Afraid Of Yellow Bricks, por Ste Pacheco

5 3 0
                                    

Sinopse: Quando duas almas estão destinadas a serem uma da outra, costumam dizer que não existe escapatória. A promessa de pertencer um ao outro pode ser mais literal do que se espera e lutar contra é o mesmo que nadar contra a correnteza.
Essa não é uma história de amor onde há casamentos e príncipe encantado. Essa é uma história que vai lhe mostrar que o amor também pode ser doentio e que para ter o coração de alguém algumas pessoas podem ir mais longe do que você imagina.
Gênero:
Terror, Romance.
Classificação:
+18
Status:
Finalizada.
Observações:
Inspirado nas músicas Old Yellow Bricks, do Arctic Monkeys, e Afraid, do The Neighbourhood.

Era duas horas da manhã quando os olhos azuis de Marcus se abriram de forma perturbada. Mais um pesadelo havia lhe despertado, causando uma onda de calafrios e tremores que faziam seu corpo ficar tomado pelo suor. As gotículas se acumulavam em sua testa e escorriam pela lateral de seu rosto, enquanto a camiseta que ele vestia grudava em seu corpo, causando uma sensação de tremendo desconforto. Por que ele insistia mesmo em vestir aquilo para dormir? Dadas as circunstâncias, o melhor seria que ele dormisse apenas de boxer, ou até mesmo nu, já que morava sozinho e não tinha que se preocupar com possíveis constrangimentos, porém ele não conseguia, não com a temperatura fria proveniente do inverno de Boston. Sua casa era aquecida, como a maioria das residências da cidade, porém não a ponto de lhe proporcionar noites de sono completamente sem roupas. Ou talvez fosse devido à pequena parcela "puritana" que guardava escondida em algum lugar dentro de si.
Bufou de forma irritada, se sentando na cama e arrancando a peça, atirando-a em um canto qualquer de seu quarto. Em seguida, suas mãos se direcionaram ao seu rosto e ele esfregou os olhos, levando o que lhe restara de seu sono. Marcus bufou novamente, enquanto uma onda de palavrões era proferida em sua mente. Aquela era a quarta vez naquela semana em que aquilo acontecia. Era a quarta vez que seu corpo o despertara em estado de alerta, como se o perigo estivesse a um palmo de distância e enquanto ele estava ali, vulnerável, porém certo de que nada lhe atingiria como em seu pesadelo, a adrenalina voltou a acelerar seus batimentos cardíacos.
Ergueu a cabeça de súbito, olhando ao seu redor de maneira assustada enquanto uma sensação terrível de que estava sendo observado dominou cada partícula de seu corpo. Um nó se formou em sua garganta, lhe impedindo de proferir uma palavra que fosse e suas mãos voltaram a tremer enquanto ele as travava ao lado do corpo, sentindo-se impotente de uma maneira que nunca havia sentido antes. Ele sentiu a falta do oxigênio gritar porque prendia a respiração e era como se durante aqueles terríveis e incontáveis segundos ele esquecesse como se fazia aquilo. Focou seu olhar em um ponto fixo de maneira apavorada, lutando contra o impulso de gritar, porém novamente ele parecia estar sozinho. E quando a normalidade aparente do ambiente lhe deu um vestígio de esperança de que estivesse apenas sendo paranoico, Marcus ouviu, de forma clara e muito vívida, o ranger sonoro da porta de seu quarto.
Não costumava fechá-la por completo, afinal, ele morava sozinho há cerca de dois anos, tempo em que havia se mudado para a cidade a trabalho. Sendo assim, ele não se preocupava em dormir com a porta fechada, não havia necessidade. Pelo menos não havia até aquele momento.
Seus olhos foram de imediato em direção à porta e por breves segundos seus batimentos aceleraram ainda mais porque ele podia jurar que havia visto um vulto se esconder na soleira da porta.
- Porra! – sua voz soou rouca e perturbada enquanto novamente ele permanecia congelado em seu lugar, paralisado pelo pânico.
Balançou a cabeça em negação, se sentindo extremamente patético. Um homem daquele tamanho agindo como uma criança com medo do bicho papão, era sério isso? Marcus bufou novamente e desviou o olhar, esfregando os olhos outra vez ao se recuperar da paralisia. Virou-se para pegar o copo com água que costumava deixar no criado mudo ao lado da cama e antes que pudesse tocar o objeto, dessa vez ele viu claramente a porta de seu quarto se mover enquanto mais um rangido ecoava pelo ambiente. Num movimento rápido e corajoso, ele colocou os pés para fora da cama e levantou, caminhando na direção desta que quase havia se fechado e ao alcançá-la, suas pernas ficaram bambas ao ver que algo havia se afastado rapidamente. O mesmo vulto, que havia se movido tão subitamente que a única coisa que Marcus pôde registrar foram os fios ruivos.
E ele os reconheceu de imediato. Nem se mil anos passassem ele esqueceria do tom natural e vívido, semelhante ao tom escarlate do sangue humano, muito menos de como aqueles cabelos caíam em cascata, num ondular perfeito, balançando de forma quase delicada com os movimentos.
Apressou seus passos a fim de identificar quem quer que fosse porque ele não podia acreditar no que seus olhos haviam lhe mostrado. Não era possível que fosse ela. Ele só podia estar ficando maluco. Seu coração batia num ritmo tão desenfreado que era possível ouvir cada um de seus batimentos. O peito subia e descia de forma desesperada enquanto ele seguia pelo corredor, buscando dentro de si a certeza quase inexistente de que ele estava sozinho e tudo não passava de uma ilusão de sua mente traiçoeira.
Marcus então fraquejou, seu corpo desfaleceu e em questão de segundos ele estava estirado no meio da sala.
E parada diante dele, com um belo sorriso e as maçãs do rosto avermelhadas pela pequena correria, estava .
A doce e pequena .
Ela não havia mudado nada desde a última vez em que Marcus havia lhe visto. Seus cabelos estavam divididos ao meio e caídos por seus ombros, os olhos sem maquiagem alguma, destacando o tom amendoado enquanto os lábios, por sua vez, estavam preenchidos por um batom vinho escuro. A garota vestia uma longa e transparente camisola branca, com um tecido tão fino que dava a impressão de que um simples movimento do vento lhe rasgaria, enquanto os pés da garota estavam descalços e sujos, como se ela tivesse corrido na lama, porém Marcus observou que a substância em seus pés parecia mais pegajosa, num tom ferroso que ele, com espanto, concluiu que pertencia ao de sangue.
Ele sentia uma dor excruciante no joelho direito. Com a queda, ele havia batido com toda força no chão e na tentativa de amenizar o impacto, ele havia colocado suas mãos na frente do peito, resultando numa torção em um dos pulsos, que ele não teve tempo muito menos cabeça para identificar qual era, pois a voz de soou melodiosa, como há tempos ele não tinha o prazer de ouvir.
- Por que o espanto, Marcus? Achei que ficaria feliz em me ver novamente – ela disse, manhosa, deixando que um biquinho moldasse seus lábios.
Marcus hesitou. Não sabia o quanto era real e no mais profundo de seu ser desejava que realmente não fosse, mas algo na risada infantil que ecoou dos lábios da garota lhe deu a certeza de que era mais real do que ele imaginava.
- Não pode ser – ele gaguejou, com teimosia.
- Ah, mas é claro que pode, meu amor! O que haveria de errado em uma garota apaixonada querer ficar perto de seu amor? – lhe respondeu, sorrindo para ele de forma doce e misteriosa ao mesmo tempo.
- Eu... Você não é real, ! Não pode ser! Você... Eu só posso estar tendo um pesadelo. É a única explicação!
continuou rindo enquanto rodeava o rapaz caído no chão, saltitando como se fosse uma menininha de cinco anos. Os pés ensanguentados quase tocavam o rosto de Marcus e ele franziu o nariz, tentando se forçar a fechar os olhos para que todo aquele pesadelo fosse embora, mas não ia, e a perspectiva da realidade socava seu estômago com violência, forçando o odor metálico contra suas narinas e sapateando em seu pavor.
- Pare com isso! Saia da minha cabeça, você não é real! – ele gritou, forçando suas pálpebras a se fecharem e prendendo a respiração. O quão ridículo ele pareceria se começasse a entoar alguma oração? Bem, não importava, era de sua sanidade e, por que não, de sua vida que estávamos falando. Ele deixou de lado tudo que um dia jurou não acreditar e começou a entoar, fazendo coro à risada melodiosa de .
- Santo anjo do Senhor...
o olhou com curiosidade e então passou a soltar no mesmo ritmo de sua risada.
- La lala lala lala...
- Meu zeloso e guardador...
- La lala lala lala...
- Se a ti me confiou a piedade divina...

gargalhou novamente e então Marcus se retesou quando sentiu a respiração quente da garota em seu pescoço.
- Me guarde... Me... Me ilumine...
Ele sentiu os dentes envolverem sua orelha esquerda e antes que pudesse entoar mais alguma coisa, sentiu sua carne ser rasgada quando sua orelha foi puxada com violência.
Marcus não conseguiu gritar, porém arregalou os olhos, de forma chocada, encontrando a expressão maníaca no rosto de quando ela cuspiu a orelha dele no chão à sua frente e voltou a lhe encarar com os olhos escurecidos e a boca ensanguentada.
- Ainda acha que não é real, meu amor? – ela lhe disse, docemente.
- ... Não – a voz do rapaz estava enfraquecida.
- Me diga, Marcus, por que isso não seria real?
- Não...
- Diga, Marcus! – ela gritou, agora com a fúria transbordando em seus olhos. – Por que isso não pode ser real?
Marcus engoliu em seco, admitindo a verdade na esperança de que assim pudesse fazer com que aquele inferno que mal havia começado acabasse.
- Porque eu matei você, .

Especial AM+NBHDOnde histórias criam vida. Descubra agora