Capítulo 12.

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Era noite. Uma noite bem escura.

Amanda Funk tocou a campainha duas vezes. As janelas brilhavam com as luzes lá dentro da casa como se fossem pisca piscas, mas ela sabia que não eram. A porta destrancou, abriu contra o corpo de um garoto magro, alto e bem ranzinza.

- Que é?

- A sua educação é encantadora, meu jovem.

O dono da casa rosnou, soltou um palavreado obsceno entre os dentes e bateu a porta.

Amanda já sabia que isto ia acontecer, sabia que ele vivia irritado, que falava entre os dentes, que odiava chocolates e amava o dinheiro. Ela sabia, pois fez uma excelente pesquisa antes de tocar aquela campainha.

- Senhor Teavee, por favor, um pouco de educação. - o bico fino da bota que usava impediu a porta de fechar. Amanda a empurrou independente do olhar assassino que seu anfitrião expelia.

- Quem é você?

- Eu sou quem vai te dar uma grana pesada para poder usar seu nome.

- De quanto estamos falando? - Ele ainda falava entre dentes, irritante, mas parecia domesticado.

- A pergunta correta, meu querido, é com quem você está falando.


W.W.


O senhor Bucket tomava o café da manhã. Era um daqueles adultos que pegavam o jornal na frente de casa, usava calções folgados com um roupão listrado marrom ou azul. Ele acordava cedo (apesar de não tão cedo quanto Charlie), tomava café amargo e sabia das coisas.

Willy sempre via um pouco do próprio pai quando olhava o senhor Bucket, mas via um pouco do pupilo também.

- Bom dia. - Saudou o chocolateiro.

- Bom dia, Willy. Dormiu bem?

Wonka soltou um gemido para concordar.

- Charlie ainda não acordou?

A esperança crescia no chocolateiro. Se o pupilo não tinha acordado certamente se atrasaria para a primeira aula e assim seria fácil convencer ele a ficar o resto do dia em casa.

- Ele já saiu. Disse que tinha reposição antes da primeira aula e que não podia perder.

Wonka sentiu o estômago embrulhar e o apetite voar janela à fora. Queria ter visto o pupilo, dado bom dia, conversado sobre o andamento dos doces. Sabia que levaria uma bronca ao revelar que tinha passado quase toda a noite vendo os Umpa Lumpas preparar as esculturas de chocolate, que teria que explicar que não vinha o sono, que os Uma Lumpas escultores preferiam trabalhar a noite...

Ele queria ter tido oportunidade de fazer isto.

- Ah. Bom. - murmurou.

O senhor Bucket não se importou muito com a tristeza de Willy, o chocolateiro era um tanto possessivo com aquilo que amava e ele claramente amava Charlie.

- Eu vou tomar um banho. - O pai de Charlie anunciou. - Quer algo da rua?

A fisionomia de Willy mudou completamente. Ereto na cadeira, os ombros se alinharam como sempre ficavam quando Wonka ia falar de negócios.

- Sua esposa, como vai?

O senhor Bucket virou de costas, a mão na maçaneta da casinha carcomida. Willy sabia ser adulto, conseguia fazer perguntas pesadas como uma criança, mas tendo a mesma consciência de um homem formado. Willy era incrível, mas também machucava.

O medo de Willy WonkaOnde histórias criam vida. Descubra agora