Saímos do hospício pela porta da frente. Do carro o mundo parecia correr pelos meus olhos. Prédios, praças, árvores, pássaros, pessoas, ruas, avenidas, semáforos, pontos de ônibus, postes de luz, reflexos... Até sairmos da cidade: Estrada, mato, cercas, morros, rios cortantes e sinuosos, mais pássaros e mais árvores. E mais estrada. De repete percebo que uma mansão enorme se estendia por uma planície, nebulosa demais para ver o que havia atrás. Protegida por um muro de, presumo, 3 metros de altura coberto por hera e envolto por uma mata abundante. Nos arredores, um jardim que mais parecia um labirinto, coberto pela névoa esquisita que cobria tudo. Parecia bem sombrio. Na verdade a névoa estava envolvendo toda a mansão. Na frente dela uma fonte gigante, muito bonita e enfeitada, bem enfeitada e circundada por arbustos cheios de flores de todas as cores... E estavam organizadas por cor... Sei lá... Estranho... Bem, o carro virou uma rua que ia em direção à porta da mansão... Será?
_Chegamos.
Não creio! O chofer me deixou na porta da mansão e me entregou um pacote retangular bem fundo de papelão, dizendo para eu abrir assim que eu entrar no meu quarto. Ok. Nada mais normal do que um estranho chegar com um pacote em uma mansão, ir para um quarto dizendo que é dele e abrir um presente do seu chofer desconhecido... Ou eu entendi errado? Bom, de qualquer maneira, pisei no primeiro degrau que levava até o grande portão... Não parecia ter nenhuma campainha ou batedouro na porta. Ela simplesmente abriu... Será que sou eu? Devo estar fedendo... Chequei o cheiro debaixo dos meus braços... Não, o Quarto Branco nunca me fez suar... Aliás eu nem lembro se eu alguma vez já suei. Ao lado da porta, em meio às heras percebi uma placa bordada em ouro e prata. Afastei as plantas e li:
"Mansão Mont'Serrat".
Entrei.
O labirinto não escondia a mansão lá atrás, era só seguir uma linha reta e eu chegava lá... Então pra que construí-lo? Quanta exuberância! Andei um bocado até chegar à fonte... Parece água potável... É, com certeza não é água potável... Algum pássaro, com certeza, deve ter deixado marcas permanentes nessa fonte... E as flores? Ah! As flores... Dava vontade de deitar por cima dos arbustos e respirar o perfume constante das flores pelo resto da minha vida. Mas! Não posso ficar aqui pra sempre... Do lado do jardim havia um parquinho para animais... Mas parece que aquele dragão de Jade não cabe no escorregador...
Está aqui a casona. Estendo-me de frente ao grande portão de entrada. Parece imóvel. Ando até na frente do grande arco e percebo um batedouro. Bom, não tenho outra escolha.
Toc, toc. Quem é? Sou o Delicioso. E abrem-se as portas.
Um avassalador vento saiu de dentro do casarão como se dissesse que aqui é meu lugar. Um leve cheiro de lavanda invadiu as minhas narinas e me convidava para entrar. Entrei. Nem fui convidado, mas entrei. Sabe cachorro? Igualzinho cachorro. O Hall de entrada possuía dois andares visíveis. No primeiro andar, dos dois lados, duas portas enquanto duas escadarias douradas curvas convergiam para o segundo andar que tinha uma enorme porta dourada e bem enfeitada no centro. Entre ambas as escadas, no primeiro andar, uma porta dupla de madeira escura em arco reluzia o mesmo dourado da escada, e mais alguns enfeites em espelho. Logo em cima, olhando-se para cima, o teto pintado em tinta como um grande quadro renascentista e, no centro, um lustre (que mais pareciam cem) iluminava em umas cem lâmpadas... Fluorescentes... Família ecológica e moderna, legal.
Passos.
O portão à esquerda se abriu revelando uma sala de jantar completamente cheia de convidados e enfeites. De lá de dentro saiam uma jovenzinha de cadeira de rodas, provavelmente a irmã que o mensageiro me falou... trazida por uma mulher com cabelos volumosos e cachosos. Do lado dela um homem, diria másculo, mas dava pra ver seu coração derretido e seus olhos cheios de lágrimas ao ver-me... Ao lado da garotinha dois irmãos gêmeos idênticos que pareciam mais velhos que a menina. E na sala de jantar estavam os parentes e agregados. Será essa a minha família? Estão sorrindo, devo sorrir também? Não, isso pode ainda ser uma farsa. Depois daquele lobo nem sei mais o que é real... Nunca soube... Esse mudo é muito estranho. Às vezes me preocupo se ainda estou no mesmo universo que nasci... Bom, isso é história pra outra hora. Agora é hora da família.
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DOKTRINA MAGNA / Reich
FantasyTerceiro livro da saga Haposthasia. Siga Kelvin e seus familiares na busca pela verdade sobre ele mesmo e descubra o incerto futuro de uma nação em declínio. Aventura e ação, mistério e loucura, vários estilos diferentes em um só livro. Versão digit...