A viagem de volta para fábrica foi um pouco torturante, com Charlie o mimando e zelando até que chegassem à fábrica e o lembrando de tudo o que estava para perder, tudo o que Amanda Funk estava para ganhar.
O chocolateiro travou a mala e suspirou. Willy sabia, sempre soube, que corria os riscos de colher aquela fruta amarga, mas jurava que já o tinha colhido. Anos antes ele já teve receitas roubadas, anos antes ele já teve a fábrica invadida, anos antes ele já fora traído. Depois de tanta coisa ruim ele havia plantado tanta semente boa que perdê-las parecia injusto.
Agora, depois ter sentido ciúmes, depois ter sido paparicado, depois de amado, ele não sabia se sobreviveria a perda de Charlie. Estava com o corpo bem¹, mas a alma destroçada.
Gemeu. Amanda Funk estava para chegar.
W.W.
Charlie ainda não tinha se recuperado da ressaca que o tutor havia tido. Não importava o quão pequena fosse a dose de álcool que Willy ingeria, se fosse maior do que um toco de chocolate, ele teria uma ressaca de dois dias ou mais.
Em sala de aula, Charlie estava preocupado. Willy podia ter uma recaída, podia voltar a ficar verde como quando chegou à fábrica, podia ser acamado por conta das dores de cabeça e, ainda que estivesse passando mal, ele negaria cuidados caso algum Umpa Lumpa perguntasse se estava tudo bem. Willy era bem cabeça dura e tinha necessidade de grandeza, mas era muito preocupado com quem ou o que amava e isto podia acabar matando-o.
Os dedos do herdeiro batucaram contra a mesa, ao lado do caderno que deveria receber as anotações que o professor fazia ao explicar a matéria. Era dez e meia, segundo o relógio sobre a lousa, e a espinha de Charlie se arrepiou por completo. Os pelos de todo o corpo se ergueram na tentativa de arrancar ele dali, pedindo que fosse salvar a fábrica, que fosse salvar...
- Willy.
O professor parou a aula, a turma todo olhou o herdeiro da fábrica Wonka com um misto de curiosidade e preocupação. O herdeiro jogou as coisas na mochila mesmo que o professor protestasse a quebra de ritmo da aula, depois correu até a fábrica que o chamava.
Willy estava para fazer asneira e seus instintos estavam berrando isto.
W.W.
Willy andou de um lado para o outro. Charlie estava na faculdade, o senhor Bucket estava no hospital e os Umpa Lumpas estavam ocupados demais para notarem que o chocolateiro estava tão estressado ao ponto de ficar zanzando de um lado para o outro na ala de recepção. Ele olhou o relógio, dez e meia de uma manhã fria e nem um pouco aconchegante.
No cantinho da recepção, perto da porta lateral que poucos sabiam existir, estava a malaa com roupas e algumas bugigangas. Willy pensou que era muito bom ter feito as pazes com seu pai, pois precisaria de um tempinho para se reerguer – isto se conseguisse se reerguer.
Olhou o relógio de novo. Dez e trinta e um. A campainha soou estridente, congelando o coração do chocolateiro, prendendo a respiração dele no peito.
Amanda Funk parou em frente a porta de madeira. Realizaria um grande desejo, mas não se sentia satisfeita com isto. Era como se não quisesse, e lá no fundo sabia que não queria, fazer o que estava para fazer.
Engoliu a saliva quando a porta se abriu. Seu antigo pupilo estava tão pálido, que qualquer pessoa conseguia notar o quão mal ele estava, até mesmo as mais distraídas. Os olhos castanhos dele ficaram parados encarando-a, arregalados por puro pânico, deixando bem claro que não estava, nem um pouco, pronto para abdicar tudo.
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O medo de Willy Wonka
FanficQuando o assunto era se tornar o mais fantástico chocolateiro do mundo, Willy Wonka era capaz de fazer qualquer coisa. Mas depois de anos, o preço de suas artimanhas chegou lhe colocando contra a parede e lhe fazendo a escolher o que lhe era mais v...