Capítulo 12

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Chegou o momento de revelar a verdade! Boa leitura! ;)

CAPÍTULO 12

Numa manhã de domingo, Letícia ligou para o genro... Sem consultar a esposa, Matteo combinou com a sogra de ir à missa da tarde na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima.

- Vamos a uma igreja aqui perto. – Lívia sugeria ao marido.

- Amore, sua mãe disse que a Igrejinha foi projetada por Oscar Niemeyer – o marido falava com entusiasmo – ela contou que a arquitetura faz referência a um chapéu de freiras!

Lívia sorria ao ver a forma empolgada que o marido tinha de falar com as mãos, os olhos, o corpo todo...

- É bonita mesmo! Era onde meu avô materno e outros que ajudaram na construção da cidade iam à missa naquela época.

- Então! Vamos? Quero conhecer tudo que fez parte da sua história.

- Fui batizada lá – Lívia revelou orgulhosa.

- Eu sei!

- A minha mãe contou... – A esposa fez uma careta de tédio.

No fim do dia, Matteo e Lívia retiraram as crianças da piscina e se arrumaram para ir à Igrejinha. Depois de todos prontos, Lívia os observava com carinho. Formavam uma bela família. Era para ser perfeito e ela, feliz. Não fossem os segredos, e as aflições decorrentes deles...

Ao chegar na Entrequadra 307/308 Sul, a esposa sentiu uma alegria enorme. O filme de sua infância passou na mente... Lívia, Thiago e Bia estavam todo domingo ali.

...

- Nem acredito que conseguimos ser os anjos da procissão deste ano! – Bia vibrava com as asas enormes de isopor e penas brancas que foram grudadas atrás de sua cadeira de rodas. As de Lívia estavam por cima de uma bata azul clara.

- Sério que está feliz por vestir isso? – Thiago zombava da amiga. Os três estavam com nove anos de idade e ele achava aquilo uma besteira.

- Muito! – Lívia deu a língua para ele.

- É ridículo! – Ele riu e arrancou uma pena da asa dela. – Ops! Acho que esta pena é sua... – disse com ironia. Ao ver os punhos de Lívia se fechando, ele saiu correndo.

Lívia foi atrás dele. O amigo contornava as árvores da quadra. Por vezes, caía e logo se levantava para voltar a correr. Ela o seguia entre os troncos quando passou perto de um e... escutou um barulho. Sua asa se quebrara. Olhou para Thiago mais irritada ainda, mas desistiu de alcançá-lo. Aquele magrelo de uma figa corria bem mais que ela. Retornou para a Igrejinha com um bico enorme.

- O que houve com sua asa? – Bia perguntou ao ver o isopor pendurado arrastar-se pelo chão.

Quando Lívia ia explicar, uma das ajudantes do padre viu sua asa quebrada e brigou com ela. Faltou dizer que a garota não iria para o céu! Depois, mandou Bia retirar suas asas, porque não poderiam seguir diferentes, já que eram para andar juntas. A amiga fuzilou Lívia com o olhar, que não aguentou e começou a rir. Bia ficou umas duas horas sem falar com ela. Um dos períodos mais longos que já durara sua raiva...

...

Lívia pegou-se sorrindo. As boas lembranças trouxeram uma nostalgia gostosa de sentir. Ela olhava ao redor. Observava as pessoas entrarem na Igrejinha... Adorava aquele lugar. Além da construção similar a um chapéu de freira, as paredes das laterais eram revestidas de azulejos feitos à mão por Athos Bulcão, um dos maiores desenhistas do Brasil. De fundo azul, em alguns havia a figura de uma pomba branca, que representava o Espírito Santo (Lívia estudara isso na escola, então contava ao marido). Em outros, havia uma estrela preta, que seria a Estrela de Belém utilizada para guiar os três reis magos até Jesus no dia de seu nascimento. Sem sombra de dúvidas, era o painel mais lindo que Lívia já vira. Ela o admirava como se o visse pela primeira vez.

- É fascinante! – Matteo dizia boquiaberto ainda com a paisagem e impressionado com a história.

O casal entrou abraçado e de mãos dadas com os filhos. Matheus com a mãe, e Giulia com o pai. Como não havia portas na Igrejinha, puderam avistar Letícia e Antônio no penúltimo banco do lado direito. Ficaram perto deles. A missa começou e Lívia poderia dizer que se sentia alegre. Matteo sorriu ao segurar a mão da esposa. É, realmente sentia-se bem...

Durante a missa, Giulia pediu para a mãe levá-la ao banheiro e Lívia conduziu a filha.

Na volta, a garota correu na frente. Enquanto a mãe caminhava vagarosamente contemplando a vista, viu um homem moreno de cabelos bagunçados. Não poderia ser. Fixou o olhar ao se questionar. Ele a olhava. Encararam-se sem que ninguém os observasse. Era ele... Depois de tantos anos! Sim. Aqueles cabelos eriçados, os lábios carnudos. O jeito desajeitado de andar. Seu rosto moreno com a mesma barba. Os olhos castanho-escuros que a tiravam de si.

Thiago também a reconheceu. Ali! A poucos metros dele. Era Lívia! Fez uma tentativa frustrada de respirar. Tudo parecia ter parado naquele instante. Como se a Terra não se movesse e o permitisse contemplar seu grande amor por alguns segundos. Reparou que tornara-se uma mulher bonita e elegante. Com pesar, viu que restou pouco do brilho que havia nela. Em sua Lívia.

A sensação de ter apenas eles no Universo os invadiu e... aconteceu! Várias estrelas piscaram. Já não escutavam nada. Coisas, pessoas, árvores... A paisagem transformara-se num grande borrão ao girar rapidamente. Uma corrente de ar gelada passou por eles. Os cabelos balançaram. Lívia arrepiou-se. Ele ainda a olhava e... foram parar numa praia deserta. Não sabiam se estavam no Brasil. Poderia ser Nordeste, mas não havia certeza. Característica raramente presente quando isso acontecia. Viram paredões com uma vegetação densa. O lugar era um paraíso. Lívia se perguntava desesperada porque deixara isso acontecer novamente. Thiago aproximou-se com os olhos cheios de lágrimas, mas sem encará-la.

- Olhe para mim! – ela implorava aos gritos. – Olhe para mim, Thiago! Por favor! – O pânico de imaginar o que poderia acontecer a dominava. Matteo a procuraria. Não permitiria que mais uma vez culpassem um inocente por seu desaparecimento.

- Não acredito que a encontrei. – Ele chorava e tentava segurar o rosto de Lívia. – Como quis isso. Há tantas coisas a dizer... Pedir perdão... – dizia ao passar a mão pelas bochechas da ex-namorada. Precisava tocá-la para acreditar que não era mais um sonho maluco. Como tantos outros que tivera, no qual a encontrava e conseguia sorrir novamente.

- Thiago, olhe para mim – Lívia pedia chorando. – Precisamos voltar. Há pessoas esperando por nós.

- Somente me escute, por favor – ele suplicava de cabeça baixa. Lívia poderia sentir seu desespero na mão trêmula que ainda acariciava seu rosto. Seu toque era suave. Ela fechou os olhos e respirou fundo. Olhou para ele e fez carinho em sua barba, que agora era bem maior. Não poderia negar que estava contente em encontrá-lo. A emoção fazia seu coração vir à boca a cada pulsada. Contudo, a realidade a arrancava de si, a obrigando a pedir o que não gostaria que acontecesse.

- Thiago – sussurrava. As forças pareciam ter esvaído pelo seus pés e a abandonado.

- Sinto muito. Peço perdão por tudo que não fiz. – Ele a interrompeu. – Por não ter ido embora. Por não ter tido a sua coragem. – Lívia mal conseguia manter-se em pé. Sentia o corpo fraquejar. – Eu não fui por amor e... você sabe disso. Não sabe? – Nesse momento, suas mãos desceram pelo pescoço e pousou nos ombros de Lívia. – Foi terrível viver sem sua presença. Mas você perdeu todos! Não só a mim! Poderia me perdoar um dia? – pronunciou a última frase tão baixo que Lívia precisou esforçar-se para entender.

Thiago a abraçou e Lívia pôde sentir as lágrimas quentes que caíam sobre o rosto dele.

- Não há o que perdoar! – a ex-namorada afirmou com convicção. – Agora, olhe para mim, por favor. Precisamos voltar. – Afastou-se um pouco para vê-lo melhor. – Já esqueceu o que aconteceu da última vez?

Agora vocês já sabem o que acontece quando se ama muito! Espero que tenham gostado! Amanhã tem mais! Beijo grande! ;D

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