~Torment
- O gato e o fantasma -
Eram por volta das vinte e três horas quando numa noite horrenda e entristecida, Ana Maria descia pela avenida escura e deserta de seu bairro. A penumbra de uma noite sórdida não escondia o temor no rosto pálido da criança amedrontada. Seus passos eram rápidos, fixos, mas a sensação gélida em seu abdome subia lentamente conforme respirava e ofegava.
Finalmente chegou em casa. Assustada, mas segura. Sentiu-se perseguida o tempo todo desde que deixara o colégio: uma sensação desesperadora, mesmo que não tenha notado uma alma viva sequer em seu encalço. Alma. Espirito. Ora velado, ora sentido. Às vezes um desconfortante sentimento, outras, enlouquecido. Coisas do além, tão próximas, tão temidas, no entanto, nesta noite, Ana Maria sentira mais forte uma aproximação despercebida e fora do comum.
Assombrada pelo incompreensível, a garota de 20 anos, aluna do curso superior de Licenciatura em Química, nada dissera quando passou pela sala de sua casa indo em direção ao quarto. Sua mãe, deitada num velho sofá da sala, estranhou a ausência da saudação da filha de todos os dias ao chegar à noite, entretanto, aconselhou-a suavemente a tomar um banho para jantar.
A estudante resolvera seguir a recomendação materna. Durante o banho quente, parou debaixo do chuveiro, de olhos fechados; horror este que emanava infindavelmente da garota a percorria; sentia cada gota escorrer no rosto.
Tentou esquecer o sentimento controverso que tivera ao se deparar com uma figura estranha na escola. “Não pode ser, meu Deus…!”, pensou ela, “… devo estar estudando muito! fantasmas não existem!”. Fantasmas, almas inseguras repletas de orgulho, de soberba, que percorrem este plano atordoadas querendo ou se vingar, ou avisar. De ambas as formas, Ana Maria estava inquieta e não queria pensar no assunto.
Levantou a cabeça e abriu os olhos. Todo seu medo sentido até então fora esquecido: ao contrário do que imaginava, substituído por um instante do mais absoluto terror: do outro lado do vidro escuro e respingado do boxe, quando mal se via os ornamentos enquadrados da cerâmica, uma figura disforme rastejava pelo chão do banheiro; criatura esta parecia ter sido cuspida das profundezas de um limbo infernal, e que neste ínterim percorria lentamente em direção a ela. De repente, um grito.
Não há nada que uma mãe não seja capaz de acalmar um filho. Tudo não passou de uma imaginação atordoada de reflexos do dia, do cansaço, dos estudos. A menina foi se deitar, mas antes mesmo que fechasse a janela, notou um conhecido espectro noturno a observando sobre quatro patas e caminhado soturnamente por cima do muro. Era um gato do mais profundo negror que a fez o coração palpitar ao vê-lo sair das sombras do pinheiro e encará-la de forma ameaçadora. Ela fechou as cortinas rapidamente e foi se deitar.
A noite foi tornando-se mais escura que a própria treva pode oferecer, a leve brisa na janela transformou-se tão gélida e forte que poderia ser ouvida como uivos sussurrados por seres invisíveis ao redor do cômodo, mas o sono da menina já a vencera e não a incomodava. Subitamente, ela ouviu um chamado.
Ouviu uma voz bem distante clamar por teu nome. A sensação foi estranha. Sua alma congelou instantemente. Nesse momento ela abriu os olhos e pávida, levantou-se sem ao menos olhar para a própria cama.Um pavor repentino correu-lhe pela dorsal. “Senhor Jesus, o que é isso?!” – pensou ela com passadas firmes indo direto ao aposento dos pais. “Não é nada, filha! Não há ninguém lá!”. Dizia sua mãe ainda sonolenta. A garota estava com a pele branca, estarrecida.
O pai da garota se levantou sem dizer nada e foi no quarto da filha. Não havia nada de anormal. Assustada, a garota voltou a se deitar. Rezou a oração do Pai Nosso e se cobriu com a coberta naquela noite fria.
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Histórias de Terror
HorrorSão histórias de Terror, para quem ama filmes ou simplesmente uma história daquelas que arrepia todos os pelos do corpo, lembrando que estas histórias são de páginas que curto no Facebook, sou viciada em histórias aterrosantes