Capítulo 6.

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Charlie Bucket pediu uma água sem gás e sem gelo, Amanda Funk, em contrapartida pediu uma bela xícara de café expresso extraforte, sem açúcar e uma pitada de canela. Neste ponto, o herdeiro marcou um ponto negativo para a loira que estava a sua frente. Não se pode confiar em alguém que tomava café expresso extraforte sem açúcar.

- Pequeno Charlie, não me olhe com esta cara, sim? – A loira jogou os cabelos para as costas. – Willian deve ter te ensinando a não confiar em pessoas que tomam café, arrisco eu.

- Errou, senhorita. Ele disse para não confiar em quem toma café expresso extraforte sem açúcar e com canela.

A mulher soltou um riso polido, num timbre seduzente, que lhe faz querer escutar um pouco mais.

- Devo dizer que ele me descreveu. Bom, eu não me julgo uma pessoa confiável, de qualquer maneira.

O garçom chegou rápido com as bebidas e tão logo se retirou. O caixa estava aninhado em um cobertor grosso, os olhos fechados em uma soneca marota. Lá fora, apenas a neve caminhava pelas ruas.

- O que desejava me contar, senhorita Funk?

Quem via Amanda Funk, com sua beleza, sua autoconfiança elevada e seu jeito sábio e adocicado de olhar, jamais conseguiria evitar uma conversa. Charlie Bucket não seria uma exceção, já o Charlie B. Wonka era tentado a correr para longe daquele café e se refugiar sob os portões da fábrica. Os dois Charlies, então, sendo apenas uma pessoa, estavam prontos para enlouquecer.

- Tudo a seu tempo, meu pequeno. - Ela bebia o café com prazer.

- Eu não tenho muito tempo. Tenho uma reunião com Willy.

- A verdade é que você tem todo o tempo do mundo, só não percebeu. - Amanda suspirou. - O Willy que você conhece, não é o mesmo que eu conheci, sabe. Nem o que o pai dele conheceu. Quem é o Willy hoje, pequeno Charlie, somente ele e você consegue dizer. Sabe o quanto isto é valioso?

O consentimento silencioso de Charlie foi o bastante para ela.

- O Willy que conheci era um garoto perdido. Ele não tinha casa e nem um plano para seguir, mas tinha garra para agarrar qualquer coisa que o levaria até o sonho de viver com os doces que tanto amava. - Outro gole no café. Wilbur Wonka ficaria orgulhoso da mulher. - Eu o ajudei a ser quem é. Deixei que ele se moldasse como bem desejasse, guiei ele até os confins da culinária, ensinei química alimentícia. Quase tudo o que eu aprendi da vida, o ensinei. Eu fui a faculdade dele. E se me permite dizer, eu faria tudo de novo.

- Mas não se conta tudo, não é mesmo? - O mais novo arriscou quando a mais velha calou-se por um momento. - Seus segredos ficaram reservados para você. A cereja do bolo é algo exclusivo, não é?

Charlie estava atento, pronto para defender o amado chocolateiro.

- Willy também não lhe ensina tudo, não é mesmo? - Amanda Funk curvou o corpo por cima da mesinha. Os olhos penetrando na alma mais nova, desafiando a criar uma defesa para sua próxima cartada. Os lábios dela apenas sussurraram, buscaram a certeza de que era o foco de Charlie Bucket. - Ele te conta todas as verdades?

Internamente a loira sorria. Era algo tão radiante, que até mesmo um cego conseguiria ver. Mesmo que um dia ela tivesse amado Willy, seu remorso era grande o bastante para confiar nele ou deixar de atacá-lo quando a oportunidade surgisse. Ela era, percebeu o mais novo, uma criança magoada com a mentirinha que alguém amado criou antes de lhe surpreender.

Mediante o silêncio, a mulher alfinetou um pouco mais:

- Ele te contou que roubou meu livro? E que fez isto antes da última prova da competição?

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora