Capítulo 7.

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— Meu querido, o que houve com o seu rosto?

O garotinho mirrado quis enfiar a cara no prato de tanta vergonha que sentia ao ser zelado por uma mulher que tinha conhecido há tão pouco. Ele, que tinha preparado o jantar pela primeira vez em sua vida, que tinha chorado por horas enquanto não havia ninguém na casa, agora tentava não voltar a chorar. E não chorar era mais difícil do que parecia.

Amanda Funk não era de preparar o jantar, geralmente ela comprava a comida de algum restaurante próximo ou agendava uma mesa em algum lugar. Então, com a chegada do pequeno Willy Desamparado Wonka, ela conheceu o que era aquela ação tão tradicional e familiar. A inserção da rotina de cozinhar aconteceu logo no primeiro dia em que o garotinho se refugiou na casa da mulher e ele se pôs a fazer o jantar. Foi uma iguaria estranha, com feijão misturado com chocolate e arroz com caramelo. Tudo bem que o menino era apaixonado por doce, que ele estava se sentindo livre, mas ela teria que ensinar ele a controlar os impulsos ou os dois morreriam em poucas semanas (acredite ou não, era irrecusável um pedido de Willy Wonka, quando ele queria que experimentassem algo que ele cozinhou, mas não queria dizer que era algo bom ou tragável). Até o fim de semana terminar,o primeiro fim de semana que Willy estava naquela casa, ela se dedicou a ensinar Willy a preparar o básico de um jantar.

— Não se preocupe com isto. - O garotinho enfiou uma garfada de comida na boca. - A comida está esfriando. Não ficará palatável se esfriar.

Nos dois primeiros dias ele aprendeu a cozinhar com maestria, mas agora, em uma bela segunda-feira morna, ele surpreendia Amanda com o prato delicioso (ou como ele disse, palatável) que copiou de uma revista.

Estava na essência daquele garoto, ser o melhor na cozinha.

— Temos que limpar as feridas, pequeno Wilky.

—Willy - ele corrigiu.

Foi a primeira vez que Willy cozinhou, mas aquele dia também foi a primeira vez que ele foi para a escola sem o aparelho odontológico que pesava sobre sua cabeça. Foi a primeira vez que ele foi para a escola sendo um órfão de mãe e de pai.

Contudo, naquela segunda feira, naquela trágica segunda, também pontuou a favor da reclusão que Willy Wonka, o chocolateiro mais fantástico do mundo, viria a viver.

O pequeno Willy, agora tão livre, não era forte para brigas, nem mesmo gostava delas. Mas entrou em uma, teve que entrar.

— Não guarde a ferida, meu garoto. Elas inflamam, sabia? Nos matam lentamente.

Amanda Funk não era uma mulher maternal, contudo quando sentou-se ao lado de seu agregado e analisou as feridas, ela entendeu o que era o amor maternal. Entendeu que não é necessário uma ligação sanguínea para ter alguém como sua família.

O rostinho de Willy Wonka ardeu quando as lágrimas escorreram dos olhos até as feridas que tinha.

— Eles disseram que nem retirando aquele capacete horrível, me amariam. - Que os pais dele não o amava - Que meu pai se cansou de mim assim como minha mãe. Que eu era uma escória. - Ele soluçava tanto, que qualquer um teria o coração partido. - Eu nem sei o que é uma escória, mas senti que não era bom e bati neles. É tão covarde! Tinham quatro deles. Ficaram revezando para dois me segurar e dois me bater. Eu não quero viver neste mundo! Não quero!

Na mente do pequeno, ainda ecoava as risadas agudas, o som da pele dos agressores contra a pele do agredido, as conversas mescladas com riso. A covardia ainda o abraçava junto com a tristeza e as dores físicas e mentais.

"Não poupem o rosto." Um garotinho à esquerda, um garoto mais alto que o pequeno Willy, mais forte e mais velho, comentou. Eles estavam só começando a brincadeira. "Não, deixem o rosto para mim. Vou deixar mais feio do que quanto ele usava aquele capacete de alienígena!" Ele ria tanto. "Ninguém vai notar a diferença. Talvez até fique melhor do que agora e do que antes."

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora