Capítulo 13.

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Willy não entrou no quarto em que a Senhora Bucket estava. Ficou encostado ao lado da porta pronto para dar apoio ao pupilo, mas permitindo que ele se fortalecesse sozinho. Willy já tinha passado por algo parecido, apenas parecido. A mãe do chocolateiro não teve a vida prolongada por medicamentos e aparatos médicos, não teve um quarto só para ela, confortável, com tudo o que ela quisesse pedir e nem a melhor comida que o hospital podia oferecer.

Quando foi com a Senhora Wonka, ela só teve uns dias em um quartinho com mais dois doentes e uma cama vazia, onde ainda era possível escutar os últimos gemidos de dor daquele que havia partido há menos de vinte e quatro horas. A senhora Wonka teve sopa rala, teve os olhos dos enfermeiros implorando por perdão, teve os últimos dias em casa, para melhor conforto dela e das finanças da família Wonka.

Wilbur era o melhor dentista da cidade, mas seus bolsos não eram os mais cheios.

Olhando para a parede branca no outro extremo do corredor, Willy se sentiu mal. Convivendo com Charlie, aprendia coisas novas, aprendia a importância da família, de ter em quem confiar, de se arriscar um pouco na vida pessoal. Agora aprendia que o dinheiro não é mais forte que a morte, no máximo proporciona um pouco de conforto.

Charlie passou pela porta, o rosto pálido, os olhos exaustos. Aquele era o poder de um hospital. Ele suga as energias e confiança das pessoas, poucos possuem o dom de não ser afetado por este beijo gelado.

– Você está bem? - Willy questionou.

– Só preciso de um pouco de água e descansar.

O herdeiro mentiu.

Desde que tinha pisado naquele lugar seu coração estava pesado, o corpo tremia, as pernas ameaçavam despencar. Ver a mãe fraquinha e magrinha não foi uma sensação reconfortante. Os olhos dela ainda eram atentos e vivos, bem mais vivo do que o sorriso e a voz rouca o saldando:

"Oh, meu querido. Se eu soubesse que você vinha, tinha me arrumado melhor".

O herdeiro tentou a fazer rir, conversou sobre o que estavam tramando para o aniversário de Veruca, tentou esquecer-se de onde estava e colocar na cabeça que ali era o quarto dos pais e que a mãe só estava muito resfriada.

"Eu quase não consegui dormir quando comi aquele chocolate. Foi bem intenso. Vou trazer para a senhora experimentar".

Mas ao dizer que traria o chocolate exagerado que Willy tinha feito, aquele com confeitos explosivos, não deixou de notar a asneira que tinha falado. A mãe não poderia comer aquela engenhoca, não é?

– Eu não consigo ligar com hospitais, Willy.

– Está se saindo muito bem, estrelinha.

Charlie girou sobre o colo de Willy, passando a olhar para o chocolateiro. Sabia que estava abusando, que Willy não gostava de pessoas o tocando, mas naquele momento, naquele dia em especial o sortudo garotinho pobre se sentia destruído e acima de tudo sentia que não podia mostrar aos pais o quão destruído estava.

Mas com Willy era diferente. O chocolateiro já sabia. Sabia antes mesmo de pousar o elevador e Charlie não fazia ideia de como podia saber que Willy tinha tal conhecimento.

– Eu quase desmaiei duas vezes antes mesmo de chegar ao quarto da minha mãe. Como posso estar me saindo bem?

Wonka sorriu.

– Não seja bobo. – Ele estava com o rosto apoiado nas costas da mão, enquanto o cotovelo se apoiava sobre o estofado do sofá.

O sol brilhava na janela que se estendia do chão até o teto, deixando a vista sobre a cidade tomar conta da ala de descanso dos visitantes. Não havia ninguém além dos dois e de um senhorzinho japonês, lendo uma revista escrita em japonês. Ele usava chinelos, meias e um fone de ouvido para não escutar conversas alheias. O sol dava uma cor bonita ao rosto de Willy.

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora