Capítulo 1

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Capítulo 1

A primeira noite na casa nova foi tranquila. Não começamos a arrumar as coisas porque meu pai insistiu para que comemorássemos. Então, ao invés de abrir caixas, sentamos no chão da sala de estar, já que a mobília ainda não estava no lugar certo, e pedimos uma pizza. Ficamos conversando e brincando por horas, minha mãe recostada no peito do meu pai e eu com a cabeça de Thunder no meu colo. Eu adoro ver meus pais desse jeito. Descontraídos, felizes. Ambos têm trabalhos mais do que estressantes, e mesmo quando não estão trabalhando, precisam se preocupar comigo. Mas de algum jeito, eles conseguem encontrar esses momentos. Momentos em que as únicas rugas visíveis no rosto do meu pai são as em volta dos olhos por causa da risada, e em que o sorriso da minha mãe se abre tanto que as covinhas, geralmente discretas, se transformam em marcas profundas.

Eu gosto de momentos assim.

"A conversa está boa, meus amores, mas tenho que me apresentar no hospital amanhã cedo." Meu pai diz, beijando a testa da minha mãe e se levantando.

"Vou me deitar também. Não tenho mais idade para ficar tantas horas atrás de um volante." Minha mãe estende o braço para o meu pai e ele a levanta. Ambos me desejam boa noite e desaparecem escada a cima, ligados pelo aperto firme de suas mãos. "Nós te amamos, querida!" É tudo o que ouço antes do barulho distinto de uma porta se fechando.

"Parece que só sobramos nós dois, amigão." Olho para Thunder em meu colo enquanto afago sua cabeça. Passo alguns minutos sentada na sala vazia e deixo que meus pensamentos voem para longe. A nova realidade me assusta. Morei a vida inteira em Nova York, tudo o que eu conheço e amo está lá. Meu lar está lá. Bem, acho que não mais.

Sou puxada para longe de meus devaneios quando sinto o pastor alemão se movendo sob minhas mãos. O cansaço, que finalmente me atinge, quase me convence a simplesmente subir as escadas e deitar na cama, mas sei que tenho coisas a fazer antes de poder descansar. Levanto-me do chão e abro a porta da frente, para que Thunder possa fazer suas necessidades antes de irmos dormir. Ele para do meu lado na sacada e me encara. "Pode ir, só não demore muito." Eu digo, movendo meu indicador e o dedo médio em um circulo.

O comando é o suficiente. Thunder corre para o gramado do jardim e eu me sento nos degraus da sacada. Pego meu celular no bolso e começo a marcar os remédios que já tomei hoje e os que ainda tenho que tomar antes de dormir. Assim que termino as anotações, acabo entrando nas mensagens, e pela milésima vez no dia, releio o que meus amigos me mandaram. A maioria são apenas mensagens curtas desejando uma boa viagem e sorte para iniciar minha nova vida. Somente duas são mais compridas. Uma de Ben, o enfermeiro chefe do hospital onde meu pai trabalhava e que cuidou de mim desde que eu era um bebê, e a outra de Cecília, a única pessoa que não usa um jaleco e realmente me conhece.

Minha mente voava distraída quando um som me chama a atenção. Começo a ouvir um rosnado. Um rosnado que conheço muito bem. Levanto a cabeça com um solavanco e vejo uma pessoa parada na calçada do outro lado da rua. Vestido em uma calça de moletom escura e uma camiseta vinho, o garoto de cabelos castanhos parece atônito. Ele segura um saco de lixo preto com força em uma das mãos, enquanto encara meu cachorro, que olha para ele raivosamente. Thunder se coloca em posição de ataque. Flexiona levemente as quatro patas e encara o garoto de volta, os dentes amostra e um grunhido feroz saindo de sua boca.

"Thunder!" Grito enquanto me levando e corro até ele. "Senta." Digo com a voz controlada no instante que chego ao seu lado e ele obedece, sentando-se ao meu lado de forma que eu consiga tocar a cabeça dele com meus dedos. Afago de leve seus pelos e me volto para o garoto, que nos olha perplexo. "Desculpe-me, ele só age assim quando acha que não estou segura." Ele não responde. "Meu nome é Alice, acabei de me mudar." Aponto para trás de mim. Continuo sem resposta. Garoto estranho. "Olha, ele não vai fazer nada. Eu prometo."

O garoto parece finalmente recobrar a consciência e chacoalha a cabeça levemente, como se estivesse saindo de um transe, mas continua com os olhos arregalados. "Eu podia jurar, com toda a certeza, que eu não passaria dessa noite.".

Não consigo me controlar e acabo soltando um risinho diante da cena. O garoto era bem alto, tinha uma quantidade considerável de músculos, apesar de nada fora do normal, e parecia prestes a molhar as calças. "Ele geralmente causa essa reação nas pessoas quando faz isso."

"Ele não deveria estar numa coleira, ou alguma coisa assim?"

"Ele nunca seria capaz de atacar alguém."

"Ele parecia bem capaz agora a pouco." O choque marcando presença em sua voz.

"Ele foi treinado. Só ataca se eu pedir." Concluo "Ou precisar.".

"E você já pediu? Ou precisou?" Dou de ombros, deixando que a pergunta paire no ar. "Nossa, me sinto muito mais seguro agora." Ele responde irônico e suspira, relaxando um pouco a mão que segura o saco de lixo. "Meu nome é Nick."

"Prazer em te conhecer, Nick.". Sorrio levemente "Desculpe de novo. Isso não vai mais acontecer.". E como ele não responde nada mais uma vez, continuo "Eu vou... entrar. Boa noite. Vamos, Thunder.". Viro-me e volto para casa, sem nem esperar por uma resposta. Provavelmente não vai haver nenhuma, de qualquer forma.

Tranco a porta atrás de mim e subo para o meu novo quarto, com Thunder me seguindo de perto. A única coisa que já está montada é minha cama de casal, encostada na parede oposta à porta. Eu costumava dormir em uma cama de solteiro, mas desde que meu cachorro adquiriu o hábito de dormir comigo, não havia mais espaço para eu me deitar com um pastor alemão ao meu lado.

O quarto tem um bom tamanho. Ótimo, na verdade, se comparado ao antigo, no apartamento de Nova York. Uma janela enorme com um banco acolchoado em baixo dá vista para a rua. É possível ver perfeitamente o lugar onde há poucos minutos Thunder havia quase matado o garoto de susto. Além disso, o quarto também conta com um banheiro próprio e um pequeno closet, que já é mais do que eu tinha em casa. Não, casa não. Casa antiga. Essa é sua casa agora, Alice.

Depois de repetir para mim mesma algumas vezes, tentando me convencer de cada palavra, tomo meus comprimidos e jogo-me na cama, sem nem sequer me trocar. Espero Thunder se aconchegar próximo aos meus pés e permito que meu corpo relaxe.

"Parece que pessoas bem estranhas moram por aqui, garotão." É a última coisa que digo antes de fechar os olhos.

Oi, pessoal! Obrigada por estarem gastando o tempo de vocês com "A Garota com o Cachorro de Vermelho"

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Oi, pessoal! Obrigada por estarem gastando o tempo de vocês com "A Garota com o Cachorro de Vermelho". Isso significa o mundo pra mim, então repito: Obrigada!

Agora, vamos falar da agenda.

Pretendo postar dois capítulos por semana, um na quarta-feira e outro no domingo. Sim, sim, eu sei que hoje não é nenhum desses dois dias, mas daqui para a frente, esse é o plano.

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Obrigada mais uma vez! Espero que gostem do que estão lendo.

Com todo meu coração, Júlia Romanholi

A Garota com o Cachorro de VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora