O demônio do quarto

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Era uma pequena cidade que agora brilhava com suas luzes noturnas, na escura noite aveludada e negra. Na mais alta, nobre e bela arte da cidade, havia uma rua demasiado bonita, com suas grandes e elegantes casas. No fim da rua, erguia-se bonita e até imponente a maior das casas da rua, cercada por uma bela cerca preta de ferro.

Na frente do portão, estava um homem, admirando a casa. Por toda a sua infância, Charles admirara a casa, e prometera a si mesmo que um dia a compraria. E esse dia havia, finalmente, chegado! Charles havia adquirido a casa neste mesmo dia, durante a tarde.

Deslizou a chave para dentro da fechadura do portão e o abriu. Ele estalou depois se abriu suavemente, sem ranger. Charles caminhou lentamente pelo caminho de pedras no jardim. Ele sentia frio, porém a beleza do jardim o prendia ali fora. Vislumbrou a lua através dos galhos secos de uma árvore, e isso o fez sentir-se feliz. Havia acabado de realizar seu sonho, ficaria feliz pelo menor arrulhar de um pombo.

Chegou à pesada porta de carvalho da casa e começou a apreciar a maçaneta redonda e detalhada. Era bonita. Havia entalhes nela que a faziam parecer o sol, e ela brilhava tanto num bonito tom de dourado que parecia ter sido recentemente polida. Charles abriu a porta e ela girou nas dobradiças sem o menor sinal de ruído. “Essa casa é perfeita”, pensou o homem, e adentrou a sala alegremente, tão feliz que parecia flutuar.

As paredes da sala eram rosadas, e faziam com que Charles se sentisse quente, aconchegado, e à vontade. A sala estava vazia, porém ele já imaginava a disposição dos sofás, mesas e prateleiras de livros, e a luz do sol entrando pela janela e iluminando tudo e criando uma faixa quente para seu talvez futuro gato. Um belo lustre de cristal pendia do teto, porém, como a casa há muito não fora habitada, ele estava vazio.

O homem olhou para a escada e dirigiu-se a ela, apreciando o belo carpete e o corrimão de ébano, assim como a porta. No início e no fim do corrimão, havia duas águias douradas. Charles subiu a escada e chegou ao andar de cima. Havia uma sala com várias portas para vários quartos e um corredor, e no fim do corredor havia… Outro quarto que, porém, estava com a porta escancarada e a luz acesa.

Charles adiantou-se até o quarto e chegando lá achou algo minimamente estranho. Havia uma luz acesa, e no canto do quarto havia várias velas apagadas e alguns fósforos. O chão de madeira estava sujo de algo vermelho, que parecia ser sangue, e no centro havia um caderno, também sujo daquela substância vermelha.

O homem pegou o caderno e começou a lê-lo. Falava algo sobre um demônio das profundezas do inferno, que conseguiu fugir por conta de sua força e de seu poder. Não havia uma forma segura de selá-lo normalmente. Charles achou estranho, porém continuou lendo.

O demônio bebia todo o sangue da pessoa por um pequeno corte, ou um pequeno furo, qualquer ferimento que conseguisse inferir à pessoa na hora, e impossibilitava que ela morresse, até que por fim comesse sua alma, ao ficar entediado. Ou então devorava a alma da pessoa, que passava o resto da vida vazia, sem sua alma, sem pensamentos, sem sentimentos, apenas existindo. Mantê-lo selado, era, porém, muito simples. Bastava manter aquele quarto iluminado.

Charles lia isso, absorto, até que ouviu um zumbido fraco. Não prestou atenção. Estava aterrorizado pela história e também distraído. Ouviu o ruído novamente. Vinha da lâmpada. Ele olhou para cima ao ouvir o ruído uma terceira vez, e então a lâmpada queimou e a luz se extinguiu.

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