capítulo 8.

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Willy tinha parado para beber um pouco de chocolate quente. A noite continuava avançando, derrubando um manto negro banhado por luzes pratas que a lua irradiavam por ali e acolá.
Quem os olhasse, veria adulto e uma criança conversando sobre um passado horrível, um adulto sentado em uma poltrona confortável e uma criança aninhada no tapete peludo mantido longe da lareira que ardia quente contra o inverno.

— Antes de continuar, posso te fazer uma pergunta? - O mais novo teve sua permissão com um leve movimento de cabeça. - Amanda te disse aquilo? Te disse que você era apenas uma pedra preciosa que ela tomou para ela?

— Algumas coisas, Charlie, não precisam dizer. Apenas compreendemos.

Charlie não comentou nada, apenas aguardou que o chocolateiro continuasse a história. Contudo, lá na cabeça sábia, o mais novo entendeu que Willy poderia estar bem errado. Que Willy poderia ter tomado um rumo errado para suas suposições, Amanda podia apenas ter dado a chance para um grande talento sem ter em mente a cobrança de algo ou a fama que poderia arrumar para si. Como quando nossos pais investem em nossas carreiras ou alguém nos dá a oportunidade apenas por saber como era não ter tido uma.

As vezes as pessoas podiam ser boas. Infelizmente Willy Wonka estava fechado demais para entender isto.

O jovem Willy Wonka esgueirou-se pela casa, pisando na ponta do pé e amaldiçoando os dedos que estralavam enquanto ele andava. Amanda Funk estava dormindo, provavelmente em um sono profundo e tranquilo, certa de que venceria a competição que os dois tinham se enfiado. O futuro chocolateiro abriu a porta da biblioteca da casa, foi até o canto em que estava escondido o livro de receitas de Amanda Funk e o abriu.

O fichário de duas argolas foi folheado até o meio. As folhas estavam rabiscadas com tinta vermelha sobre a receita escrita com tinta negra. A forma impecável de se preparar um chocolate sendo que ele será esfriado abruptamente. Cuidadosamente, Willy levou os dedos até as argolas e forçou-as a abrir. O gemido do metal ecoou pela sala e pelo corredor escuro, que a porta aberta anunciava. Quando se está aprontando, fica-se no receio de ser descoberto a qualquer momento. O coração batendo acelerado, os olhos arregalados, a respiração entrecortada e alta. Mas, depois de alguns minutos em puro pânico, a ausência de Amanda atuou como um relaxante muscular potentíssimo.

Wonka separou a folha sobre a mesa. Folheou um pouco mais o fichário, tomando cuidado para retirar as folhas de um par de meias argolas para o outro sem alterar o tamanho do buraco no papel, e retirou uma segunda receita. Os dedos magros de Willy se fizeram fortes, quando foi para fechar as argolas sem fazer um novo ruído. Elas rangeram abafadamente e ficaram lacradas com um mínimo click em resposta.

O chocolateiro arrumou as folhas, fechou o caderno e guardou-o no mesmo lugar sem errar um milímetro que fosse. Agora, só faltava transcrever as palavras para seu papel e devolver as folhas, um tanto amareladas, antes que a mulher desse falta.

Dia após dia ele precisava roubar uma receita até copiar todas elas. Tinha um prazo máximo, teria de fazer até perto deles terminarem a competição que começaria em poucos dias. Ele precisava esconder o conhecimento, deixando-a ganhar até o último segundo. Precisaria testar as receitas na hora, fingindo não ligar para o prêmio. Willy Wonka, que saía sorrateiramente da biblioteca, estava pronto para se vingar de Amanda Funk, ganhando a competição que ela tanto queria ganhar, usando as receitas dela sem que ela percebesse.

Dentro desta primeira aventura noturna, o chocolateiro só não percebeu que Amanda Funk o observou durante cada segundo em que ele estava perdido no roubo das duas folhas. Lá, sentada no chão, ao lado de uma poltrona no escuro, ela presenciou tudo.

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora