Capítulo 08

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* Se ler o capítulo ouvindo o vídeo a seguir... Com certeza o efeito é diferente. 

Murilo,

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Murilo,

O Sol quente marcava os dias que passavam, mas as noites não eram diferentes, digo pelo calor. Mas minha recuperação se deu logo. Porém, quando as notícias chegaram aos ouvidos de meus pais, a ordem era para que eu retornasse ao Brasil imediatamente. Era a forma delicada de eles dizerem que me amavam, e que não estavam dispostos a perder seu primogênito, principalmente estando longe de casa, mas aqui os tempos eram difíceis, e precisávamos de toda mão de obra possível.

- Mentira. – Minha mente me acusou. Era pura pirraça. Queria que eles sentissem metade da dor que eu senti ao ser enviado àquele lugar. Agora era minha vez de dar as cartas. E por falar em cartas, a cada dia que eles, ou telegramas, e e-mails chegavam era a primeira fala de minha mãe... "Filho volta". Devia ela ter ficado ao meu lado quando meu pai havia exposto a ideia absurda de eu só ter meu nome incluído no testamento caso passasse aqui esses dois anos. Queria intimamente que ela sentisse a consciência pesada por não ter se posicionado, sendo que tem direito a tudo que é dele.

Quando fui liberado, sem correr o risco de contaminar a ninguém, voltei ao trabalho. E com o passar das horas, dos dias e dos meses comecei a notar o que o Thiago dizia. As pessoas ali, mesmo lutando dia após dia para sobreviverem, não conseguiam perder o gosto pela vida. Pelo pouco que eles chamavam de vida. Pareciam felizes.

Com os surtos das doenças controlados e com os médicos trabalhando mais horas do que o previsto, agora parecia que alguns povoados começavam a se animar.

Ontem mesmo havia chegado alimentos e medicamentos e o povo celebrou cantando e dançando. Cheguei a sorrir observando suas danças, mas recusei tomar parte quando Shaira totalmente recuperada quis puxar-me para a roda. Ainda estava absorto em meus pensamentos quando meu irmão me trouxe de volta a realidade.

- Relaxa Murilo, vamos descansar. – Deixei o trabalho de hoje quase terminado e me sentei ao lado do Thiago com um copo de água nas mãos. Mas como sempre, ele puxava os assuntos entre nós. – O Avião virá nos buscar para o natal. – A notícia não surtiu o efeito que ele esperava. Para mim, o natal era uma data qualquer que agora nem devia mais comemorar. Quem adorava a data não estava mais presente, então para mim, agora tanto faz. – Imagina... – ele bateu a mão em minhas costas. – Minha mãe ficará feliz, com os dois filhos em casa. – É... Ela ficaria. Fariam um banquete e por algumas horas, por dois ou três dias eu me esqueceria de como vi as pessoas, assim como o Thiago sempre fazia como ia para casa. Talvez esse rito fosse o que o fazia ter forças para voltar e continuar.

Tomar um bom banho de hidro, saborear um apetitoso banquete. Ver gente que há muito não se vê. Receber presentes e ir às compras. E por um momento, uma única fração de momento, aquilo me pareceu injusto. As pessoas daquele lugar não tinham para onde fugir quando quisessem se afastar de suas realidades. Nós iriamos e voltaríamos e elas estariam ali, esperando por nós da mesma forma que as deixamos. Se tivesse dito isso em voz alta o Thiago diria que estou começando a ter consciência.

Sob o Sol de Nikaule - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora