser um pouco mais San Diego.
Enquanto deixava a água corrente levar embora todo o suor da corrida com Nick, decidi abraçar a Califórnia da melhor forma que eu puder. As pessoas que conheci até agora, salvo aquele acidente infeliz na lanchonete, não fizeram nada além de me tratar bem e me fazer sentir bem vinda. Não posso julgar toda uma cidade baseada em uma única experiência, pelo menos é isso que repito para mim mesma e torço para que se torne verdade.
Então, cá estou eu, sentada a beira da cama com um enorme pastor alemão ao meu lado enquanto encaro todas as roupas que possuo. Quero usar algo bonito, mas não muito chamativo. Thunder já chamará atenção suficiente para nós dois. Além disso, quero uma roupa que não deixe "turista" escrito na minha testa. Ontem isso não parecia um problema, mas tudo está tão diferente agora. Eu quero me encaixar em San Diego. Quero conhecer mais pessoas maravilhosas. Mas o que mais quero, de verdade, é parar de mentir para minha mãe quando ela me pergunta se gostei da mudança. Eu quero gostar da mudança, de verdade. Por isso, dou o meu melhor.
"Vamos lá, garotão." Digo para Thunder mais para me animar do que qualquer outra cosia. Só tenho mais quinze minutos até o horário que combinei de encontrar Nick na frente da calçada para ele me dar uma carona. É melhor aproveitá-los.
Provo cinco opções diferentes antes de me decidir por uma calça jeans skinny, que dobro na altura dos calcanhares, e uma das minhas regatas favoritas. Ao me olhar no espelho, ainda não acho que esta seja a opção perfeita, mas tenho apenas mais cinco minutos e ainda não comi nada. Se minha mãe souber que saí de casa sem tomar café da manhã, ela me mata.
Desço as escadas correndo e quase sou atropelado por Thunder quando alcançamos o primeiro andar. Ele tem um problema com parar depois de descidas. Seguimos até a cozinha onde encho um copo de leite para poder tomar meus remédios matinais, que carrego em uma caixinha organizada decorada com estampa de camuflagem. Sorrio com carinho ao pensar na pessoa que me deu esse presente. Parece que faz tanto tempo que não nos vemos.
"Ah, droga." Murmuro decepcionada ao olhar o grande relógio na parede da cozinha. Sete horas e três minutos. Nick já deve estar me esperando lá fora.
Engulo todos os comprimidos sem nem sentir o gosto do leite que jogo por cima e agarro uma maçã no caminho para sala. É só quando estou na porta de casa já com a mochila que arrumei ontem nos ombros que noto não ter parado para lavar a fruta. Ótimo.
Eu devia voltar para a cozinha e lavá-la. Não tomaria mais que um minuto. Mas, pensando melhor, a lista de coisas que podem me matar antes de uma maçã não lavada é bem grande. Além disso, hoje é meu primeiro dia de aula e, portanto, o primeiro dia que pego carona com Nick. Não quero leva-lo a pensar que não sou uma pessoa pontual. Assim, deixo minhas ressalvas de lado e dou uma grande mordida enquanto abro a porta.
E lá está ele.
A luz do amanhecer não lhe faz justiça. Agora, com o sol já alto no céu, percebo coisas que não havia notado antes. Posso até estar parecendo louca, parada há três metros de um garoto encostado em um carro. É impossível parar de olhar, no entanto. A luz vinda do leste bate no lado esquerdo do seu rosto e tudo o que vejo é uma discreta covinha aparecer quando ele sorri para mim. É bem leve, quase não dá para ver, mas eu vejo. Distraio-me imaginando como o desenharia, até decidir não imaginar mais. É isso, vou desenhá-lo assim que chegar em casa.
"Bom dia de novo, Alice." A voz de Nick soa calma quando me cumprimenta. "Bom dia para você também, Thunder."
É nesse momento que sinto meu coração se abrir um pouquinho. E quando respondo, não consigo deixar o sorriso fora da minha voz.
"Bom dia de novo, Nick."
"Você está pronta?"
"Nem um pouco."
Minha sinceridade faz com que ele se aproxime.
Em três passadas largas, Nick para imediatamente a minha frente e coloca ambas as mãos em meus braços. Ele esfrega-as de cima para baixo lentamente, e noto que essa é a primeira vez que nos tocamos.
"Relaxe. Dizem que se você faz um amigo no primeiro dia de aula já é um bom começo."
"Você está citando 'As Vantagens de ser Invisível' para mim?" Eu o interrompo.
"Sim, eu estou." Ele diz isso acompanhado de um sorriso que me faz pensar em rodas-gigantes e dias felizes. "Mas isso não é importante. O que é importante é que você ainda nem teve seu primeiro dia de aula e já fez um amigo. Acho que isso significa que você teve um ótimo começo. Quão ruim podem ser as coisas a partir de agora?"
"Isso é bem verdade." Respondo com um sorriso muito semelhante ao dele pintado em meus lábios.
"Claro que é verdade!"
Ao dizer isso, Nick toca meu nariz de leve e sem mais nenhuma palavra, anda em direção ao banco traseiro do carro. Eu fico confusa por um momento, até ele abri-la completamente e mover a cabeça na direção de Thunder.
Meu pastor alemão, ainda sentado ao meu lado como o fiel protetor que é, não move um musculo.
"Vamos lá, Thunder." Digo ao acariciar sua cabeça. "Entre no carro."
Eu aponto e ele vai.
Percebo Nick se encolher levemente quando Thunder passa por ele e fico maravilhada com o esforço que o vejo fazendo. Permito-me ser egoísta por um instante para aproveitar o quão legal é ter alguém – um garoto – disposto a fazer algo que tem medo por mim. Sorrio com o pensamento, mas não tenho muito mais tempo, já que assim que fecha a porta, Nick se dirige a do passageiro e a abre para mim.
"Senhorita." Ele diz com a voz engrossada.
Faço uma meia reverência, mas sou obrigada a parar no meio devido ao acesso de riso que tenho. Assim, ainda rindo, passo por Nick e me sento no carro. Observo-o dar a volta com um sorriso largo decorando o rosto e, quando se senta ao meu lado, dá partida no carro e começamos a nos mover. Nós não falamos mais nada. Nós não precisamos fala mais nada, pelo menos não agora. Estarmos sentados um ao lado do outro apenas curtindo o riso fácil que vem quando estamos juntos parece ser o suficiente.
Oi, gente! Antes de mais nada, eu gostaria de pedir desculpas. Não estou conseguindo seguir meu cronograma de postagens, mas prometo que farei meu melhor para fazê-lo funcionar daqui para frente.
Muito obrigada à todos que estão lendo "A Garota com o Cachorro de Vermelho", significa o mundo para mim.
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Com todo meu amor, Júlia Romanholi
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A Garota com o Cachorro de Vermelho
Novela JuvenilAh, Nova York! A cidade onde as diferenças reinam. Andando por qualquer avenida, vê-se pessoas de todos os jeitos, classes, costumes, prazeres. E é claro que Alice amava isso. Aliás, como não gostar de um lugar onde a diversidade é abraçada? Ainda m...