Capítulo 3.

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O chocolateiro passou horas olhando para a janela de seu quarto. No outro lado, a imagem estática do céu noturno lhe ajudava a pensar em como desviar o herdeiro de sua obsessão ao passado. Não era correto pensar que Willy desconfiava de Charlie, o chocolateiro só tinha medo. Medo do que o pupilo pensaria, de como o julgaria. Medo. Um medo líquido que andava correndo em suas veias. Wonka entraria em pânico se soubesse que Charlie era tão insistente quanto um cachorro faminto agarrado a um pedaço de carne.

O garoto educado, ingênuo e carinhoso, também era obstinado. Sabendo que houve uma competição e atentando-se as datas dos jornais, o herdeiro resolveu usar a santa internet. Ele perdeu a noite inteira caçando dados sobre a competição até ser recompensado com a descoberta de que:

— Willy, você ganhou a competição!

Willy Wonka sentiu-se apavorado quando o herdeiro não aguentou ficar calado sobre suas descobertas. Era, definitivamente, uma péssima forma de começar o dia. O mais velho largou a torrada que levava até os lábios e afastou a cadeira, não discutiria aquilo antes do café da manhã e como tinha perdido o apetite, ele não tomaria café da manhã.

— Wily, não saia desta mesa!

O rosnado do chocolateiro reverberou pelas paredes decadentes da cabana Bucket.

— E você é meu pai, agora? - O chocolateiro retrucou amargurado. - Oras estrelinha, seus pais nos ensinaram a não discutir trabalho à mesa!

— Isto não é trabalho. - Charlie ficou de pé, pronto para impedir Willy de sair.

— O.k. Eu ganhei a competição e fui nomeado o melhor chocolateiro do mundo. Ou da Europa, já que a competição fiou voltada para a Europa e no final das contas quase ninguém ficou sabendo daquilo. - Willy pegou a cartola que jazia sobre uma das cadeiras. - Usei o dinheiro para abrir minha primeira loja. Olha, que interessante – O tom de voz tornou-se irônico. - agora estamos falando de trabalho e não devemos falar de trabalho à mesa. Até mais, Charlie.

A porta da pequena casinha carcomida bateu com um estrondo. Willy Wonka estava furioso, pronto para avançar contra a primeira criatura que lhe surgisse. Até onde Charlie cavucaria? Até onde ele teria energia para fuçar? Quanto tempo tinha lhe sobrado para inventar uma história qualquer para o herdeiro?

— Dóris! - Berrou o chocolateiro.

A pequena Umpa Lumpa vestida em seu, tradicional, tailleur rosa bebe que caminhava com uma pilha de papéis, parou no lugar onde estava e ergueu os olhinhos miúdos.

— Chame meu psicanalista. Preciso dele para ontem!


Ϣ.Ϣ.


Charlie terminava o café da manhã, quando o senhor Bucket entrou na pequena casinha que, atualmente, só servia de sala de jantar. Não era difícil ver que o filho estava desanimado, pois ele estava com a mesma carinha de desapontamento escondido que ficou quando percebeu que não teria nenhuma chance de conhecer a fábrica Wonka ou o chocolateiro que a administrava e o garoto tanto admirava.

— Me conta, filho, o que aconteceu?

Charlie girou o garfo mergulhado nos ovos mexidos quase intocados. Estava deprimido.

— Sei lá. - Ele sussurrou desanimado. - Digo, Willy anda me escondendo algumas coisas e se irrita até quando eu vou falar algo bom.

O senhor Bucket sabia que o filho queria desabafar muito mais coisas do que tinha acabado de falar, mas também sabia que o filho não poderia sair contanto qualquer coisa que tinha relação com a fábrica, pois haviam segredos que deveriam permanecer em segredo.

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora