A semana passou e as coisas continuaram estranhas entre Pete e eu. Acho que se não fosse Keith, que começava todos os assuntos, provavelmente passaríamos o recreio em silêncio. Trocamos poucas palavras entre nós dois. Eu não estou brava com ele, muito pelo contrário... Eu estou é com vergonha por tê-lo visto, por um momento, como um parceiro romântico e quase termos trocado um beijo.
Essa situação é tão agonizante para mim... É estranho não conseguir olhar nos olhos de uma pessoa que você conhece desde que nasceu. E eu estou tão preocupada com Peter... Seus cortes e machucados ainda não sararam. Me corta o coração toda vez que eu olho em seu rosto e vejo aquele grande hematoma que toma seus lábios, e outro pior ainda que toma sua testa. Mas, a gota d'água pra mim foi no recreio de terça-feira...
Saímos para o recreio, Keith no meio, tagarelando sem parar, Pete só concordando e eu olhando para baixo, evitando os encontros com a visão de meu amigo. Do nada, Keith parou de falar, o que é meio raro de acontecer, e de andar também, o que me fez parar e levantar o rosto para descobrir o motivo da interrupção.
-- Ih, pronto... Lá vem encrenca... – Keith comentou de certa forma um tanto quanto baixa. Olhei para o lado e vi Humbert e seus amigos se aproximando de nós.
-- Ei, Peter! Esses cortes no seu rosto te caíram bem... Deixam ele mais proporcional ao tamanho do seu nariz! Quando sararem me avise que faço mais! – Humbert comentou, rindo com seus amigos da piada maldosa e sem graça. Eu me controlei para não sair estapeando aqueles moleques.
-- Idiotas! Não ligue para eles Pete! -- Keith defendeu o amigo.
-- Olha galera, o maluco sabe falar! O sanatório está fazendo um bom trabalho... – As piadas sem graça de Humbert continuaram... – Hey, Peter, fica esperto pra não tentar arranjar namorada na nossa frente de novo...
-- Seu covarde! Vocês todos são uns covardes! Vocês batem em quem muitas vezes estão na desvantagem! Pete não estava fazendo nada e vocês simplesmente o espancaram por diversão! – Começo a minha lição de moral, ainda com a voz calma.
-- Minha querida, a culpa não é nossa se o seu querido amigo não é homem o suficiente para se defender... – Humbert fez uma cara de superioridade mais que irritante... Até meio ofensiva.
-- Primeiramente, não me chame de querida. Você é a última pessoa do mundo da qual eu gostaria de ser chamada de querida. Segundamente, Pete é mais homem do que vocês todos juntos. Ser homem não é ser fortão e ficar batendo nos mais fracos... – Olhei para Pete – sem ofensas Pete, você é de mais... – Ele murmurou um "sem problemas" e eu voltei meu olhar para o repugnante garoto do qual eu estava brigando – Ser homem é ser um cavalheiro com as garotas e saber respeitá-las, e ter inteligência para ser justo e fazer o certo, e isso Peter com certeza é... Tenho nojo de você Humbert, nojo de todos vocês, e saiba que irei defender Keith e Pete com unhas e dentes se preciso! – Terminei meu "discurso" com tom ameaçador e alguns passos a frente de meus amigos. – Agora, se nos der licença, não queremos perder o nosso horário de recreio atoa, temos coisas muito mais importantes para fazer, tipo... discutir qual é o melhor sabor de refrigerante... Au revoir! – Prossigo no caminho até as mesas do refeitório, abrindo espaço entre os imbecis impressionados.
-- Isso foi... de mais Má! – Keith comentou, olhando para trás.
-- Eu não fiz nada... Só disse umas boas verdades para eles... – Respondo dando de ombros.
-- O-obrigado... – Pete agradece, meio tímido, olhando para o chão.
-- Não foi nada! – Respondo tímida também.
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I Can't Explain
AcakÉ o início dos anos 60, na Inglaterra. Maria Giulia, uma garota de 15 anos, ajuda seu melhor amigo, que também é seu vizinho, Pete Townshend, a conseguir realizar seu sonho de poder tocar em uma banda famosa. O que era apenas uma amizade pode ir se...