A minha primeira noite no CINH não foi das melhores, tenho que admitir. Primeiro que eu não conseguia pegar no sono e depois que finalmente consegui, não parava de sonhar com a Zoey em cima daquele cara que parecia o sobrinho distante do Hulk.
O que eu não tinha que ele tinha? O que a levou a fazer Isso comigo? São coisas que eu provavelmente nunca conseguirei entender.
Minha primeira manhã no Colégio estava ensolarada e pensar que eu não teria de ir à nenhuma aula me deixou um tantinho animado.
Sentei na cama e observei Jason, que ainda dormia.
Seu lado do quarto estava totalmente diferente de quando chegamos. Pôsteres e mais pôsteres de estrelas, planetas e galáxias estavam colados na parede, e várias medalhas estavam pregadas ao redor deles.
Me perguntava que tipo de competição ele tinha participado quando ouvi alguém bater na porta.
Me arrastando, levantei e a abri. Foi como ter levado um soco no rosto.
À minha frente estava Zoey; seus cabelos castanhos perfeitos presos num rabo de cavalo folgado.
- Precisamos conversar, não acha? - ela disse num tom de voz sério, quase como se estivesse certa e eu, errado.
- Não precisamos, não - empurro a porta para fechar, mas a Zoey é bem mais rápida que eu e entra.
- Zoey, por favor... - peço pacientemente. Ela senta na cama. Jason dorme de barriga pra cima. - vai embora.
- Não, Joseph... precisamos conversar, por favor. É sério. Eu te amo - ela disse como se não fosse nada demais.
- A gente não tem nada pra conversar. Eu vi o que tinha de ver e aquilo foi o suficiente - tentei me manter o mais distante dela o possível.
Não queria olhar para ela, ou sentir o cheiro dela, ou...
- Aquilo não significou nada pra mim.
- É assim que você fala da sua primeira vez?
- Aquela não foi minha primeira vez... - joguei a isca e ela mordeu direitinho.
Numa das nossas conversas, ano passado, a Zoey havia me contado que era virgem e estava à espera do "cara certo". Como já descobrimos, amigos, esse cara não era eu.
- Bom saber.
- Não! Quer dizer, foi minha primeira vez, ok? Eu me confundi...
- Não me interessa. Eu só quero...
Parei de falar porque, abruptamente, o Jason acorda, senta na cama, vê toda a situação, levanta e sai. Sem nenhuma palavra, sem nenhum olhar curioso.
- Vai embora, Zoey. Sai daqui... como é que você conseguiu me encontrar, ein?
- Fui à diretoria e disse que você estava com algo que me pertence, mas isso não vem ao caso.
Apesar de todo o amor que eu sentia pela Zoey, naquele momento, com ela parada ali na minha frente, eu só conseguia sentir nojo, desprezo, raiva.
- Tudo bem, você não quer sair? Eu saio.
...
Tomava o café da manhã sozinho quando Jason se sentou à minha frente, segurando sua bandeja.
- O que...?
- Eu gostaria que você não me perguntasse sobre o que você ouviu - o interrompi.
Jason balançou a cabeça.
- Tudo bem, mas eu só ia perguntar o que você achou desses hambúrgueres com gosto de frango.
- Ah, certo - resmunguei em resposta, meio envergonhado. - são estranhos.
Depois de voltar ao meu dormitório e arrumar - jogar - minhas roupas dentro da cômoda, eu segui para a biblioteca, pois ainda precisava de um pouco de sossego.
Ver a Zoey não estava nos meus planos.
Subi a escada para a biblioteca e notei que, dessa vez, havia uma garota de cabelos muito escuros sentada numas das mesas, lendo.
Fui para o meio das prateleiras e puxei um livro aleatório. Abri. "Confiar nas pessoas requer mais coragem do que pular de um avião com um paraquedas; pois, confiar é apenas a parte do pular de um avião. J. H."mais uma vez, a garota havia escrito e assinado na contracapa de um livro.
"Será que ela fez isso em todos?" me perguntei, retirando outro livro da prateleira.
"Estou sempre sorrindo, sempre fazendo piadas, sempre falando. Mas eu também estou sempre chorando, sempre sofrendo, sempre morrendo. J. H."
Os pequenos textos dela eram leves, mas ao mesmo tempo íntimos demais. E ela não parecia ser uma pessoa feliz.
Dessa vez eu fui preparado e levei uma caneta no bolso. Fiz algo bastante incomum: interagi com ela. Quer dizer, interagi com as palavras de uma garota que eu nem sabia se ainda existia.
"Você está usando minhas iniciais". Ok, ok, essa foi uma péssima coisa a se dizer, mas foi o melhor que consegui dizer.
Eu nunca, jamais, nem em um milhão de anos escreveria em metáforas com ela fazia.
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Juntos contra o mundo - a história de Joseph.
Ficção AdolescenteNo último dia de verão, Joseph planeja pedir a namorada em casamento mas, ao chegar ao apartamento dela, descobre que ela está o traindo. E, para seu azar, semanas antes eles haviam se matriculado num colégio interno em outra cidade. Agora, além de...