No intervalo das três aulas, a primeira coisa que pensei em fazer foi ir à biblioteca com a desculpa de que iria adiantar os deveres do dia, quando na verdade queria ver se a garota tinha dado um sinal de vida.
Naquele dia, ela deu.
"Parece que eu fui descoberta. Esse é o meu espaço, o que você está fazendo aqui? J. H." Era o que estava escrito.
Pensei em escrever muitas coisas, mas nenhuma delas me pareceu amigável. Sentei no chão entre as duas estantes, apoiei o livro em minhas pernas e escrevi.
"Não sabia que era o espaço de alguém quando abri esse livro. Sinto muito. Isso não vai mais se repetir." Escrevi e coloquei o livro exatamente no mesmo lugar.
Voltei para uma das mesas onde tinha deixado meu caderno e meus livros e sentei.
O fluxo de pessoas era bem maior naquele dia, e dezenas de garotas entraram e saíram do meio das prateleiras onde o livro estava, então ficou bem difícil tentar adivinhar quem era a garota do livro.
Terminei os deveres e fui para o refeitório, onde encontrei Jason e Bruno na fila para o almoço.
- Achamos que você já tivesse almoçado - disse Bruno assim que me aproximei.
- Estava na biblioteca adiantando uns deveres - eu não havia contado-lhes sobre a garota do livro. Não era grande coisa.
- Poxa, cara, e eu pensando que era nerd.
- Ser nerd não significa ser inteligente - falei, aceitando um pouco de purê da cozinheira.
- Wow! - disse Bruno.
- Não era pra parecer que eu estou tentando me achar ou algo assim - falei quando a gente se sentou.
Jason riu.
- Relaxa. Eu não liguei.
- Aaaah! - Bruno imitou o som de lamentação que as plateias costumam fazer quando vêem ou ouvem algo triste ou fofo.
- Qual seu lance, Bruno? - Jason perguntou, depois de alguns minutos calados mastigando.
- Hum...
- Além de querer que pessoas briguem - comentei.
Eles riram.
- Acho que meu lance é não ter um lance.
- Isso foi poético - disse Jason. - como o nosso amigo aqui.
- Não - discordei. - eu simplesmente não tenho um lance.
- Você não parece ser o tipo de cara que tem muitos amigos - comentou Bruno, me fitando.
- Eu realmente não tenho.
- Ei - Jason interveio. - e nós, somos o que? Ursinho de pelúcia, por acaso?
Dei de ombros.
- Sei lá... eu não sei muito bem como essa coisa toda de "ser amigo funciona".
- Você terá que assinar um contrato e transferir três milhões de dólares para nossa conta - brincou Bruno.
- Ser amigo é bem fácil. Olha só: Ei, Bruno, você quer ser meu amigo?
Bruno levantou o dedo indicador, como se pedisse um momento, e abriu a mochila. De lá, tirou uma agenda e a folheou. - é, eu não tenho nada de interessante para fazer hoje, quero sim.
- Aí, ta vendo, agora só precisamos sacrificar uma virgem e seremos oficialmente amigos.
Eu revirei os olhos para eles.
- Vocês são ridículos.
- Você é mais, por ter ouvido tudo até aqui - Bruno guardou sua agenda e levantou.
- É, acho que sou.
Levantamos também, jogamos o resto do nosso almoço no lixo e pusemos as bandejas em cima da lixeira.
- Já percebemos que você é virgem nessas coisas de amizade - falou Bruno.
- Tiraremos sua virgindade, não se preocupe.
Bruno parou e arregalou os olhos para Jason.
- Isso soou gay até pra mim.
E, novamente pela primeira vez, eu sentei no chão de tanto rir.
Bruno e Jason fizeram o mesmo.
As pessoas passavam à nossa volta e - cara, como é bom dizer isso - eu não ligava. Para mim, era como se elas simplesmente não importassem.
[...]
Meu próximo horário era Inglês e, como eu ainda não havia tido nenhuma aula, me apressei para não ser o último a entrar na sala.
Assim que entrei, a primeira coisa que vi foi o cabelo excessivamente laranja da Blue.
Você talvez deva estar dizendo para si mesmo: "essa garota está em todos os lugares?". Mas não era isso.
Eu passava repetidas vezes pelas mesmas garotas ao longo do dia no CINH mas, por conta do detalhe nem um pouco chamativo da Blue, ela era a única que eu realmente reparava. E eu não sentia nada por ela.
Passei pela Blue à procura de um lugar para sentar, e ela sorriu educadamente para mim. Ao seu lado estava a Ohane, de cara fechada. Sentei meio afastado como costumava fazer e baixei a cabeça à espera do professor.
O professor, que na verdade era professora, chegou um pouco depois.
Ela era surpreendentemente nova; tipo, muito nova mesmo. Parecia que tinha uns 20 anos.
- Boa tarde veteranos, boa tarde calouros.
- Boa tarde - alguns poucos alunos responderam.
- Que tal uma apresentaçãozinha, antes de começarmos? Quantos calouros têm aqui?
Apenas seis alunos levantaram as mãos, incluindo eu.
Ela apontou alguém aleatoriamente e pediu que fosse até a frente da sala se apresentar. Era daquilo que eu tinha medo. Na mesma hora minha barriga começou a borbulhar e minhas mãos, a soar.
- Me chamo Carly Siefield, tenho dezesseis anos e moro em Nova York.
Ouvi alguns "uau", mas nada que diminuísse meu nervosismo.
Quando minha vez finalmente chegou, me arrastei até a frente da sala, pigarreei e...
A porta abriu com força e Jason entrou.
- Bruno. Agredido. Malditos atletas. Vamos - ele ofegava e toda a sala começou a cochichar. A professora levantou-se e foi até ele. No peito, meu coração parecia que ia parar de bater.
- O que houve? - ela perguntou.
- Não dá pra explicar agora, professora, mas é muito, muito importante.
Ela deve ter visto na cara de desespero do Jason que realmente a coisa era séria. Ela assentiu e começamos a correr para fora da sala.
- O que aconteceu? - perguntei sem parar de correr.
- Uns filhos da puta bateram nele no vestiário.
- E onde ele ta agora?
- Enfermaria. E os desgraçados estão na sala do diretor.
- Para onde vamos?
Ele me olhou e dava para ver que sentia muita raiva.
- Diretoria.
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Juntos contra o mundo - a história de Joseph.
Ficção AdolescenteNo último dia de verão, Joseph planeja pedir a namorada em casamento mas, ao chegar ao apartamento dela, descobre que ela está o traindo. E, para seu azar, semanas antes eles haviam se matriculado num colégio interno em outra cidade. Agora, além de...