Dramaturgo

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Larguei o vale sem olhar para trás
E subi à serra onde já não neva,
Já não é a sorte que me traz
É o vento que me leva.
Sou cabeça-de-cartaz
Deste espetáculo que me enerva
Só penso em coisas más
E apenas a idade me conserva.

Vivo desgraçado
Pelas coisas a que me apego.
As lágrimas de sabor salgado
Lavei-as nas águas do Mondego.
E se fosse mágico,
Inventaria um truque,
Para acalmar o sentimento asmático
Das fotos que vejo no Facebook.

Quero tentar de novo,
Fazer tudo diferente,
Pegar nas peças do jogo,
Construir o meu coração novamente.
Este mundo que inventei,
Seguia o caminho errado
E sem querer afastei
As pessoas que só queria a meu lado.

Dava tudo com o objetivo
De esquecerem quem sou,
Então seria mais prestativo
Para quem sempre me ajudou.
É com esse tormento
Que me agarro às almofadas
Queria recuperar neste momento
Essas amizades rasgadas.

Talvez este poema seja uma carta
Para aquela que me odeia,
Ou para aquela que também tá farta
De disfarçar a cara feia.
Sinto o corpo a saltar
Numa saudade e alegria mista
O coração a bombear
Em atividade terrorista.

Porque quem eu era voou
Mas descolou com antecipação
E isso resultou
Em mais um desastre de avião.
E afinal estou desiludido
Quanto ao rumo deste teatro insano
Tenho medo de não ser aplaudido
Depois da queda do pano.











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