Eu e Jason estávamos deitados nas nossas camas. O toque de recolher já tinha tocado - às 23:00 - e eu havia acabado de desligar o celular, após uma longa ligação com a minha mãe.
- Então... - disse Jason, quebrando o silêncio. - você sabia que as estrelas são um corpo negro?
- Quê? - perguntei. - achei que elas tivessem cor.
- Sim, elas têm. Uma estrela ser um corpo negro quer dizer que ela absorve toda a radiação que bate nela, sacou? Nenhuma luz atravessa ou é refletida por ela.
- Maneiro - respondi.
- É... - ele ficou em silêncio por um ou dois minutos e depois disse finalmente: - aquela é sua ex-namorada?
- É - me virei de bruços e fechei os olhos.
"Acho que nunca vou amar alguém como eu te amo, Joseph" lembrei, com amargura, da Zoey me dizendo isso, semanas antes. Senti meus olhos arderem e os apertei com força.
- Ela parece gostar de você.
Comprimi os lábios e não disse mais nada. Jason pareceu entender o recado, pois não insistiu mais no assunto.
[...]
Era domingo, último dia antes das aulas começarem e, assim que abri os olhos aquela manhã, sabia que não tinha disposição mental para sair da cama.
- Quer dar uma volta? - chamou Jason ao acordar.
- Não, obrigado - respondi com a cara enfiada no travesseiro.
- Não vai levantar nem pra comer?
- Também não.
O quarto ficou em silêncio e, minutos depois, ouço a porta abrir e fechar. Estava sozinho, o que era bom, pois refletia no meu eu interior.
Ouvi a porta abrir mais uma vez e levantei o rosto para ver quem era.
Uma garota de cabelo laranja - não ruivo, mas literalmente laranja - estava parada na porta.
- Cadê o Patrick? - ela perguntou. Sua voz era bastante rouca, quase arranhada.
- Quem é Patrick?
- Meu amigo. Ele costumava dormir aqui ano passado.
Uma veterana.
- Não o conheço.
- Qual o nome do seu colega de quarto? - ela insistiu.
- Se eu disse que não conheço esse tal de Patrick, é porque ele obviamente não é meu colega de quarto - ela ficou me olhando, meio séria, meio avoada .
- Tá, mas qual o nome dele?
- ARGH! - resmunguei e tornei a me virar de bruços. - JASON! O NOME DELE É JASON, OK? - falei com a voz abafada, pois meu rosto estava outra vez enfiado no travesseiro.
- Obrigada - ela agradeceu. - acho que ele realmente não é meu amigo. - e saiu.
Depois de muito tempo reunindo coragem, e sentindo a fome me corroer por dentro, levantei da cama e fui até a janela.
Lá embaixo, muitos alunos pegavam seus carros e saiam, felizes por estarem revendo seus amigos. Eu, pelo contrário, não estava nem feliz e nem revendo meus amigos. HA! Acabei de me lembrar: eu não tinha amigos para rever.
Tomei um banho rápido e sai. Do corredor dava para ouvir a voz rasgada da garota de cabelo laranja vindo de algum dos quartos. Ela ria e falava muito alto, como se não ligasse para as outras pessoas que ainda dormiam.
Sai do prédio e fui até meu carro. Decidi que um passeio seria legal. Não legal legal, mas legal.
- Ei, cara! Me ajuda aqui, por favor - ouvi alguém chamar, assim que entrei no estacionamento.
- Hã?
- Vem aqui! - segui a voz e passei pelos carros, até ver um garoto com o rosto muito próximo à janela de um carro, suas mãos coladas ao lado do rosto.
- Quê? - perguntei ao me aproximar.
- Aconteceu uma merda, cara. Uma merda das grandes!
- Que foi?
- Meu carro travou com as chaves lá dentro.
Pela primeira vez em quase dois dias, eu senti vontade de rir. O outro garoto estava desesperado.
- Como você conseguiu isso?
Ele deu de ombros.
- Me esqueci delas.
- Como alguém...
- Eu as esqueço o tempo todo - ele me interrompeu, respondendo minha pergunta que não tinha sido feita.
- Ah... mas eu não sei como posso te ajudar.
- Me diz o que fazer. Eu não sei o que fazer.
- Hum... liga pra algum chaveiro.
- Eu também esqueci meu celular lá dentro.
Dei risada e tirei o celular do bolso.
- Pode ligar pelo meu.
- Eu... ah, não, você vai rir de mim.
- O que foi? - perguntei, prendendo a risada.
- Eu não sei o número do chaveiro.
Não consegui me controlar e tornei a rir. Ele comprimiu os lábios.
- Liga pra sua mãe e pede pra ela te passar o número, sei lá.
- Hum... - ele baixou a cabeça.
Ele não sabia o número da mãe.
- Você sabe onde é a diretoria?
Ele balançou a cabeça negativamente.
- Esqueceu o papel aí dentro?
Ele assentiu.
- Vem, eu posso te levar lá.
- Obrigado, cara. Sério, valeu mesmo.
- Certo.
Chegamos ao prédio da diretoria e eu parei.
- Você não vem? - ele perguntou quando vou que eu não ia entrar com ele.
- Acho que não.
- Ah, qual é, me ajuda aí.
- Ta.
Entramos juntos e eu fiquei esperando enquanto ele ligava para o chaveiro e passava o endereço do Colégio - que ele também havia esquecido, então eu precisei murmurar para ele.
- Você salvou minha vida - ele disse, enquanto a gente observava o chaveiro abrir o carro.
- Salvei?
- Claro! - ele respondeu, animado. Animado até demais, pro meu gosto.
...
Como se já não bastasse ter ajudado ele a solucionar o caso das "chaves dentro do carro", ele pediu minha ajuda para levar suas coisas até o dormitório - que, por acaso, era em frente ao meu.
- O que você ia fazer lá no estacionamento? - ele perguntou, enquanto organizava as coisas dentro da sua cômoda.
O outro lado do quarto já estava muito bem arrumado, como se a pessoa que dormisse ali tivesse tido bastante tempo para decora-lo. Mas não foi a organização que chamou minha atenção.
No carpete branco bem à minha frente, havia um longo fio de cabelo muito comprido. Cabelo laranja.
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Juntos contra o mundo - a história de Joseph.
Novela JuvenilNo último dia de verão, Joseph planeja pedir a namorada em casamento mas, ao chegar ao apartamento dela, descobre que ela está o traindo. E, para seu azar, semanas antes eles haviam se matriculado num colégio interno em outra cidade. Agora, além de...