possessão 1

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Parte I

"É difícil lembrar-me... É doloroso... Mas farei o possível para contar-lhes o que começou a acontecer comigo naquela noite de Dia das Bruxas..."
Estela odiou a fantasia que o filho havia escolhido para ir à festa de Halloween de sua escola. O garoto tinha se disfarçado de caveira com uma foice e com uma bola da qual saía sangue. A mulher protestou, pois achou aquela roupa muito sangrenta para um garoto de onze anos de idade usar. Porém, nada mais poderia ser feito, afinal, a fantasia já estava comprada. O pai, Pedro, estava dando uns últimos retoques no menino, que estava bastante ansioso para poder sair desfilando pela rua a caminho da festa.

- Papai, o senhor gostou? O homem observou o garoto com certa desconfiança. Ele também não havia gostado muito daquela roupa bizarra, mas não pôde negar o presente ao filho, já que o menino tinha ficado com os olhos brilhando de felicidade quando viu o objeto na vitrine da loja de fantasias. Pedro então colocou a mão direita sobre o ombro do pequenino e disse:

- Sim, Marcos. Gostei sim. - e abriu um sorriso meio forçado.
- Que bom que o senhor gostou! Uma pena a mamãe não tenha gostado... - falou Marcos, ficando cabisbaixo por um breve momento, até ouvir um grito familiar que chamava por seu nome na rua.

O menino deu uma última olhada no espelho e saiu às pressas de seu quarto, indo em direção à porta da frente, atravessando o corredor velozmente e parando na sala de estar. Era um de seus colegas de sala, o esperava em frente a sua casa vestido de vampiro. Ou um projeto de vampiro.

- Vê se para de correr pela casa. - falou o irmão mais velho de Marcos, Thiago, de dezoito anos.
- Não enche! - Marcos abriu a porta animadamente, porém antes de sair, olhou para Thiago com um ar de dúvida. - Não vai falar nada da minha fantasia?
- Linda. Agora, tchau!

- Idiota. - o menino saiu da casa e foi ao encontro do amigo que o aguardava sorridente. Todavia, quando Marcos aproximou-se mais um pouco do garoto, o sorriso do mesmo foi suprimido de sua face e uma expressão de espanto tomou o seu lugar.
- Marcos... E essa fantasia, aí? - perguntou Alfredo, arregalando os olhos e fitando aquela bola de borracha que quando pressionada jorrava um liquido que lembrava sangue.

- Massa, né?
- É... Que medonho. - respondeu, desconfortável.
- Vamos andando, né?! Se você já ficou com medo... Imagina as meninas da escola? Estou ansioso!
- Você é louco.

Dito e feito. Os colegas de classe de Marcos e o restante da escola mal podiam esconder o pavor em seus rostos. Uma fantasia tão sangrenta numa criança... Por que os pais permitiram isso? Pensavam alguns dos professores.

As garotas corriam do jovem rapaz quando ele se avizinhava, mirando a sua foice e grunhindo como um cão. Ele estava fazendo sucesso. Porém, um sucesso à custa do medo das pessoas. E o menino estava sorrindo de canto a canto, se divertia ao ver as expressões de espanto em seus colegas, amigos e nos adultos presentes naquela festa.

E claro, ele foi o vencedor do concurso de fantasia. "A caveira sangrenta", assim o intitularam, um nome que o agradou muito. Seu amigo Alfredo já tinha ido para casa, a festa já estava quase no fim, ainda não eram nem dez da noite, e Marcos, que não gostava muito de incomodar o pai, decidiu ir caminhando sozinho para casa, ao invés de ligar para que o buscassem. A cidade não era muito perigosa naquele horário, e o menino sempre andava por ruas movimentadas, portanto, a sua volta para casa seria tranquila...

A rua onde ele acabara de entrar estava com a iluminação falha.Um dos postes dela estava apagado e o ar naquela avenida estava estranhamente frio. Marcos se encolheu e apertou os passos. Quando estava quase correndo, e sentindo uma sensação estranha ali, o poste ao longe que estava apagado acendeu-se subitamente, e uma sombra tenebrosa surgiu em baixo dele, avançando velozmente na direção do garoto vestido de caveira. Um som estridente foi lançado de sua garganta e Marcos caiu no chão.

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