Parte II
“Me recordo de meu pai olhando para o meu rosto, aterrorizado, chamando o meu nome.
“Marcos!”
Logo após isso, uma voz que não me pertencia saiu de minha garganta, grave, estranha…
“Que Marcos?”
Assim, meu corpo, que estava suspenso no ar, caiu no chão. Tudo então ficou escuro para mim”.
- O senhor está falando que o meu filho ficou louco de vez?
- Louco não é a palavra apropriada, senhor Pedro. O termo correto é Sintomatologia Dissociativa e Somatização.
- O que é isso, doutor? – perguntou Estela, com os olhos inchados. A mulher estava chorando praticamente todos os dias desde que o primeiro incidente com o seu filho ocorreu.
- Uma alteração de conduta de início brusco, mas que, conforme relataram, está se agravando dia após dia.
- O que o senhor fará daqui em diante? Já que descobriu o que o Marcos tem depois de todos estes exames, durante os dias que passaram…- falou Pedro, não escondendo a sua aflição.
- Tragam o menino novamente, tentarei outra forma de intervenção psiquiátrica.
Durante meio ano de tratamento, Marcos não melhorou. Às vezes, em casa, o menino se autoflagelava com cristais ou ferros. Desde que ficou possesso não podiam mais comer com ele na cozinha, porque ele sempre se dirigia para as facas e as agarrava para tentar se matar ou ameaçar a família. Durante meses foi preciso fazer todas as suas refeições só com colher e garfo, mas nunca com faca.
- O que você disse, Marcos? – perguntou Thiago, o irmão mais velho, aproximando a orelha da boca do garotinho para poder escutar o que ele estava dizendo.
- Sede… – sussurrou muito baixo, o menino.
- Ele está assim o dia todo… – disse o pai, observando os filhos da cozinha.
- Sem falar…?
- Sim, Estela… Ele só consegue sussurrar…
- O tratamento não está surtindo efeito, Pedro! O psiquiatra vai acabar desistindo do caso do nosso filho!
- Ele não pode desistir, meu bem. Vamos… Vamos levá-lo de volta ao hospital, sim?
O caso de Marcos interessava outros psiquiatras, que estavam curiosos do porque o garoto ainda não havia melhorado depois de tantos meses de tratamento.
“Quadro de medos noturnos, insônia de conciliação e alucinações visuais de tipo histeriforme e ansiosas”.
Era parte do que estava escrito em seu relatório médico.
Marcos só esteve internado no plantão de psiquiatria um fim de semana. Depois seu caso foi acompanhado do hospital, mas vivendo em casa com sua família. Após tentar de tudo, o psiquiatra responsável pelo garoto acabou receitando tranquilizantes. Um tempo depois, enfim, reconheceu sua impotência para curá-lo e limitou-se a ordenar que o menino já não poderia perder mais aulas e que, portanto, teria que voltar a estudar naquele estado.
- Ele vai acabar sendo a atração no meio dos outros garotos, doutor! Ele não vai conseguir se adaptar estando assim! – clamou Estela, com um olhar tristonho e tom de voz falho e choroso.
- Pois então o tranquem numa sala da escola com chave até que ele se acalme! – falou o médico, elevando o seu tom de voz e mostrando estar irritado diante da situação. Pela primeira vez em muitos anos ele não estava conseguindo resolver um problema, que de início, parecia simples.
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Histórias de Terror
HorrorSão histórias de Terror, para quem ama filmes ou simplesmente uma história daquelas que arrepia todos os pelos do corpo, lembrando que estas histórias são de páginas que curto no Facebook, sou viciada em histórias aterrosantes